Kehinde Wiley expõe a violência contra corpos negros em Veneza
Artista faz relação entre imagens clásicas e cenas contemporâneas de dor, ressaltando a vunerabilidade e resiliência de corpos negros
O que uma pintura clássica pode falar sobre uma cena de violência recorrente na vida contemporanea? Muito, de acordo com o artista californiano Kehinde Wiley. Era 2008 quando ele começcou a série Down inspirado pela pintura O Cristo Morto na Tumba, do mestre renascentista Hans Holbein, e por pinturas e esculturas históricas de guerreiros caídos e figuras em estado de repouso. Com essas imagens em mente, Wiley representou corpos negros interpretando cenas clássicas para criar uma versão contemporânea de retratos que ressoam questões como violência, dor e morte, mas também o êxtase.
Este ano, por ocasião da 59ª Bienal de Veneza, ele retoma a série na mostra Kehinde Wiley: An Archaeology of Silence, na Fondazione Giorgio Cini, na ilha San Giorgio, retratando amigos como heróis, santos e guerreiros. Desta vez, entretanto, ele mistura as referências da arte clássica com notícias contemporâneas sobre violência da polícia americana contra jovens de cor. Os novos trabalhos retratam jovens negrxs em posições de vulnerabilidade que contam uma história de sobrevivência e resiliência.
A escala é ambiciosa (as pinturas e esculturas de bronze podem ter cerca de 6 metros!) e tem razão de ser: o artista quer ir além do mero corpóreo e entrar, com esses corpos, no reino de ícones espirituais, de mártires e santos.
Segundo o artista, a tecnologia permite que os espectadores testemunhem representações de violência contra o corpo negro que antes eram silenciadas. Daí nasce o título “arqueologia do silêncio”. Wiley afirma: “Essa é a arqueologia que estou desenterrando: o espectro da violência policial e do controle estatal sobre os corpos de jovens negros e pardos em todo o mundo”.
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