Motorista por app se recusa a levar candidata a Deusa do Ébano à sede do Ilê Aiyê: “Não levo gente de macumba”
Por Lula Bonfim
A estudante de jornalismo Caroline Xavier, de 24 anos de idade, é uma das candidatas a Deusa do Ébano no concurso Noite da Beleza Negra, tradicionalmente realizado pelo Ilê Aiyê desde 1975. Ao pedir um carro pelo aplicativo “99” às 6h58 da manhã desta sexta-feira (27) no Centro Histórico de Salvador, para chegar à sede do bloco afro no bairro da Liberdade, a jovem não imaginava que seria vítima de racismo religioso.
De acordo com o relato da própria Caroline para o Bahia Notícias, o motorista – identificado no aplicativo como “Moisés” – a foi buscar no Terreiro de Jesus e, depois de dirigir alguns metros, teria dito que não a levaria ao destino porque não conduzia pessoas do candomblé.
“Iniciou a viagem, eu saí do Terreiro de Jesus e, ainda no Pelourinho, ele perguntou para onde eu ia. Eu falei que eu ia para a sede do bloco Ilê Aiyê. Ele falou: ‘ah, meu carro está com problema’. Eu respondi que tudo bem. Ele virou e disse: ‘eu não levo gente de macumba no meu carro, não’. Aí eu peguei e falei: então pronto, você me deixa no lugar onde você me pegou”, relatou Caroline.
Ainda segundo a concorrente à Deusa do Ébano, o motorista olhou para o retrovisor logo após ela dizer que iria à Senzala do Barro Preto, sede do Ilê Aiyê. Neste momento, Caroline usava os típicos colares de contas em homenagens aos orixás, divindades do candomblé iorubá.
“Ele olhou no retrovisor e disse que o carro dele estava com problema. Depois, disse que não levaria pessoas de macumba no carro dele. Quando me deixou no Terreiro de Jesus, ele foi embora, sendo que antes havia dito que precisava parar em algum lugar, para resolver o problema do carro”, disse a estudante, expondo o que ela viu como uma contradição do motorista.
“Eu estava usando guias, dos orixás. Era a única coisa que poderia me identificar com o candomblé”, afirmou Caroline.
Depois de se perder por alguns minutos nas ruas do Centro Histórico de Salvador, o motorista retornou ao Terreiro de Jesus, deixou Caroline no mesmo local e foi embora. Com receio, a jovem estudante de 24 anos não quis pedir um outro carro no mesmo aplicativo.
“Depois disso, eu pedi para uma outra pessoa pedir um carro. Eu fiquei com medo de pedir novamente no aplicativo, depois do que aconteceu. Eu precisava chegar à Senzala do Barro Preto e fui, mas precisei de outra pessoa para chegar”, contou Caroline.
Procurada pelo Bahia Notícias, a 99 afirmou que possui uma política de “tolerância zero” com qualquer tipo de discriminação e anunciou a suspensão do motorista Moisés, acusado de racismo religioso.
“A 99 não tolera o ato de preconceito e intolerância com a vítima e estamos profundamente sensibilizados com o ocorrido com a passageira Caroline. Assim que tomamos conhecimento do caso, suspendemos o perfil do motorista e mobilizamos uma equipe para oferecer apoio à vítima com todo cuidado e respeito necessários. A companhia segue em tentativa de contato com a passageira”, afirmou a empresa.
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