O diretor Terry George preferiu simplificar os fatos através de duas ferramentas de apelo universal: o triângulo amoroso entre pessoas de bom coração e o maniqueísmo extremo. Na versão hollywoodiana deste holocausto, os turcos atacam porque são tiranos sanguinários, enquanto os armênios se sacrificam por serem realmente puros, e até certo ponto ingênuos. A visão do bem contra o mal soa equivocada para representar uma das maiores tragédias do século XX, especialmente quanto os armênios são vividos pelo guatemalteca Oscar Isaac, pela canadense Charlotte Le Bon e pela iraniana Shohreh Aghdashloo.
De modo geral, o filme troca as especifidades do evento por um pastiche indistinto da luta pela sobrevivência. O imaginário da vítima contra o algoz gera fácil identificação, mas poderia ser aplicado a milhares de outras tramas. O resultado, ironicamente, deve incomodar os dois lados da questão: os turcos vão detestar se ver como vilões impiedosos, enquanto os armênios podem protestar contra o retrato paternalista desenvolvido por não-armênios. Se a intenção é dar voz aos protagonistas do genocídio, não seria fundamental fazer apelo à tudo que aquela cultura possui de mais único? Ao seu povo? Temos um elenco comprometido e imagens luxuosas, mas era esta a prioridade correta?
O cineasta prefere apelar ao heroísmo: para disputar o coração da mocinha - uma mulher que cuida dos homens quando estão feridos e carrega órfãos em seus braços - entram em cena um armênio (Isaac) e um americano (o britânico Christian Bale), representando a valentia de seus respectivos povos. Isaac tem direito a meia dúzia de cenas de coragem, incluindo resgates em alto mar, libertação de prisioneiros num trem em movimento e defesa de um colega ferido, explorado pelos turcos na guerra. Bale desafia os generais, os pequenos líderes locais e aproxima-se das cidades mais perigosas para registrar os crimes para a posteridade. Ambos são ótimos profissionais, munidos pelo amor à mesma mulher e à libertação dos oprimidos.
Para vender sua mensagem tão importante quanto genérica (“A guerra é ruim, a paz é boa”) o projeto apela ao gigantismo kitsch. São centenas de cenas, de acessórios, de figurinos, de figurantes e de cenários paradisíacos (alguns deles em tela verde) filmados em câmera aérea e gruas. A trilha sonora insiste no melodrama e na vilania, na luz e nas trevas. A iluminação busca o pôr do sol e as noites estreladas, além da textura excessivamente nítida. Todas as grandes virtudes humanas (amor, coragem, piedade, compaixão, perseverança, humildade etc.) são retratadas com tamanha autoimportância que beiram a paródia. A Promessa parte de um tema importantíssimo, merecedor de um posicionamento claro, para oferecer um filme inchado, longo, antiquado em sua forma e perigosamente genérico.
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