terça-feira, 26 de março de 2024

UMA OUTRA CACHOEIRA


Para um estado que pretende orgulhar-se de seu passado, triste é constatar o violento desmentido da realidade.

Entre tantos abandonos, a cidade de Cachoeira é emblemática. Esporadicamente são restaurados dois imóveis enquanto três outros viram escombros.

A Igreja da Ordem Terceira do Carmo fecha em fins de semana e feriados. A vizinha pousada do Convento de Carmo é um flagrante de amadorismo. Decoração aleatória, pátio e piscina sem charme e restaurante tristinho que remete aos anos 70. Nem a maniçoba é lá estas brastemps. Aliás, se quiser maniçoba, carro-chefe da gastronomia local, não precisa ir tão longe. Melhor ficar em Salvador e ir ao D´Veneta. Na cidade inteira, a poluição sonora impera. Nem de noite o viajante terá sossego.

Numa sexta-feira normal tentei telefonar para a Fundação Hansen-Bahia, através do 75 3438-3442, informação da internet. “Este número não existe”. Nem sei se a própria fundação ainda existe. Provavelmente deve ter atividades esporádicas por total falta de incentivos. Quanto ao importante trabalho do Roque Araújo – assisti à inauguração do Museu do Cinema em 2012 – tão pouco consigo informações pela internet. Parece que foi despejado, como se descartável fosse, para dar espaço a outra entidade que bem poderia ser instalada em outro endereço. Imóveis vazios é o que menos falta na cidade heroica.

Costumo afirmar que esta cidade tão charmosa apesar do desprezo geral poderia ser nossa Paraty. Tivesse meia dúzia de pousadas confortáveis, dois ou três bons restaurantes com serviço profissional e outra meia dúzia de conceituadas galerias de arte, um festival de música sacra ou barroca e a restauração séria de tão excepcional património sob o olhar vigilante do IPHAN, a qualidade de vida atrairia rebanhos de turistas e amantes da cultura.

Temos hoje uma prefeita dinâmica que venceu mil obstáculos e até ameaças de morte. Não é difícil adivinhar a total falta de apoio do governo estadual, além dos costumeiros belos discursos e promessas. Da rua Direita de Santo Antônio vai meu abraço, Dona Eliana!

Posso fazer umas sugestões? Aproveite a prazerosa beira-rio, transformando-a em passeio exclusivo para pedestres, com algumas esplanadas para aproveitar a sedutora vista sobre o Paraguaçu e São Felix saboreando um sorvete, uma caipirinha, um abará. Por favor, nada de paredão, nem mesmo caixa de som. Vez ou outra uma voz, um violão, tudo acústico. Só e mais nada. A sociedade reaprenderá que o silêncio também pode ser música. Não faltará quem reclame, mas a repercussão desta nova atitude será nacional.

E capriche na entrada da cidade pintando o casario, tirando qualquer resquício de lixo e proibindo os outdoors que tanto poluem nossas mais belas paisagens.

Cachoeira merece.

 

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