sábado, 25 de março de 2017

DANS MON ÎLE

Resultado de imagem para FOTOS DE ILHA TROPICAL

Já contei um pouco sobre o arquipélago de minha memória, perdido em mares profundos. 
Imperava um regime democrático, desde que não se mexesse nas figuras principais deste xadrez onde todos os golpes eram permitidos. 
Certas ilhas eram reservadas aos pobres. Nelas também se depositava o lixo. 
Noutras, mais verdes, viviam os ricos, bebendo deliciosos álcoois em piscinas turquesas. 
Na maior delas residiam os muitos membros do governo. Os labirínticos palácios onde tudo se decidia para o benefício dos poderosos, eram palco de impiedosas intrigas e até discretos assassinatos. 
Uma ilha, com muitas praias e mais frutas, era reservada aos artistas e poetas. É nesta que meus pais me criaram.



Cada ilha tinha seu hino, geralmente uma marcha vitoriosamente marcial. Na nossa, ao contrário, era aquela doce canção de Henri Salvador. Longas noites de flautas, violões e violinos à beira das ondas calmas onde eu adormecia no calor salgado da areia. Inventavam-se improváveis peças de teatro e improvisadas danças com muitos véus e tambores. Pintores criavam cenários mágicos com palmas, esqueletos de mamutes, panelas enferrujadas e desbotadas velas de antigas embarcações. Os ensaios demoravam meses até chegar a mais perfeita afinação.

Quando, finalmente, conselheiros de barba branca consideravam o trabalho amadurecido o suficiente, os poderes públicos condescendiam em que fosse apresentado na Ilha dos Governantes. Era uma festa. Vestíamos nossa roupa mais enfeitada e remávamos uma boa hora até desembarcar no cais de concreto da capital. Entraríamos então numa paisagem estranha, já que se havia cortado todas as árvores, substituídas por similares de plástico que eram trocadas a cada ano. Os ilhotas (não falei em idiotas), sempre assustados, moravam em altas torres de vidro fumê. Se, nas ruas, os transeuntes eram poucos e apressados, em contrapartida uma infinidade de policiais, com todo tipo de uniforme, passeava com lentidão, perigosamente armada, a bordo de tanques conversíveis.


Os espetáculos eram montados em arenas gigantescas que raramente conseguiam encher. Jamais os governantes vinham prestigiar os eventos, já que os candidatos, para serem eleitos, eram cuidadosamente escolhidos entre os mais comprovados analfabetos do arquipélago, conforme determinado pela Constituição de 1813.

Assim que nenhuma exposição, nenhum concerto, nem o mais emocionante balé corria o risco de ver desembarcar os poderosos com seu batalhão de cortezões engravatados sempre dispostos a aplaudir ou vaiar, conforme o humor do chefão. As mulheres desta ilha, todas loiras, costumavam ficar em casa onde preparavam tortas ou confeccionavam roupas para os pobrezinhos-coitadinhos. Algumas participavam de concursos de beleza. 

E, confessemos, eram muito bonitas. 

DIMITRI GANZELEVITCH

Nenhum comentário:

Postar um comentário