Quanto ganha o arquiteto no Brasil?
O website Nexo publicou este semana a matéria Quanto ganha um profissional como você pelo Brasil que apresenta um quadro interativo que mostra a faixa de rendimento médio em diversas profissões, divididas por gênero, etnia, faixa etária, nível de escolaridade e região do país.
Ao selecionar a profissão e as subcategorias, uma série de gráficos é gerada que permite comparar as diferenças de rendimento mensal na área de atuação. Para Arquiteto e Urbanista, sem distinguir as subcategorias, o salário mensal médio no Brasil é de R$ 6.489,00.
Os valores resultantes são atualizados automaticamente ao selecionarmos alguns dos parâmetros. Por exemplo, uma rápida exploração do quadro interativo permite notar que as regiões que melhor remuneram os arquitetos são o Sudeste (R$ 6.837) e o Centro-Oeste (R$ 6.317), seguidos pelo Nordeste (R$ 5.931) e Sul (R$ 5.550). A região Norte é onde os salários são os mais baixos, com a média de (R$ 4.765).
A diferença de renda média entre arquitetos e arquitetas também é significativa. Sem distinguir entre as regiões, o salário médio dos arquitetos é de R$ 6.822, ao passo que a renda das arquitetas é de R$ 6.255, o que mostra uma diferença de aproximadamente 9% na remuneração média mensal. Na região Sudeste essa diferença é ainda maior; homens ganham em média R$ 7.334 enquanto que as mulheres recebem R$ 6.489, isto é, uma diferença de aproximadamente 13% no salário.
Entre etnias as diferenças são ainda mais gritantes. Sem distinção de gênero, arquitetas e arquitetos brancos ganham, em média, R$ 6.727, ao passo que negros tem renda mensal de R$ 4.853. O sistema interativo do website permite selecionar ainda pardos (R$ 6.197), indígenas (R$ 9.022) e ocidentais (R$ 5.736)
É possível, ainda, buscar os dados divididos por faixa etária. Como esperado, a remuneração é, grosso modo, maior quanto mais anos de experiência profissional tem o arquiteto ou arquiteta. Entre os 21-25 anos o salário médio é de R$ 3.353, ao passo que entre profissionais com mais de 55 anos o rendimento mensal é de R$ 10.520.
No entanto, talvez a informação mais interessante da pesquisa esteja no pequeno texto logo abaixo do valor em negrito que representa o salário médio. Diz o website:
O valor acima representa o salário médio inicial para a família de ocupação CBO 2141 - Arquitetos e urbanistas com o perfil escolhido nesta consulta. Foi calculado com base nas 5673 contratações observadas nessa área entre nov/2015 e out/2016.
O número de contratações (5.673) é referente a todos os arquitetos e arquitetas, sem distinção de idade, gênero, nível de escolaridade, região ou etnia. Em um universo de mais de cem mil profissionais, em que, anualmente, entram no mercado cerca de R$ 6.500 novos arquitetos, 5.673 não é um valor tão expressivo, porém, certamente poderia servir de base para um estudo sem nenhuma espécie de comprometimento legal.
O que mais surpreende, no entanto, é que os valores registrados por essas mais de cinco mil contratações não corresponde à realidade dos arquitetos e arquitetas, e isso ocorre em função de um simples fato: poucos profissionais são realmente "contratados" no mercado da arquitetura.
O Sindicato dos Arquitetos do Estado de São Paulo (SASP) determina que o piso salarial vigente em 2016, com base no salário mínimo de R$ 880,00 é de 6 salários mínimos (R$ 5.280,00) para jornadas de 6 horas diárias, 7,25 salários mínimos (R$ 6.380,00) para jornadas de 7 horas diárias, e 8,5 salários mínimos (R$ 7.480,00) para jornadas de 8 horas diárias. Os dados oferecidos pelo Nexo foram levantados com base em jornadas de 8 horas diárias e mesmo "contratados", trabalhando 8 horas por dia, os arquitetos não recebem o piso salarial.
Há algo de errado nisso!
Há pouco mais de uma semana, comemoramos o Dia do Arquiteto e Urbanista. Mas, olhando estas cifras -- ou simplesmente olhando os colegas de profissão à nossa volta -- o que há para se comemorar? Não ofereceremos respostas a essa questão nesse artigo, apenas apontamos uma lacuna que, certamente, merece maior atenção por parte dos profissionais "contratados" e não contratados, não apenas por envolver a remuneração em si -- que é, evidentemente importantíssima -- mas por dizer algo sobre como o trabalho das arquitetas e arquitetos é valorizado no Brasil.
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