Quase na hora de embarcar para Salvador em Congonhas (SP), achei uma carteira cheia de documentos, um cartão de embarque da Gol para Recife vencido, e mais a quantia de R$775,00. Peguei a grana, entreguei os documentos para o agente de segurança do aeroporto e antes fotografei a identidade da pessoa. No dia seguinte liguei para a Gol e expliquei a situação. Pedi que a localizassem pelo horário do voo que vi no cartão, que a informassem que seus documentos estavam no achados e perdidos e que eu estava com o seu dinheiro em mãos para devolve-la via depósito bancário. A atendente da Gol disse que era um "caso atípico", mas ia tentar falar com a pessoa. Eu reagi e disse que era obrigação deles pois tratava-se de uma cliente que perdeu documentos antes do embarque. Informei meu celular e aguardei.
À noite me ligou uma senhora dizendo: Você que é o meu anjo? Eu disse que não. Que estava apenas devolvendo o que era dela. Ela retrucou que eu era uma alma nobre. Eu reafirmei que um gesto como este deveria ser corriqueiro. Devolver documentos e dinheiro perdidos de um concidadão do seu país (ou não) é apenas um ato de respeito e cidadania. Não exatamente de honestidade. Ela agradeceu muito. Hoje, já com seus dados bancários depositei os R$775,00 dela. Mandei o comprovante pelo zap. Ela mais que agradecida me ligou para dizer que já tinha recuperado todos os seus documentos e que não precisava ter passado nenhum comprovante do depósito. Sabia pela minha atitude que o dinheiro estaria lá. Concluiu me intitulando como "irmão de alma". Que bom; ganhei uma nova amiga.
Detive-me na sequência com uma reportagem na TV, onde um senhor pobre do interior do estado, com problemas de saúde, havia perdido o saque que tinha feito de seu auxílio-doença. O dinheiro foi achado por um pedreiro desempregado, que o devolveu sem pestanejar. A reportagem termina com os dois abraçados e sorridentes. Encerro achando que não deveria ser motivo de manchete algo que deveria estar naturalmente em nós.
A decência de jamais desejar o que quer que seja de outra pessoa ou impregnar-se de espírito articulado para a ganância ou para a vantagem. É de causar comoção os "elogios" que recebi: Da moça da Gol que disse nunca ter atendido um caso como este; da pessoa que perdeu os documentos e o dinheiro e da moça do caixa que perguntou se queria que eu identificasse o depósito. Eu disse que não; que era apenas a devolução de um dinheiro que eu tinha achado, etc.
O que deveria ser normal passa a ser exceção.
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