segunda-feira, 14 de março de 2022

MAIS UMA VEZ, O IPHAN...

 IPHAN nega ajuda à relíquia naval

tombada pelo órgão

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, criado em 1937 para preservar o patrimônio cultural nacional, nega ajuda à relíquia naval tombada pelo próprio órgão. E não pelo valor, considerado baixo para a grandeza do bem cultural em perigo, algo em torno de R$ 200 mil reais para salvar a última canoa de tolda ainda em atividade no ‘rio da integração nacional’, o São Francisco. Ao negar ajuda, mesmo ‘obrigado’ pela Justiça, o órgão nega sua própria razão de existir. Nega igualmente sua missão precípua como define o site: ‘O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) é uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Turismo que responde pela preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro. Cabe ao Iphan proteger e promover os bens culturais do País, assegurando sua permanência e usufruto para as gerações presentes e futuras’. Repetimos: ‘proteger e promover os bens culturais, assegurando sua permanência e usufruto para as gerações presentes e futuras’.

Luzitânia, canoa tombada pelo IPHAN
As bolinas laterais foram a solução dos antigos carpinteiros navais do São Francisco depois da invasão holandesa ao Nordeste. A técnica é oriunda daquele país. Imagem, Nilton Souza.

O tombamento da última canoa de tolda em 2008

Em 2008 quando o IPHAN tinha quadros que conheciam nossa cultura e os bens culturais, entre eles Dalmo Vieira Filho então diretor do DEPAM – Departamento de Patrimônio Material do IPHAN, o órgão não só tombou algumas embarcações como a canoa de tolda Luzitânia, ao mesmo tempo em que lançou o Projeto Barcos do Brasil reconhecendo nosso rico e desconhecido (pelo público) acervo de embarcações típicas, com o objetivo de conscientizar o público, preservar e conservar o Patrimônio Naval brasileiro.

A extinção’ de um bem cultural de valor

Por ser dramático ao envolver a ‘extinção’ de um bem cultural de valor, vale esclarecer ao leigo, mas interessado, que por trás da decisão de ‘credenciá-las’ como bens culturais, repousa uma sugestão de técnicos, e da academia. Muito desta ‘proteção’ deve-se ao arquiteto Dalmo Vieira Filho, e seus muitos colegas, na longa e às vezes ingrata empreitada de mostrar aos brasileiros o que eles têm de bom, aquilo que os distingue de outros povos.

Dalmo, ex-presidente do Comitê Brasileiro do ICOMOS-UNESCO,  criou ainda o Museu Nacional do Mar, em São Francisco  do Sul, que tem um imenso e belíssimo acervo de embarcações, muitas das quais já extintas, em perfeitas condições ao tempo de nossa visita. Um espetáculo que este site passou a admirar e divulgar desde 2007, um orgulho para o País que deu as costas ao mar mas, ainda assim, um museu de nível dos melhores do exterior dentro de nossas possibilidades.

A mais bela e rara canoa do País

A mais bela e rara canoa do País é a derradeira canoa de tolda que foi achada imprestável por Carlos Eduardo Ribeiro. Ele fundou a ONG Sociedade Canoa de Tolda para comprá-la, restaurá-la, e mantê-la em atividade. Mas, desde janeiro de 2022, um acidente contribuiu para que a Luzitânia fosse alagada. A Chesf – Companhia Hidrelétrica do São Francisco – aumentou a vazão do São Francisco no momento em que a canoa estava aberta para reparos. Desde então ela repousa virada, deitada sobre o costado, às margens do rio.

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