...UM BOM NEGÓCIO
Eleonora Ramos
Jornalista
noraramos@uol.com.br
Nunca tinha visto ou ouvido a Arlete Honorina Hilu , a traficante de
crianças mais conhecida entre os muitos que atuaram nas décadas de 80 e 90, através
de adoções simuladas de milhares de crianças.
O programa Repórter em Ação, da TV Record, de março passado, reprisado recentemente, fez uma longa entrevista
com Arlete, à beira da piscina de sua bela casa em Serrinhas, Santa Catarina. Vive
de rendas, saudável e bem conservada para os seus 70 anos. A reportagem,
disponível no site da emissora, mostrou personagens, vitímas e criminosos, do
intenso tráfico de crianças no estado, além de documentos, provas e outras
entrevistas.
Mas o depoimento de Arlete Hilu dispensa imagens e palavras. Ela
resume, com sua própria história, como se configura o tráfico de crianças no Brasil.
Profissional da comercialização de crianças, Arlete intermediou um sem número
de adoções irregulares ou apenas simulacros de adoção, prática finalmente reconhecida
como modalidade do crime de tráfico de pessoas.
A lucrativa atividade, organizada
a partir dos anos 80, envolve a depender
do caso, juízes e promotores, enfermeiros, conselheiros tutelares,
médicos, assistentes sociais, tradutores e os executores, que centralizam todas
as etapas, desde identificar mulheres grávidas e bebês disponíveis, negociar,
transportar, contratar e pagar cúmplices, comprar documentos e testemunhas falsos.
Nessa função Arlete Hilu é uma expert
de grande experiência. Foram anos “se arriscando” como diz ela, inclusive levando
bebês para outros países, atendendo os que podiam pagar pelo delivery. Cita nome e sobrenome de
juízes e comparsas, a maioria mortos ou devidamente inocentados pela Justiça. Dá
risada sobre os dois anos em que ficou presa. “Foi divertido”.
E, diante da câmera, declara, em
outubro de 2016, que continua na ativa, há poucos dias fizera a entrega de mais
um bebê. Quantos teriam sido nos últimos trinta anos? Admite que é traficante, mas “de criança,
pior se fosse de droga”. Crianças, drogas, armas, tudo mercadoria. Para Arlete o
crime compensou e compensa.
Para ela e outros, como o padre italiano Lucca di Nuzzo, seu
equivalente na Bahia, que, na mesma época, intermediou centenas de adoções internacionais
no sertão baiano, a partir da cidade de Serrinha, onde morava e tinha um
colégio.
Expulso da Igreja, ficou preso por 27 dias e hoje vive muito bem em
Salvador, como advogado especializado justamente em processos de adoção.
Traficantes impunes com crimes prescritos, comprovam que ainda vale a pena
investir no negócio.
“Tudo que fiz foi
para o bem dessas crianças. Iam viver aqui na miséria e tiveram de tudo, roupa,
escola. E muitos ainda vêm com essa
bobagem de procurar mãe biológica”.
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