Em quantos
aviões terei sentado desde minha longínqua adolescência até hoje? Impossível
dizer. Em contrapartida, me lembro perfeitamente do voo na Varig que me levou
pela primeira vez até Salvador logo após o carnaval do Rio em 1971. A viagem
coincidindo com a hora do almoço, inesquecível o filé mignon com gratinado de
batatas. Digno do parisiense La Coupole.
Bons tempos
aqueles quando as companhias aéreas competiam em conforto e qualidade de
serviço! Hoje somos tratados como gado, apesar dos sorrisos robotizados das
aeromoças que assistem às entradas e saídas dos passageiros. E quando chega a
bandeja com “aquilo” para comer?... Quem foi de Salvador para Lisboa na noite
do 17 de abril deste ano, com certeza não esqueceu a mais abominável, diabólica
invenção alimentar daquela viagem. Mas estou exagerando, já que bem pior foi
“aquilo” que a mesma companhia ofereceu no dia 30 de maio entre Paris e Lisboa.
Observando ao meu redor, notei que absolutamente ninguém tinha ousado tocar
“aquilo”. E logo a companhia que representa uma das mais deliciosas culinárias
da Europa! Depois de economizar nos secos e molhados, é o próprio espaço nos
assentos que nos é atribuído com torturante avareza. Deve haver algum sádico
Brilhante Ustra nos bastidores. Foi tudo calculado para anões. A parte inferior
de meus 183 centímetros só após mil contorções consegue caber entre o fundo do
assento e as costas da poltrona da frente, desde que o ocupante da dita
poltrona não resolva, por infelicidade minha, inclinar o encosto. Grito! Lamento
não ter nascido com pernas de borracha. Nos anos 50, os portugueses, que sempre
tiveram um cáustico senso de humor, afirmavam que as iniciais significavam
“Take Another Plane”. A piada continua valendo.
Fala-se a
boca fechada que a companhia foi comprada... Ops! Perdão... como o governo
lusitano não teria autorizado a venda, está sendo “controlada” por certa
companhia brasileira há mais de três anos. Afinal quem é a administração
responsável? Quando um casal em lua de mel, após ter comprado as passagens para
Lisboa, resolve mudar da classe econômica para a executiva, é informado de que,
mesmo pagando uns R$8 mil a mais, ainda terá que pagar uma multa de quase R$2
mil, não é piada de português? O casal desistiu, claro, e gastou a grana nos
melhores restaurantes de Lisboa e Porto.
Tem mais: se
você comprou passagem em abril para viajar em setembro e um imprevisto lhe
obriga a mudar as datas, a dita companhia informará que este pedido deverá ser
feito próximo à data do voo comprado. Suponho os computadores da firma serem
ainda aqueles mastodontes dos anos 50. E aí, seu Neeleman, vamos
desburrocratizar a casa?
Dimitri Ganzelevitch
A Tarde 16/11/2019
Nenhum comentário:
Postar um comentário