quinta-feira, 1 de março de 2018

A OMISSÃO DO IPHAN

Comerciante denuncia agressão de policial civil no Centro Histórico

Ameaça envolve denúncia de mudanças estruturais em prédio tombado; Iphan investiga
Era mais um dia de trabalho do comerciante João Batista Cabral, 57 anos, em seu brechó, o Brechó Descobertas, localizado na Rua do Carmo, no Santo Antônio Além do Carmo, Centro Histórico de Salvador. Por volta das 14h da última quarta-feira (21), no entanto, ele foi supreendido por um policial civil, sem farda e identificação, mas portando uma arma de fogo.
De acordo com João, o agente, que é perito técnico do Departamento de Polícia Técnica (DPT), estava irritado com uma denúncia feita pelo comerciante ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) sobre obras irregulares em um casarão ao lado do seu estabelecimento.
 
Ainda de acordo com João, o responsável pelas intervenções na residência número 17 é o próprio policial, que adquiriu o terceiro andar do prédio há pouco mais de dois meses. Desde que passou a morar na residência, conta o comerciante, o policial começou uma intervenção no telhado e a construção de uma chaminé. 
Preocupado com as mudanças que, para João, "desconfiguram o bairro", ele decidiu então formalizar a denúncia na semana passada ao Iphan.
"Acredito que a fiscalização esteve lá e ele, irritado, resolveu vir aqui. Ele entrou com arma em punho, dizendo que iria me matar e que eu queria acabar com a vida dele", conta o comerciante, que também chegou a ser ameaçado de morte.
Ao CORREIO, a assessoria do Iphan confirmou que recebeu a denúncia e que já tomou providências. "A denúncia foi feita ao Iphan e já foi realizada vistoria no local. Está sendo elaborado um relatório sobre a situação e serão adotadas as medidas administrativas cabíveis para o caso", declarou o órgão, em nota.


Além de passar por intervenção, telhado recebeu uma chaminé (Foto: Reprodução/CORREIO)

Além de insultar o comerciante, o policial, com a arma, agrediu João no braço esquerdo. A agressão foi registrada na Corregedoria da Polícia Civil no mesmo dia. O caso também foi registrado na 1ª Delegacia, nos Barris, e foi feito exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IML).
O CORREIO entrou em contato com a Polícia Civil, para saber informações sobre o processo envolvendo o agente, mas a assessoria disse que só seria possível após a solicitação de uma pesquisa na Corregedoria, o que demanda maior prazo para atender ao pedido da reportagem.
As construções irregulares, ainda de acordo com o comerciante, estão ficando mais frequentes no Centro Histórico. Inclusive, feito por moradores mais antigos. "Se não parar com isso, daqui a 10 anos não vamos ter mais nada. Existe cada aberração, cada construção sendo feita que chega a doer o coração. A gente precisa brigar pelo nosso Centro Histórico", defende. O policial civil não foi localizado para comentar a situação.

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