sábado, 31 de dezembro de 2016

LIVROS, MEUS AMIGOS...





Como poderia terminar o ano com críticas mal humoradas? Amanhã nasce um novo dia, novos amores, cem projetos, esperanças mil. Prefiro lhes falar da sala mais bonita de minha casa: a biblioteca cujas quatro janelas dão sobre a rua colorida. 











Dois grandes quadros datados de 1906 e assinados pelo português Domingos Costa, um forro pintado por uma amiga inglesa, um curioso lustre da Baviera do século XIX em forma de sereia e.... livros. 

Está aqui a herança de quatro gerações, edições de mais de três séculos, em vários idiomas sobre os mais variados temas. Algumas centenas. Pouca coisa, ridícula até comparado ao José Mindlin, mas esta é minha riqueza afetiva. Se li todos? Claro que não, como também muitos dos que li durante oito décadas não estão nestas prateleiras. 

Vamos passear? Aqui está um livro persa do século XVIII, preciosa encadernação, escrito a mão, com miniaturas eróticas, bem longe do Estado Islâmico... Este, com capa de pergaminho, é um guia de Roma em francês com a data de MDCLXXXVI. Tem as distâncias entre todas as igrejas, a lista de todos os monumentos romanos e a lista dos papas. Não tem Lonely Planet que se compare! 





“La História de uma vivienda para hacer uma ofrenda al santo Tecuil” é mais recente: 1981. Mas feito manualmente por índios mexicanos sobre papel amate, é uma raridade. A obra completa de Fernando Sabino, com dedicatória. Gosto destas crônicas, verdes lagoas onde mergulho deliciosamente. 

Escrito em letras garrafais: “Biblioteca esta ornat libros” e “Sed libri non ornant bibliothecam”, definição que peguei num convento alemão. Não me desfiz de quatro obras de Mishima, muito mal traduzidas para o francês, por respeito ao magnífico escritor japonês. 

Uma prateleira carrega um monte de dicionários. Sou fã de dicionários. Já tivemos a Encyclopédie Universelle original e completa, uns quatorze volumes, mas foi vendida – mal – por minha mãe, num momento de grande aperto.  

Primeira edição de “Le musée imaginaire” e “ Les voix du silence” de André Malraux, hoje muito cobiçados, foram por mim comprados com dificuldade de estudante aos vinte anos. João Cabral de Mello Neto que tanto me deslumbrou quando, em 66, assisti em Lisboa a Morte e Vida Severina pela PUC. Cervantes, que saboreio aos poucos. Livros de minha infância. Recebia sempre belos livros, com ilustrações sedutoras, o que muito me incentivou a ler. Livros de receitas de minha avó materna, que uso vez ou outra. 


Muito sobre fotografia, arquitetura, arte, memória. No forro, à volta da sala, esta afirmação de Flaubert “Ne lisez pas comme les enfants lisent, pour vous amuser, ni comme les ambitieux lisent, pour vous instruir. Non, lisez pour vivre”

Para que o ano iniciando seja mais feliz: leia um bom livro. Pode mudar sua vida

Um comentário:

  1. Uma casa antiga com ares históricos, pinturas na parede e livros... livros a mancheia como disse o poeta... Felicidades, caro Dimitri Ganzelevitch!

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