Angola decide expulsar sete pastores brasileiros da Universal
Grupo angolano dissidente de Edir Macedo tomou controle da Igreja Universal no país africano e foi legitimado pelo governo local. Outros pastores brasileiros também estariam sob risco de deportação.
Igreja Universal está presente em mais de cem países, com templos em pelo menos 12 nações africanas
Sete pastores evangélicos brasileiros da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola foram notificados na quinta-feira (08/04) pelo governo local que devem deixar o país em no máximo oito dias.
A ordem foi emitida pelo Serviço de Migração e Estrangeiros angolano, que cancelou os vistos de permanência dos pastores devido à "cessação da atividade eclesiástica em território nacional".
A decisão se insere em uma disputa pelo comando da Universal no país que se arrasta desde o final de 2019 e opõe um grupo de pastores ligados ao bispo Edir Macedo, fundador da instituição, a outro formado por pastores angolanos dissidentes.
O grupo ligado a Macedo afirma que mais 52 pastores brasileiros também estão sob risco de serem expulsos do país.
No ano passado, o presidente Jair Bolsonaro, que tem em Macedo um aliado, pediu ao presidente angolano, João Lourenço, garantias de proteção aos pastores brasileiros e ao patrimônio da Universal.
O embaixador do Brasil em Angola, Rafael Vidal, afirmou à Rede Record que entrou em contato com autoridades do país para tratar do visto de permanência dos pastores brasileiros e pediu um tratamento "equilibrado" à questão.
Ramo brasileiro x ramo angolano
O conflito na Igreja Universal em Angola foi deflagrado em novembro de 2019, quando cerca de 300 bispos angolanos romperam com a liderança brasileira, a quem acusaram de práticas contrárias à "realidade de Angola e da África" e de sonegação fiscal.
Em junho de 2020, os dissidentes assumiram o comando de mais de 80 templos na capital, Luanda, e nas províncias vizinhas. Em seguida, uma ata foi publicada pelo grupo no Diário Oficial do país, "formalizando" a destituição da liderança brasileira.
O ramo angolano, liderado pelo bispo Valente Bezerra Luís, afirma que a decisão de romper com a representação brasileira se deveu a práticas como exigência de vasectomia, castração química, racismo, discriminação social e abuso de autoridade, além de evasão de divisas para o exterior.
A Procuradoria-Geral da República do país abriu um processo penal contra a Universal e, em agosto de 2020, determinou o fechamento de todos os templos da Igreja no país africano. O órgão afirmou ter encontrado "indícios suficientes da prática de crimes como associação criminosa, fraude fiscal, exportação ilícita de capitais, quebra de confiança e outros atos ilegais".
Em fevereiro deste ano, a ala angolana elegeu o bispo Bezerra Luís para comandar a Universal no país, e em seguida os templos da Igreja foram reabertos. Uma comissão liderada pelo mesmo bispo também recomendou a deportação dos missionários brasileiros.
O ministro da Cultura, Turismo e Ambiente de Angola, Jomo Fortunato, afirmou em março que o Estado reconhecia a nova direção local da Universal como a responsável pela Igreja. A direção anterior, ligada a Macedo, recorreu à Justiça para cancelar a assembleia que elegeu Bezerra Luís, e o processo ainda não foi concluído.
"Golpe"
A porta-voz do ramo brasileiro da Universal no país, Ivone Teixeira, afirmou que a ordem de expulsão dos sete pastores faz parte de "um golpe" liderado "pela ala angolana da IURD [Igreja Universal do Reino de Deus], que está a ser sustentada por alguns organismos" estatais. Segundo ela, está ocorrendo "perseguição religiosa" e "xenofobia".
Teixeira disse que estão ameaçados de expulsão, além de outros 52 pastores brasileiros, mais 28 religiosos de outras nacionalidades, incluindo moçambicanos, são-tomenses, argentinos e um espanhol. Alguns deles constituíram famílias com mulheres angolanas.
"O poder executivo, no caso o INAR [Instituto Nacional para Assuntos Religiosos, vinculado ao Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente] não pode validar um processo que ainda está no fórum judicial e que ainda não foi decidido", afirmou Teixeira. "Há muita coisa a reverter a nosso favor, porque, primeiro, tomaram de assalto as igrejas, e estão a certificar um grupo de golpistas de uma forma totalmente ilegal", disse.
A direção anterior da Igreja Universal em Angola, vinculada a Macedo, nega as acusações feitas pelo ramo angolano e moveu processos judiciais contra os dissidentes. Anteriormente, ela já havia acusado autoridades judiciais angolanas de terem feito apreensões ilegais e atentarem contra a liberdade religiosa.
A Igreja Universal afirma ter 8 milhões de fiéis no Brasil e está presente em mais de cem países ao redor do mundo, com templos em pelo menos 12 nações africanas.
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