quarta-feira, 27 de outubro de 2021

MAIS UMA CACHACINHA!

O IPHAN permitiu a derrubada do segundo andar!

A cada texto publicado neste centenário jornal, recebo comentários, geralmente elogiosos, o que é ótimo para meu ego.

Mas em 2 de outubro passado, um anônimo escreveu no meu blog: “Acho o senhor muito chato quando toma uma cachaça na intenção da reforma do centro histórico”.                                              Confesso ter dado uma bela risada. Só faltou dar a marca da tal.

Bem, aqui estou, novamente com minha cachaça, a me queixar do eterno pas-de-deux do IPHAN com a Prefeitura. Ambos adoram, geralmente na calada da noite, derrubar velhos casarões.



Como definir um órgão - criado para preservar nosso patrimônio - que concorda em derrubar antigos casarões num bairro tombado pela UNESCO? 

Após o caso da Ladeira da Montanha em 2015, quando três casarões e seis “cascas” foram demolidas sob a responsabilidade da Codesal, com a benção do IPHAN, eis que, na própria rua Direita de Santo Antônio, esquina com a travessa Bahia, pleno centro histórico, o mesmo IPHAN permite agora que o segundo andar do imóvel -cujo telhado desabara - seja derrubado. Após parecer contrário, manda nova ordem com teor oposto à dita derrubada, afirmando tal ato desnecessário. Um escoramento seria adequado, já que a construção ainda apresenta solidez suficiente.

Mas era sem contar com a (conveniente) burocracia da SEDUR. Na segunda-feira 25, no princípio desta semana, uma empresa concretizou o vandalismo sem mais demora, com o aval da Fundação Mário Leal Ferreira que, em 24 anos de existência, ainda nada entendeu do centro histórico de Salvador.

Estamos no direito de saber, e de forma transparente, se não é pedir muito, cinco pontos. Quem teve conhecimento do orçamento da obra? Porque o IPHAN mudou de decisão? Porque a SEDUR não considerou a segunda decisão do IPHAN? Quanto custou aos cofres públicos ou, em outros termos, quanto ganhou a empresa nesta inútil empreitada? Como foi escolhida?

O topo da pirâmide continua ignorando seu compromisso social com os princípios elementares da democracia. Muito se fala em transparência, mas é só para permitir a boiada passar.

Também não se entende o papel do IPAC neste caso. Nada tem a opinar? Pelas informações obtidas, a proprietária de mais dois imóveis vizinhos não tem a mínima condição financeira de restaurá-los. A desapropriação seria, portanto, a medida certa para salvar este patrimônio.

É evidente que as obras (inacabadas até hoje) da CONDER nesta rua, com retroescavadeiras, marteletes, betoneiras e caminhões durante um ano e meio, com altíssimo nível de vibrações, só podiam prejudicar o casario do antigo bairro. Não será difícil adivinhar que outros problemas e acidentes advirão a curto e médio prazo.

Para quem se preocupa com o abandono do patrimônio cultural e artístico da capital e do resto do estado, as perspectivas são alarmantes. E não é uma ou outra veleidade pontual, mal projetada e mal executada que irá nos confortar.

Dimitri Ganzelevitch

A Tarde, sábado 30 de outubro 2021

 


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