Editorial “A TARDE”
28/12/2016
A seca é um fenômeno
que castiga o Nordeste brasileiro há pelo menos 20 mil anos, quando se
encerrava a era glacial. Os fenômenos que a originam são estudados desde 1877,
após uma seca que durou três anos, matando centenas de milhares de nordestinos,
um flagelo social. A região é castigada por estiagens severas, mas é preciso
deixar claro que no Nordeste não há falta de água, há escassez de chuvas, em
alguns pontos, e má gerenciamento em quase todos os outros.
O
que inexiste, mesmo, é vontade por parte dos governantes. O que há de sobra são
políticos que se aproveitam do fenômeno climático e de suas consequências para
tirar proveito, iludir o sertanejo, capturar o seu voto e, como contrapartida,
condená-lo à penúria.
Há
32 anos se sabe haver nas áreas mais afetadas 220 bilhões de metros cúbicos de
água, detectados pelo Projeto Radam, do Ministério das Minas e Energia, sendo
85 bilhões de metros cúbicos na superfície e outros 120 bilhões em rochas
sedimentares, um lençol freático que se pode alcançar com relativa facilidade.
Apenas um exemplo: o Piauí possui um reservatório hídrico subterrâneo maior que
o volume de água da Baía de Guanabara.
Nem
mesmo se pode alegar falta de chuvas como uma causa maior. No Polígono das
Secas chove até 700 milímetros por ano. Isso é sete vezes mais que na
Califórnia, estado americano que é um dos maiores produtores agrícolas do
planeta.
Então,
por que o nordestino ainda passa tanta sede? Por que, ano após ano, vê sua
criação morrendo à míngua, seu plantio esturricar? Porque anunciar soluções
para mitigar esse problema rende votos.
Há,
portanto, motivos de sobra para não se encarar com entusiasmo a reunião de
ontem entre o presidente Michel Temer e governadores do Nordeste, para mais uma
vez serem anunciados programas de combate aos efeitos da estiagem. São mais
paliativos, mais recursos distribuídos sem a contrapartida da efetividade das
ações propostas.
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