segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

PERMITA-ME DIVAGAR UM POUCO


Acabo de voltar da Cidade Baixa. Subi pelo plano inclinado do Pilar que agora funciona 24 horas. Como mudou o Comércio desde que fizeram aquela necessária adaptação dos galpões do porto! Agora sim podemos nos equiparar a Buenos-Aires, Belém e Barcelona, disfrutar plenamente da vista da baía e curtir o movimento das diversas embarcações, desde os pesados cargueiros até as leves canoas dos competidores de remo.

Jantei com um casal amigo no Armazém 4. O churrasco do Boi Preto mantém sua reputação e o cenário de fazenda gaúcha nos permitiu viajar por quase duas gostosas horas. Aproveitamos para visitar o fabuloso Museu de Cultura Popular pelo qual briguei por anos. Não deixa nada a desejar ao Museu do Homem do Nordeste nem ao Pavilhão da Criatividade Darcy Ribeiro. A Bahia merecia. Meus amigos tiveram assim a oportunidade de apreciar as modestas peças que doei antes da abertura. Do lado de fora, numa esplanada entupida de notívagos, corriam pingas e cervejas enquanto um trio nordestino lembrava os sucessos do imortal Luís Gonzaga. 

Contemplamos um imenso cruzeiro zarpar, mais iluminado que árvore de Natal. Impossível observar o fellinesco momento sem alguém mencionar E la Nave Va. Ao ver a festa permanente que é hoje o Comércio, não resta dúvida de que os passageiros debruçados nos muitos decks ficarão apaixonados pela cidade.

Próxima semana, voltaremos ao porto para a abertura no Armazém 3 da grande feira de artesanato que, pelo que afirmam, será mais importante que a Fenahall de Recife onde descobri tantos artistas de talento.

Já o Armazém 2, mais popular, abriga um conjunto de restaurantes e botecos onde se podem degustar cozidos, moquecas e sarapatel enquanto reina o melhor do samba baiano.

Quem precisa completar a decoração do lar, que entre no 7 onde galerias de arte, antiquários e várias marcas de design oferecem uma escolha sempre renovada. No 5 montaram o mágico Museu do Brinquedo com as coleções de David Glat e Sálua Chequer.

A Cidade Baixa mudou, sim. Hotéis alternam com bancos e moradias populares. Uma feira de frutas e verduras é instalada, conforme o dia, em diferentes pontos do Comércio, desde a Conceição da Praia até a Rua do Pilar. O Mercado do Ouro foi recuperado, respeitando os varejistas tradicionais, e o Trapiche Barnabé, joia salva por um francês teimoso, é hoje uma mistura de centro cultural polivalente e um interessante museu da história da escravatura no porto de Salvador.

Do terminal da Companhia de Navegação saem catamarãs a intervalos regulares para as ilhas de Maré e do Frade e para o Museu Wanderley Pinho onde podemos finalmente admirar o magnífico legado de Frans Krajsberg.

Os sonhadores transformam o mundo. Não é mesmo, Ruy Espinheira, meu amigo?

 Dimitri Ganzelevitch

A Tarde, sábado 20 de janeiro 2024

 

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