Alemanha é o vigésimo país do mundo a aprovar o casamento gay
O Parlamento da Alemanha aprovou nesta sexta-feira (30) um projeto de lei que legaliza o casamento entre pessoas do mesmo sexo, apesar do voto contrário da chanceler Angela Merkel. A nova lei ainda tem que ser ratificada pela Câmara Alta do Parlamento para entrar em vigor.
O texto estabelece que a partir de agora o casamento pode acontecer entre "duas pessoas de sexo diferente ou do mesmo sexo". O projeto de lei foi aprovado por 393 deputados, integrantes dos três partidos de esquerda representados na Câmara Baixa do Parlamento – sociais-democratas, verdes e esquerda radical - e parte dos deputados da ala conservadora de Angela Merkel.
Entre os deputados conservadores, 226 entre 310 votaram contra o projeto. A chanceler alemã anunciou que votou "não" ao projeto de lei. "Para mim, o casamento é, segundo nossa Constituição, uma união entre um homem e uma mulher. Por isso votei contra o projeto de lei", afirmou Merkel à imprensa.
Com a aprovação dessa lei, a Alemanha fará parte do grupo de 20 países ocidentais, entre eles 13 europeus, que já legalizaram o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Berlim aprovou em 2001 uma união civil que concede os mesmos direitos que o casamento, com exceção de algumas vantagens fiscais ou no que diz respeito à adoção.
Merkel deu sinal verde à votação por razões políticas
A nova lei, que precisa ser ratificada pela Câmara Alta do Parlamento para entrar em vigor - o que deve acontecer até o final do ano - concederá também aos casais homossexuais o direito à adoção.
Em uma entrevista à imprensa na última segunda-feira (26), a chanceler liberou seus colegas de partido (o CDU - União Democrata Cristã) a votarem "como achassem melhor e de acordo com a sua consciência”.
Durante muito tempo, Merkel expressou oposição ao casamento gay para não contrariar o setor mais conservador de seu eleitorado, assim como seu partido aliado da Baviera, a União Social Cristiana (CSU), muito tradicionalista em questões sociais.
Mas ela acreditava que essa votação iria ocorrer depois das eleições legislativas de 24 de setembro, o que daria tempo para um debate dentro de seu partido (CDU), dividido sobre a questão.
Mas o partido minoritário na coalizão de governo, o Partido Social-Democrata (SPD), aproveitou a oportunidade para acelerar o processo e impôs a votação poucos dias depois da entrevista da chanceler, em uma aliança com outros dois partidos de esquerda na Câmara dos Deputados. A iniciativa do SPD, com a qual tenta ganhar peso para a campanha eleitoral contra Merkel, provocou uma crise governamental.
É realmente um reconhecimento, é emocionante", declarou à AFP Christophe Têtu, homossexual de 46 anos que mora em Berlim. Seu companheiro, Timo Strobel, 51 anos, lamentou, no entanto, "a maneira como a campanha eleitoral foi utilizada" e considera que Merkel abordou a questão com fins políticos.
A opinião pública alemã apoia o casamento entre pessoas do mesmo sexo (75% dos alemães são favoráveis, assim como 73% do eleitorado de Merkel, segundo uma pesquisa recente). Ao que tudo indica, o sinal verde dado por Merkel para a votação teve uma motivação claramente política.
Valores conservadores
Os possíveis integrantes da futura coalizão de governo, tanto de esquerda como de direita, fizeram da legalização do casamento gay uma condição prévia para qualquer aliança.
Para a chanceler, apesar da oposição pessoal à união, aprovar a lei três meses antes das eleições legislativas significa acabar com um poderoso argumento eleitoral dos rivais sociais-democratas. Agora, ela terá que lidar com a ala mais conservadora de sua família política, que se viu alijada neste processo acelerado.
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