FERNANDO COELHO
O pós-Natal me ataca. Sou o pós-Fernando. O pós-poeta. O pós-brasileiro. Sentado em Nova Iorque, a minha alma, infelizmente, fixa-se no Brasil. Mantem-se, inviolável, na Bahia. Somos um país raro. Um dos mais belos do planeta.
E rico em assassinatos.
De pessoas, mulheres e crianças. E com requintes de grandeza natural: matamos rios e lagoas. Matamos o rio Doce. Estamos matando o São Francisco. Matamos a Lagoa do Abaeté em Salvador.
Por saudade, permaneço e publico um pequeno texto a uma nova denúncia de desmando patrimonial em Salvador, feita por Dimitri Ganzelevitch. Dimitri, cada postagem sua é uma porrada em minha consciência.
Leva-me a uma frase que Carybé me disse há mais de duas décadas: "Fernando, imagino como vai ser a cidade cheia de paliteiros, altos, e todos abandonados. Esta Bahia que amamos vai ser extinta por falta de sensibilidade".
É o que se vê hoje. Prefeitos e vereadores, desprezíveis, mas aplaudidos pelo povo, como em todo o país, aproveitam as oportunidades, celebridades efêmeras, mas bons negociantes do dinheiro público, sem projetos de preservação, sem cultura humanista, sem respeito pelo nosso povo baiano, tão sofrido, tão humilhado, tão desviado do seu futuro e, mesmo assim, crente em homens ruins, como dizia Antônio Maria, os que comem cebola crua.
Políticos que roubam, esculhambam os destinos da cidade, enchem os bolsos, empregaram as famílias, usam e abusam do poder que lhes damos nas urnas, continuam mandando, enxovalhando a primeira capital do Brasil, como se deles fosse uma capitania hereditária.
Elegemos os piores, gostamos dos piores, aplaudimos os mais toscos e desonestos. E ficamos na mesma...Claro que aqui em Nova Iorque se projetam obras gigantescas e milionárias, mas a ideia central da concepção urbana moderna é preserva o antigo, a história...por isso esta cidade monumental recebe este ano 60 milhões de turistas, e a nossa bela, histórica, linda, deliciosa, mágica, Salvador, está às moscas, o Pelourinho acabado mais uma vez, o centro histórico sob mijo e insegurança, sob o comando da falta de visão de líderes tolinhos para o coletivo e espertinhos para si próprios...
Só mesmo por Oxalá e loucura (e um amor alucinado), o meu compadre Clarindo Silva ainda mantém aberta a Cantina da Lua...e só.
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