Em Brasília, apartamento do arquiteto Alan Chu tem vista encantadora para a copa das árvores
Após morar anos na Chapada dos Veadeiros, em Goiás, o arquiteto Alan Chu e sua família agora vivem na capital do país. Ainda decifrando a cidade, ele conferiu ao pouso na Asa Sul identidade própria com a paleta neutra e um sem-fim de texturas
Fincar os pés em Brasília nunca esteve no radar de Alan Chu. A mudança que fez o arquiteto, sua mulher e os dois filhos encaixotarem a vida e rumarem ao Centro-Oeste trilhou caminhos do inconsciente. “A Cris teve um sonho místico com uma cidade que nem conhecia. Descobrimos ser Alto Paraíso, o interior de Goiás. Visitamos, nos encantamos e fomos passar uma temporada”, revela.
A primeira experiência em projetar no Cerrado começava ali: o casal montou a pousada Casa da Mangueira, que acolhe, em suas três suítes, hóspedes interessados nas belezas da região de muitas cachoeiras, encravadas na Chapada dos Veadeiros. À distância, Alan seguia sua rotina na equipe do escritório paulistano de Isay Weinfeld.
Essa vida onírica não terminou – apenas sofreu um ajuste de rota. Com as crianças maiores, a busca por uma escola levou os Chu para a urbe de Lucio Costa. E aqui se inicia um novo capítulo. “Fica difícil fugir dessa relação forte coma arquitetura moderna, muito marcante em Brasília. Eu respeito o patrimônio, valorizo o projeto existente, aproveito o cobogó, mas não compactuo coma mesma rigidez. Gosto mais do sensorial, de uma mistura sutil, leve”, pensa o profissional sobre seu atual endereço na Asa Sul, um bloco erguido pela Novacap e inaugurado em 1960. Na época, o coordenador de projetos da companhia urbanizadora era um já experiente Oscar Niemeyer.
Curiosidades do informal dialeto arquitetônico brasiliense: bloco é sinônimo de prédio; um apartamento de canto é mais valorizado, pois permite que a luz passeie por todos os cômodos ao longo do dia; andares baixos (vale destacar que no Plano Piloto nenhuma unidade residencial ultrapassa seis pavimentos) miram a copa das árvores; o sol da manhã incidindo nos quartos garante noites mais frescas. Ponto para quem imaginou que a unidade de 140 m² escolhida por Chu para dividir com a família preenche todos esses requisitos.
A reforma manteve a quantidade original de quartos. E só. A cozinha teve as paredes que a separavam da sala substituídas por um muxarabi e ganhou uma estante metálica levíssima, que deixa tudo à mão. Um planejamento inteligente de marcenaria previu armários dupla-face, voltados para o corredor e para os quartos, multiplicando discretamente o espaço de armazenamento.
Os banheiros se renovaram com bancadas de quartzito, que respeitam a paleta neutra da proposta de 1960. Até o piso de peroba de demolição recebeu tratamento para ficar mais claro. Poucos materiais, poucas cores, muitas texturas, muito conforto: tudo pontuado pela dinâmica da luz, que desenha seus rastros pela morada ao longo do dia.
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