Editorial jornal A TARDE
19/03/2017
Quando se imagina que
os brasileiros já presenciaram todo tipo de golpe e falcatrua, a sociedade
assiste estarrecida ao desbaratamento, pela Polícia Federal, de um esquema
inescrupuloso que mais uma vez envolve corrupção no setor público, mas cuja
gravidade vai bem além dos desvios de conduta evidenciados até aqui nesse tipo
de ação policial. Agora a fraude não se situa apenas entre políticos e outros
figurões de Brasília: ela atinge o bem maior, a saúde e vida humanas.
A
Operação Carne Fraca, deflagrada em seis estados e no Distrito Federal, revelou
o uso de notas fiscais falsas para regularizar carnes que já tinham passado da
data de validade e haviam sido ‘maquiadas’ para não parecerem estragadas. A
Justiça determinou 27 prisões preventivas, além de 11 temporárias e mais 77
mandados de condução coercitiva.
Gravações
telefônicas obtidas ao longo de dois anos mostram uma série de ilegalidades
praticadas por grupos frigoríficos, que contavam com o apoio de fiscais do Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (Mapa), cujo trabalho era justamente o de evitar esse tipo de
irregularidade. Eles recebiam propinas em dinheiro e também em mercadorias das
empresas, para promover o afrouxamento da fiscalização e liberar licenças de
funcionamento de locais que deveriam estar interditados.
Além
de levantar sérias dúvidas sobre a confiabilidade dos alimentos consumidos
todos os dias e contribuir para o descrédito das instituições, incluindo o
Serviço de Inspeção Federal, que atesta a qualidade de produtos de origem
animal, o escândalo sanitário prejudica a imagem do país e cria o risco de
perda de espaço no mercado externo de carnes, conquistado a duras penas.
É
preciso adotar medidas rigorosas e exemplares não só para afastar e punir os
envolvidos no crime, mas também no sentido de reduzir os danos sobre a imagem do
Brasil, evitando a imposição de barreiras fitossanitárias e garantindo a
presença destacada do país no cenário internacional.
E, por fim,
empreender ações de transparência perante os consumidores brasileiros,
esclarecendo se a fraude é isolada e quais os níveis de
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