A cada texto publicado neste centenário jornal, recebo comentários, geralmente elogiosos, o que é ótimo para meu ego.
Mas em 2 de
outubro passado, um anônimo escreveu no meu blog: “Acho o senhor muito chato
quando toma uma cachaça na intenção da reforma do centro histórico”. Confesso
ter dado uma bela risada. Só faltou dar a marca da tal.
Bem, aqui estou, novamente com minha cachaça, a me queixar do eterno pas-de-deux do IPHAN com a Prefeitura. Ambos adoram, geralmente na calada da noite, derrubar velhos casarões.
Mas era sem
contar com a (conveniente) burocracia da SEDUR. Na segunda-feira 25, no
princípio desta semana, uma empresa concretizou o vandalismo sem mais demora,
com o aval da Fundação Mário Leal Ferreira que, em 24 anos de existência, ainda
nada entendeu do centro histórico de Salvador.
Estamos no
direito de saber, e de forma transparente, se não é pedir muito, cinco pontos. Quem
teve conhecimento do orçamento da obra? Porque o IPHAN mudou de decisão? Porque
a SEDUR não considerou a segunda decisão do IPHAN? Quanto custou aos cofres
públicos ou, em outros termos, quanto ganhou a empresa nesta inútil empreitada?
Como foi escolhida?
O topo da
pirâmide continua ignorando seu compromisso social com os princípios
elementares da democracia. Muito se fala em transparência, mas é só para
permitir a boiada passar.
Também não
se entende o papel do IPAC neste caso. Nada tem a opinar? Pelas informações
obtidas, a proprietária de mais dois imóveis vizinhos não tem a mínima condição
financeira de restaurá-los. A desapropriação seria, portanto, a medida certa
para salvar este patrimônio.
É evidente
que as obras (inacabadas até hoje) da CONDER nesta rua, com retroescavadeiras,
marteletes, betoneiras e caminhões durante um ano e meio, com altíssimo nível
de vibrações, só podiam prejudicar o casario do antigo bairro. Não será difícil
adivinhar que outros problemas e acidentes advirão a curto e médio prazo.
Para quem se
preocupa com o abandono do patrimônio cultural e artístico da capital e do
resto do estado, as perspectivas são alarmantes. E não é uma ou outra veleidade
pontual, mal projetada e mal executada que irá nos confortar.
Dimitri Ganzelevitch
A Tarde, sábado 30 de outubro 2021
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