quinta-feira, 6 de julho de 2017

O FORMITÓLOGO

Jorge Alberto

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Odeio insetos. Sempre os odiei, principalmente os que mais visitam nossas casas. Acabei me tornando “moscólogo” e “baratólogo”, com domínio sobre quase todas as técnicas de manter esses monstros longe, e hoje é fato raríssimo encontrar uma barata ou mosca em minha casa, embora eu reconheça que a melhor técnica de todas, a que mais uso, é manter o ambiente muito limpo.

Mas no manual de extermínio de pragas, formigas são um capítulo á parte. Formigas são chatas, não dormem, são persistentes. Se o homem tivesse metade do empenho de uma formiga, a essa altura já teríamos conquistado toda a Via láctea. E eu, desde pequeno, tenho me empenhado em combater as formigas que invadem minha casa tanto quanto Pink e Cérebro tentam dominar o mundo, mas assim como eles, só me lasco!


Ontem cheguei em casa estressado com um monte de coisas e não sei por que cargas d’água, senti uma vontade louca de tomar café. Fui até a cozinha, coloquei o bule com água pra esquentar, enquanto pegava o café solúvel e o açúcar. Quando abri o açucareiro, lá estava um exército dessas infames devorando meu açúcar. Como só uso o demerara, havia tanta formiga que era difícil saber o que era grão de açúcar e o que era formiga, com ambos quase da mesma cor. Um plano de urgência tinha que ser imediatamente executado, mas meu cérebro já pensava em algo definitivo para livrar meu açúcar dessas infelizes.


Depois de muitos minutos de luta para expulsar as invasoras do meu açúcar, tive uma ideia brilhante! Peguei um prato bem fundo, coloquei uma boa quantidade de água e rigorosamente no centro dele, posicionei o açucareiro. A sensação de vitória era indescritível! Quase um orgasmo. Fui dormir rindo comigo mesmo e das malditas formigas: “viram só quem manda nessa bagaça? Quero ver agora, filhas duma égua! Comam açúcar que eu quero ver!”


Ah, como eu estava feliz! Mais contente do que quando soube que Geddel tinha sido preso! Caí nos braços de Morpheu com gosto e dormi o sono dos bebês justos. 
Acordei hoje cedo ainda comemorando a vitória contra os monstros do açúcar e fui direto pra cozinha, pra judiar mesmo delas, confesso. De longe vibrei quando vi alguns cadáveres de formiga flutuando sobre a água do prato, mas ao me aproximar vi o que parecia ser impossível e inimaginável: um grupo de umas vinte formigas estava subindo no açucareiro! 


Caramba, elas atravessaram um oceano pra roubar meu açúcar! Não podem ser da terra, são de outro planeta! Não são formigas, são demônios aquáticos! Minha avó diria: “sinal dos tempos, meu fio...”

Preservando-se as devidas proporções, era como se eu tivesse atravessado a nado o Mar Mediterrâneo, pra roubar bolo de chocolate numa padaria da costa da Itália! Procurei em volta do açucareiro, na água, pra ver se achava algum palito de fósforo deixado por vacilo e usado como canoa, ou alguma casquinha de pão que elas tenham usado como bóia, mas nada. Não havia nada. As ordinárias atravessaram mesmo a nado.


Nessa minha luta que já dura décadas, perdi mais uma batalha. Mas vocês pensam que desisti? Qual nada! Sou mais persistente do que o Coiote perseguindo o Papa Léguas! Amanhã cedinho tô colado no IBAMA. 


Só saio de lá com uma autorização pra criar em casa um casal de tamanduás. Oxe!!!!!

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