“O brasileiro sabe ser idiota. É uma especialidade nossa.
Nesta quinta-feira (5), fomos jantar em um restaurante no centro de Kazan e oito brasileiros se instalaram em uma mesa ao lado da nossa. Eram, todos, rapazes entre 20 e 35 anos de idade, fortinhos, de bermudas, alguns com tatuagens desenhadas nos braços ou nas panturrilhas, muitos com a camisa da Seleção, um com a camisa do Palmeiras. Instalaram-se, pediram comida e refrigerantes e então um deles sacou de uma bolsa uma caixa de som parecida com um rocambole. Colocou aquilo sobre a mesa. E ligou a música em alto volume. Bem alto. A melodia de alguma composição sertaneja encheu o ambiente como uma nuvem de gafanhotos.
Os brasileiros começaram a cantar. Por Deus, cantavam. Os clientes das outras mesas olhavam, perplexos. Havia mais brasileiros ali adiante. Esses estavam gostando da coisa. Mas os estrangeiros, perceptivelmente, não.
O restaurante já tinha música ambiente. Alguém aumentou o volume da música do restaurante, decerto para constranger os brasileiros. Mas a maior qualidade do chato é ser inconstrangível — ele sempre acha que está agradando. Como reação, os brasileiros inconstrangíveis aumentaram ainda mais o volume da música sertaneja, e quem ficou constrangido foi o pessoal do restaurante, que desligou o som ambiente.
Os brasileiros começaram a cantar. Por Deus, cantavam. Os clientes das outras mesas olhavam, perplexos. Havia mais brasileiros ali adiante. Esses estavam gostando da coisa. Mas os estrangeiros, perceptivelmente, não.
O restaurante já tinha música ambiente. Alguém aumentou o volume da música do restaurante, decerto para constranger os brasileiros. Mas a maior qualidade do chato é ser inconstrangível — ele sempre acha que está agradando. Como reação, os brasileiros inconstrangíveis aumentaram ainda mais o volume da música sertaneja, e quem ficou constrangido foi o pessoal do restaurante, que desligou o som ambiente.
Agora os brasileiros sentiam-se donos do lugar. Começaram a cantar as músicas da torcida, "ôôôô, cinquenta e oito foi Pelé…". E aí… Subiram nas cadeiras! Um tirou a camisa e começou a pular. E algumas brasileiras que estavam em mesas próximas levantaram-se e cantaram e pularam também.
As garçonetes não sabiam o que fazer. Pediam que os brasileiros descessem das cadeiras, mas eles não atendiam. Seguiam cantando aos gritos: "Noventa e quatro Romariô!".
Felizmente, minha conta veio. Saí do restaurante. Ganhei a rua, aliviado. Caminhei por um belo calçadão que leva ao meu hotel e, no trajeto, encontrei mais brasileiros. Eles gritavam e cantavam e faziam batucadas. Até aí, tudo bem, mas alguns, quando viam jovens russas, simplesmente as atacavam. Sério. Essa é a palavra: atacavam. Eles cercavam as meninas e investiam sobre elas. Primeiro, as russas riam, pensando que era só uma brincadeira boba. Mas, diante da insistência, elas acabavam percebendo que os brasileiros queriam mesmo agarrá-las ou beijá-las ou sabe-se lá o quê, e os afastavam com as mãos e diziam que não. Niet! Niet! Só que eles não desistiam, ficavam em volta delas, três, quatro, cinco homens em cima de uma ou duas meninas, até que guardas russos acudiam as moças e enxotavam os brasileiros como se fossem cachorros, e eles eram de fato cachorros.
Esses rapazes, eles certamente foram educados em boas escolas. Não tem brasileiro pobre passeando na Rússia. Eles fazem parte da elite nacional. São a juventude dourada do país. Como é que podem se comportar desta maneira? Será que nunca tiveram um pai ou uma mãe para lhes dizer que ser espaçoso é ser inconveniente? Eles se acham alegres, eles se acham divertidos. Por favor! São apenas grosseiros e obscenos.
Eis o que de melhor sai das universidades brasileiras. O crème de la crème da raça. Futuros líderes, futuros governantes. O futuro do país. Nada além de rematados idiotas. Se é desta juventude que dependemos, nem mil Lava-Jatos salvam o Brasil.”
06/07/2018 - 06h00min
DAVID COIMBRA
Direto de Kazan
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