O ser humano é um bicho inseguro e predador. O que mais o
distancia dos quadrúpedes e outros mamíferos é o sonho. Sonha em voar. Relativizemos:
voar, sim, mas muito mais no firmamento social que na estratosfera. Vejam, por exemplo,
o Baile Bahia Real Masqué - desfile de vênias e peruas - que a Primeira Dama do
Estado da Bahia patrocinou antes do carnaval no Palácio da Aclamação sob o
guarda-chuva das Voluntárias Sociais. Haja maiúsculas! É o exemplo recente mais
flagrante do desmedido desejo de voar. Pelas fotografias (pouco) divulgadas,
esse “faz-de-conta” pretendia lembrar antigos fastos. Neste mesmo cenário
Madame Donata fora taxada de saudosista dos tempos da escravatura e obrigada a
renunciar da diretoria da Vogue. Os senhores de alma vermelha, para manter a
imagem VIP, usaram e abusaram de smokings e ternos mal cortados, sempre na cor
urubu, exceto um curiosíssimo azul elétrico.
Ah! Se fosse o Bal de
la Rose em Mônaco! Com nosso calor tropical, haveria uma revoada de smokings
brancos, leves e descontraídos. Evidente que correria então, para os que não têm
traquejo, e são muitos, o perigo de serem confundidos com o serviçal. Para a
maioria dos convidados (R$800 por cabeça), recém-chegados da cidade baixa, não
houve tempo de aprender a evoluir graciosamente pelos dourados salões dos donos
de engenho.
Ao eventual leitor que poderia taxar de esnobeiras estas
observações, já vou avisando: o problema é muito mais lá embaixo e à esquerda,
já que se trata de um público macaqueando exatamente a sociedade que tanto, e
com toda razão, contesta.
Então, você, que nasceu e cresceu na Baixa do Fiscal, lutou
pelo Sindicato dos Petroleiros e levou anos para subir a encosta, se amostrar
de smoking com a patroa de longo preto e plumas idem na cabeça, fazia parte de
seu projeto de vida? Me perdoe, mas acho isso muito redutor para quem apregoa
uma ideologia tão engajada. As digníssimas Voluntárias Sociais teriam recolhido
muito mais grana fazendo um baita baile bem povão na arena com nome de cerveja.
Dez mil ou mais foliões pagando R$50,00 cada, sem contar as bebidas e
salgadinhos, ia dar um belo resultado para os sem-teto, os sem-saúde, os
sem-terra e os sem-penduricalhos.
Vocês usam black-tie e adoram um palácio, mas não sabem usar.
Vejam o Palácio Rio Branco que hospedava a inútil Bahiatursa, hoje exilada no
CAB, bem longe dos turistas. Vão fazer o quê com o bolo de casamento da Praça
Tomé de Souza? Gente... Os franceses, na época de François Mitterand, inventaram
o termo “Gauche Caviar”, termo que se adapta perfeitamente a muitos governos
cujo lema é “Faça o que eu digo, não o que eu faço”.
Posso confessar algo? Sou
muito mais Pepe Mujica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário