segunda-feira, 14 de março de 2022

A OLIVETTI DA MÃE MENININHA

 A polêmica do anúncio com a Mãe Menininha do Gantois.



Em maio de 1978, Washington Olivetto, redator da agência de propaganda DPZ, contatou o Terreiro do Gantois e obteve a anuência para Mãe Menininha ser a protagonista de uma campanha das máquinas escrever Olivetti, programada para veiculação na semana do Dia das Mães. O cachê de 30 mil cruzeiros foi revertido para obras de caridade.
Agência, cliente e o próprio terreiro não imaginaram a controvérsia que a peça publicitária provocaria. Duda Mendonça foi o primeiro a questionar a ética do processo. Escreveu uma carta irada reclamando da ousadia da agência em utilizar um ícone do Candomblé, uma Ialorixá, para divulgar um produto comercial. E, lembrou, que ele mesmo, Duda, já convidara, em 1976, Mãe Menininha para protagonizar um comercial, porém, em outro contexto: um institucional de boas festas, veiculado no período do Natal.
Olivetto rebateu a carta, os dois se estranharam e esse foi o início de uma boa amizade. A troca de cartas públicas não encerrou o assunto. O jornalista Marcio Ehrlich na sua coluna Janela Publicitária, do Rio de Janeiro, reverberou a polêmica: “Há muito não se vê uma campanha ter tanta repercussão__ escreveu___ até na seleção da Janela a peça provocou o maior quebra-pau, exaltando ânimos como antes nunca visto” e opinou: “Um devoto de São Francisco, então, também deveria protestar pelo uso de um modelo se fazendo de Santo para vender cachaça?”
O assunto rendeu nas revistas especializadas, colunas sociais, colunas de publicidade, e até nas resenhas do rádio. Washington Olivetto passou dias dando entrevistas, explicando a campanha, desvinculando-a de qualquer questionamento ético. A reportagem da revista Propaganda concluiu que para os padrões paulistas o anúncio era aceitável, mas, não para os padrões baianos.
Na Bahia, a polêmica se expandiu. O professor Cid Teixeira declarou que a Ialorixá jamais deveria ter aceitado, devido a sua hierarquia no Candomblé; Mãe Mirinha do Portão ponderou que Mãe Menininha tinha a inocência de uma criança e, justificou: “nego se aproveita”. E o colunista José Roberto Berni comentou "Seria a mesma coisa que ter o Cardeal pousando para uma campanha do liquidificador Wallita".

Nenhum comentário:

Postar um comentário