domingo, 2 de julho de 2017

MAIS UM DOIS DE JULHO


Mais um Dois de Julho sob o céu da Bahia

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O Dois de Julho, data em que se comemora a independência da Bahia, um ano após a independência do Brasil, é uma das minhas festas preferidas pela sua singeleza e simplicidade, que se situam de forma muito sutil entre o cult e o kitsch.



Geralmente, pessoas de fora veem a festa como algo primitivo e até engraçado por conta da falta de sofisticação e da desordem hierárquica nas apresentações.

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Simples e até grosseiras são as roupas dos grupos que se apresentam, mas deve-se imaginar acertadamente, que apesar disso, foi despendido muito esforço para confeccioná-las. A dignidade, de forma clara e contundente , está presente no orgulho em estar presente na parada, o que é nos causa estranheza quando se trata de jovens, que ao contrário daqueles que rejeitam as tradições, desfilam seus uniformes nas fanfarras com altivez e sapatos gastos no caminhar do dia a dia.

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Cabeças erguidas, peito para fora e barriga para dentro, cabelos trançados, maquilagem e sorrisos nos rostos. As balizas que hoje são substituídas, na maioria das fanfarras, por rapazes de jeito andrógino e corpos esguios que procuram dar o seu melhor com performances especiais que o público agradecido reconhece, aplaude e grita, dando a eles para guardar momentos gloriosos de uma festa singular.

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A cabocla e o caboclo, representantes da tribos indígenas que participaram da guerra pela independência, este ano vieram enfeitados com penas brancas, um pedido de paz contra a violência, que assusta o povo de Salvador e do resto da Bahia.


As manifestações de protesto ficam quase que totalmente por conta dos grupos organizados de esquerda que tiveram como mote o “Fora Temer” e críticas às reformas previdenciárias e trabalhistas. A um rapaz que queria lhe colocar um adesivo com o slogan, um senhor já idoso recusou reclamando: “Vocês pensam que eu sou besta? Por que não falam também dos outros que já deviam estar na cadeia? “

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De fato, a corrupção ficou fora das manifestações. As militâncias se esqueceram de incluir reivindicações sobre o fim da corrupção nas suas manifestações. Ninguém lembrou dos acusados de corrupção nem tampouco dos ministros do STF Gilmar Mendes ou de Marco Aurélio Mello. O apelo contra a corrupção, tão comum nos desfiles esquerdistas, foi banida no desfile deste ano.
A exceção ficou por conta de um pequeno grupo independente que pedia pela continuidade da Lava Jato e homenageava o juiz Sérgio Moro com cartazes, aplaudido por onde passava.

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Um grupo de amigos intitulados de “Livres” e vestidos de lilás, pediam a volta do nome Aeroporto Dois de Julho para o aeroporto internacional, uma promessa de campanha d o ex-governador Jaques Wagner, que nunca se concretizou.
As fanfarras, sempre alegres, apareceram em menor número que nos anos passados e faltaram bandas escolares. Achei o cortejo pequeno. Faltaram também grupos do Recôncavo que costumavam desfilar. Os “Encourados de Pedrão”, vaqueiros do sertão vestidos de couro dos pés às cabeças, também não deram as caras. Terá sido por conta da crise econômica? 

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O desfile terminou em menos de duas horas e as pessoas ficaram esperando alguma coisa que não veio.
Na Praça da Sé, antes do cortejo chegar, os camelôs se colocavam vendendo bandeirinhas, cataventos, objetos verde e amarelo e lanches. Uma imagem poética e colorida, à qual se juntavam cachorros velhos e sarnentos, tomando sol, e mendigos dormindo debaixo das marquises do prédio que já foi o famoso Cine Excelsior.
Um casal chinês me chamou a atenção com um carrinho improvisado e vasilhas com pastel e banana real vendidos a $ 1 real.

O ESTANDARTE É DE NOSSA-SENHORA DESATADORA DE NÓS.
O PAÍS BEM PRECISA DELA!

Dei uma passada na casa do hospitaleiro franco-baiano Dimitri Ganzelevitch, que assiste ao desfile da sacada de sua casa no Santo Antônio, e que prepara lanchinhos e bebidas para as visitas, e lá encontrei a jornalista Olívia Soares, sempre emocionalmente envolvida com os eventos culturais da terra.
Depois, segui até as imediações do IFBA, no Barbalho, me recusando a crer que o desfile tinha terminado tão rapidamente. Fiquei triste e preocupada.
Afinal, um povo que festeja suas vitórias e tradições não morre nunca. E é isso que precisamos. Vida longa ao povo da Bahia e à sua festa principal!

(Fotos de Olívia Soares e de Dimitri Ganzelevitch; a da Cabocla é de Margarida Neide/A Tarde)

Um comentário:

  1. Fui uma das que lá esteve, não citamos nomes, pois para citar os nomes dos corruptos, já delatados, teríamos que fazer uma faixa de 200 m de comprimento. e talvez não coubessem os nomes de todos. Estava ao lado dos médicos com uma faixa de 2,0 x 0,80 m onde estava escrito, NasRuas Contra Corrupção. Éramos um grupo pequeno, de umas 20 pessoas, infelizmente, o povo se aquietou, sobrou, apenas, a militância da esquerda, que é paga e, muitas vezes, não faz ideia do que é que estar a defender. Vaiamos, com vontade, Jaques Wagner e Gabrielli e não aplaudimos ACM Neto. Não temos corrupto de estimação, os queremos, a todos, na cadeia.

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