Emanuela Carvalho
Achei que Deus estava me castigando. Havia acabado de chegar da Europa, morando dois anos numa cidade linda, calma e agora estava numa realidade completamente diferente de tudo o que eu conhecia.
Chorava, pensava em desistir... Mas fui ficando e aprendendo a conviver com a realidade absurda do tráfico, da pobreza, da falta de investimento do poder público.
Hoje, sem demagogia e sem vergonha de assumir a minha soberba, na época movida pelo medo do desconhecido, agradeço a Deus pela oportunidade de mudar o meu olhar sobre a vida, sobre as pessoas, principalmente sobre mim mesma.
Ontem uma mãe me disse que o seu benefício do bolsa família havia sido cancelado, com a justificativa de que a criança era ausente na escola. A criança pouco falta, é ótima aluna, mas o que me doeu foi saber que ela recebe R$35,00 do governo (ou recebia), porque a criança recebe a pensão do pai de R$150,00.
Num cruzamento de dados, o governo chegou a esse valor. E agora suspendeu o pagamento.
Eu não consigo evitar... Sempre me coloco no lugar das pessoas... Penso em como seria, desempregada, cuidar de minha filha com R$180,00.
Penso tanto, que a tristeza chega e eu preciso me forçar a parar de pensar.
Não sei o que eu diria sobre isso há dois anos, antes de conviver diariamente com a realidade dessas pessoas, mas hoje, eu tenho certeza, isso não é vida... É sobrevida.
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