quinta-feira, 24 de novembro de 2016

A ARTE NÃO SE SUBMETE


Fiquei perplexo, há alguns anos, quando soube que o Sebrae tentou, no polo ceramista de Maragogipinho, que os oleiros adotassem nas peças a estética marajoara. Sugeriram que deixassem de decorar potes, moringas e panelas com flores pintadas com tauá e tabatinga, pigmentos obtidos com o próprio barro. O insucesso não foi completo, pois há talhas e outras peças que, feitas em Maragogipinho, são decoradas com arranjos geométricos como é comum às peças da Ilha de Marajó, no Pará.

Não fora a primeira tentativa do Estado e/ou parceiros submeter os artistas daquele multicentenário espaço de criação ao gosto alienígena. Ceder um pouquinho e resistir muito parece ser a estratégia de lá e essa atitude eterniza peças como o boibilha. Com a extinção do Instituto de Artesanato Visconde de Cairu pelo Governo do Estado da Bahia, essa e outras histórias da arte popular perderam o registro. A propósito, onde foi armazenada a documentação desse órgão que integrava a Secretaria do Trabalho?

Artesanato é expressão da alma do povo. A criação de uma peça nova é festejada como obra da inteligência do autor e isso é motivo de orgulho para o grupo. O reconhecimento é necessário. Vi, em São Paulo, numa exposição de design brasileiro, um colorido carrinho de café (foto 1) e, na ocasião, lembrei que o marchant (negociante de arte) Dimitri Ganzelevitch (foto 2) 
elevara esse equipamento do comércio ambulante da Cidade do Salvador à condição de objeto de arte.

No dia 29 de novembro (terça-feira), a partir das 14h, Dimitri, ao lado de outros palestrantes convidados, falará, na mesa redonda “O quê que a Bahia tinha!?”, a respeito de arte popular e o quanto é indispensável no processo de criação artística no mundo.

O evento, promovido em parceria com a Associação Bahiana de Imprensa (ABI), será no auditório do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB).
É aberto ao público e dispensa inscrição.

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