quarta-feira, 4 de março de 2020

TENHO VERGONHA

PESQUISANDO VELHOS TEXTOS NUNCA PUBLICADOS, ENCONTREI ESTE.
INFELIZMENTE DESDE 2009, NADA MUDOU...

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Não sei o que minhas aristocráticas avós pensariam do assunto, mas de meu avô materno, Paul Bernard, e de meu avô paterno Yacob Ganzelevitch, ambos descendentes de judeus, estou convencido, pelo que eu sei deles, que teriam vergonha.

Israel começou a agressão à faixa de Gaza com o pretexto de acabar com maquiavélicos túneis que importariam, na calada da noite, perigosos armamentos do Egito. Tal qual o sanguinário Bush invadindo o Iraque sob pretexto de descobrir armamento nuclear, mesmo sabendo que nada existia, nem de longe.
Na verdade interessava o petróleo iraquiano e o proselitismo “new born christian”.
Desde o 22 de dezembro, com o armamento mais poderoso do Oriente Médio, Israel invadiu e bombardeou sem piedade um povo preso entre fronteiras fechadas, com dificuldade de sobrevivência, sem comida, água ou remédios.
Sinto-me conivente e tenho vergonha.

Durante três semanas, até hoje, as agressões mataram 1024 palestinos. Um bom punhado de “terroristas” talvez, e um monte de inocentes apavorados, na maioria crianças, velhos e mulheres.
Sinto-me conivente e tenho vergonha.

É verdade que do lado dos extremistas do Hamas, eles fizeram estragos dramáticos com suas pedradas e seus mísseis caseiros, matando 13 soldados israelenses. Sem falar dos dois palestinos mortos por erro de lançamento dos mortíferos mísseis caseiros. Afinal, onde estão as temíveis armas palestinas de última geração?
Sinto-me conivente e tenho vergonha.

O bombardeio israelense não poupou escolas, universidades nem hospitais. Os relatos de jornalistas e estrangeiros que ainda se encontram em Gaza, são unânimes: trata-se de uma matança totalmente desproporcionada ao perigo palestino.
Sinto-me conivente e tenho vergonha.

Para acalmar os gritos dos movimentos internacionais humanitários (?), Israel aceitou abrir durante três horas as portas deste escandaloso muro - que abocanhou as melhores terras e a nascentes, nem hesitou em cortar aldeias em dois – para que mantimentos e remédios fossem levados ao povo palestino. Mas desprezaram sua palavra e bombardearam os caminhões!
Sinto-me conivente e sinto vergonha.

Os últimos relatos denunciam o uso de bombas israelenses com fósforo branco. Trata-se de um belo avanço tecnológico, com requintes de perversidade e crueldade, em relação à limpeza rápida dos gases da II Guerra Mundial, já que o fósforo branco tem a vantagem de pegar fogo quando atinge a pele humana e queima enquanto tiver oxigênio.
Sinto-me conivente e tenho vergonha.

E quando são desmascarados surtos de racismo no estado de Israel contra judeus negros da Etiópia, sinto-me conivente e tenho vergonha.

Sinto-me também envergonhado quando algum amigo confunde propositalmente anti-semitismo, que é racismo, com anti-sionismo, que é política.

Durante os 16 anos que trabalhei no Mercado Modelo, tive inúmeras vezes a comprovação da arrogância e desrespeito dos jovens israelenses e sugiro a quem duvidar de fazer uma pequena pesquisa junto ás pousadas de Salvador, para saber mais sobre o comportamento deste povo. Estarrecedor.

Somos, na verdade, todos culpados por termos contribuído, expulsando um milhão de palestinos, a criar um estado sem memória – mais bem, que usa da memória conforme sua conveniência - que mais se aproxima do Alabama com seu Klu-Klux-Klan que de uma democracia ocidental. 

Só resta agarrar-me aos escritos do intelectual americano e judeu Noam Chomsky e ás posições contrárias a esta política da terra queimada por outros judeus e israelenses, que são numerosos, mas não o suficiente. 
O mundo inteiro clama por justiça.
Cansei de ter vergonha.

Dimitri Ganzelevitch
15 janeiro 2009

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