domingo, 26 de novembro de 2023

AVISO AOS ARTISTAS CONTEMPORÂNEOS AQUI PRESENTES


 

pintura do autor que assina esta prosa manifesto


Como é óbvio a Arte Contemporânea não nos interessa para nada, ou melhor interessa esconjura-la, pois já se tornou insuportável esse lugar comum. Necessitamos introduzir distinções, abrir clareiras no eucaliptal da ontologia de mercado, que permitam a articulação do pensamento e que contrariem a indefinição coerciva, este lusco fusco sempre igual, em que todos os gatos são taticamente pardos. Neste texto vamos estar sempre a martelar na mesma tecla da Arte Contemporânea, vai ser o bombo da festa. Passo por isso a denominar a dita Arte Contemporânea por AC para poupar papel e salvar algumas árvores. Todavia, e para não julgarem que desconsideramos os artistas contemporâneos, e a pedido de muitos adeptos, aqui vão, desde já, algumas sugestões para melhorarem a contemporaneidade da AC que fazem:

1 - Não estudem Arte, estudem publicidade, relações públicas, estratégias de mercado e artimanhas financeiras.

2 - De preferência nasçam em boas famílias burguesas, ou com bons contactos sociais. A AC continua a ser fenómeno sociológico das classes altas com mentalidade mercantil.

3 - No que toca à filosofia de salão, com que adubam os textos promocionais do produto, aconselham-se ainda mais citações de filósofos pós-modernos, explicadas de seguida segundo critérios de filosofia analítica, a matriz que vos criou nos gabinetes especializados em engenharia social. Recorram a boa dosede sociologia actual, e das suas delusórias questões mais empolgantes, coisa que também ajuda ao embrulho. Não se esqueçam de extensa bibliografia no final e das notas de rodapé bem recheadas, um pouco de tonificação académica agrada sempre.

4 - Desmaterializem o vosso trabalho o mais possível, a melhor criação é sempre a invisível. Tentem todo um percurso em que não criem nada, invoquem o Bartleby, a estética do deserto, etc... Não se esqueçam de que a AC é o melhor refúgio para letrados que não sabem escrever, e têm ali a sua salinha de estar, usurpada a uns cretinos que ainda pensam que a arte nos leva a sujar as mãos com tintas, barro e essas coisas.

5 - Se insistirem na visualidade das artes visuais, essa mania atávica própria de artistas pouco evoluídos, por-amor-de-deus! não procurem a beleza, mas sim a aparência certa para o contexto certo. Certifiquem-se pois das aparências que mais aparecem em cada lugar, dos fetiches que agradam ao círculo social em que vão entrar.

6 - Deixou de ser possível basear alguma reivindicação na própria existência, não há nada a fazer se não realizar o feito de levantar cabelo sem nos preocuparmos em ser seja o que for. Então, não se trata de afirmação da nossa própria existência, de qualquer grito no meio da multidão, da voz pessoal, de ter algo diferente ou relevante para dizer, mas sim de nos reduzirmos ao visível, de nos afirmarmos enquanto imagem pessoal epidérmica, cosmética, de marca. Insistam sempre na extroversão supérflua, façam presenças nos sítios certos, cultivem a infantilidade auto-promocional, tornem-se nos gestores eficientes e frios da vossa própria fachada.

7 - Não se esqueçam que a AC foi criada, como todas as artes totalitárias, para esmagar o indivíduo e o dissolver no colectivo. Criem por isso colectivos, dissolvam-se no colectivismo, promovam a corporação, o gangue, a seita, a sociedade secreta, a ordem religiosa, como modelos de sucesso.

8 - Conheçam as pessoas certas, aparentem ser seus amigos, aparentem ser o tipo de pessoa que agrada a essas pessoas, aparentem gostar das mesmas coisas, ter os mesmos interesses e opiniões. Há sempre um influencer que policia o pensamento único, ou curador, ou outro artista contemporâneo de renome a que se podem colar, e, se forem sagazes, podem subir na corte que normalmente os rodeia.

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O melhor a fazer não é a crítica deste ou daquele artista, mas criar pensamento em torno de coisas que nos interessam, e que tomamos como adquiridas, especialmente as inquestionáveis. Creio que podemos ser mais cortantes ao apontarmos as falhas do colectivo, pois é nesta lobotomia colectiva que se inserem muitos dos sintomas da AC. Também se evidencia execrável aquele sentido de que as obras de arte estão prontas para concurso (de misses?), a ideia de reduzir tudo a competição de mercadorias, com cinco estrelas, prémio e medalha na lapela, todo esse lodo em que rebolam os ditos teóricos e críticos actuais. É impossível entender que artistas, com um pingo de dignidade pessoal, concorram a prémios, ou se gabem da ignomínia de ganhar prémios, dão logo sinal de que não entendem nada, é logo MUITO MAU SINAL, mas ainda é mais difícil entender aqueles que se dizem representantes do espírito crítico, envolvidos em tais actividades acéfalas de escrutínio. Não estão a ver o Duchamp ou o Breton, quando ainda tinham dentes afiados, a concorrer a prémios e a aceitar merdalhas, ou a fazer disso critério de qualidade do produto, pois não? A contra-cultura está por instalar, sentimos cada vez mais essa ausência, temos que refutar este plantio do salão de prémios, e do crítico, da organização regida pelo subjectivismo mercantil, do júri da chuva de estrelas, da qualidade do produto. O azeite Gallo também se farta de ganhar prémios.

Por tudo isto eu, Elagabal, apresento-me, não sou crítico de arte, sou apenas alguém que decidiu questionar a nova arte totalitária: a AC. A estratégia crítica (ou auto-crítica) fica a cargo de cada um, na medida em que avance do geral para o particular, de forma a que se consiga desintoxicar deste culto que se instalou, aos poucos, nos mais variados lugares. Estamos todos mais ou menos exaustos desta guerra, fomos e seremos todos cilindrados.

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Onde não há possibilidade crítica já não há Arte, apenas publicidade.

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No clima da actual civilização, esquálida criatura em que se evidenciam os ossos do materialismo dialéctico, com os seus intuitos financeiros, e tendências brutais, muitas pessoas começam a perder a esperança messiânica de que na arte exista qualquer resposta para as grandes questões, esta tornou-se apenas no túnel ao fundo do qual já não há qualquer luz. A AC subsiste como sinal exterior de riqueza, moldura promocional para grandes parasitas, proletarizada, cada vez mais profissional, rebaixada a trabalho assalariado que tem como simples tarefa satisfazer necessidades superficiais de consumo e entretenimento. Esta redução ao absurdo, na bolha dos artistas contemporâneos, reflecte outras formas de anulação da subjectivação descontrolada pelo estado, e, como tal, facilita a revisão radical daquilo que o anartista se verá forçado a fazer. O anartista não só concorda com essa desvalorização da AC como a leva ao extremo, ao paroxismo. O anartista não revela qualquer consideração pelo fetiche da AC no seu período mais senil, relacionado com o culto da personalidade.

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Já não faz qualquer sentido fazer crítica da AC, não é possível criticar nos moldes actuais propostos pela AC, pois não há certezas, axiomas, regras ou dogmas, diria mesmo que não há nada e que se procura evidenciar essa nulidade. A demissão da crítica, porém, é outro sintoma de que estamos a cair no fosso em vez de aprender a voar, porque nada a substituiu, ou não há crítica porque já nada chega sequer a valer como arte, a não ser perante o olhar da ignorância. Alguns dizem que a crítica só existe quando alguém quer instalar alguma narrativa, quando entramos na megalomania iluminista de juízos universais, quando tens a agenda na manga, o obstáculo deriva de não haver critérios estéticos credíveis nem juízos de gosto universais, não podemos dizer “olha que obra tão genial, que trabalho tão delicado, que sensibilidade sublime, que lindas cores”, são critérios vazios que não se referem a nada de objectivo, são restos da cultura romântica que colapsou na psicose do subjectivismo e nas múltiplas hermenêuticas do sujeito.

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A posição do anartista não tem nada em comum com julgamentos baseados em pontos de vista mercantes; assim, a acusação do carácter tecnológico, comercial e nulo da AC não deve ser confundida com tom moralizante, ou com a censura da AC por parte dos actuais neo-puritanos. O anartista considera um bom sinal que a AC seja nula, isso apenas exalta a sua imaginação. O anartista abençoa essa nulidade que deixa o espaço livre para que o inimaginável aconteça. Não se trata de referir que se alegra em expor a agonia, ou que toda a beleza consiste em impedir a eclosão do belo. Nada dessas tretas. Além das formas tacanhas de expressão que se tornaram inoperantes, as reacções moralizantes resultam da confusão indevida entre o que é fundamental e o transiente, e surgem da incapacidade de conceber qualquer entendimento substancial. Procuramos a particular anarte que trabalha directamente ou indirectamente para minar qualquer idealismo, para ridicularizar quaisquer princípios, para atacar as instituições, para evidenciar como meras palavras os valores - e tudo isso sem obedecer a alguma agenda explícita, ao contrário de toda a arte de pendor meramente sociológico. Sabemos que se levantam protestos patéticos e indignados contra a nova arte popular global dita contemporânea. Esta não é a reacção lógica porque ignora o seu significativo potencial como passadeira vermelha para o anartista. Todavia, pode-se reconhecer que a acção corrosiva, exercida pela AC, raramente toca em algo essencial, e que as suas manifestações nem chegam a fazer comichões para suscitar a coça, são simplesmente decorativas.

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Compare a Mona Lisa de Arthur Sapeck (1887) com a Mona Lisa de Duchamp (1919). Na realidade todas as inovações atribuídas às vanguardas já estavam nos Incoerentes, incluindo o Ready-made, o abstraccionismo, até a performance. O Dadaísmo apresenta-se apenas como versão prêt-à-porter dos Incoerentes, a caminho do fenómeno controlado das políticas mercantis em que se viria a transformar nos Estados Unidos.

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O modernismo, à distância de muitas décadas, parece, cada vez mais, outro capítulo das artes decorativas, ou do design. Isso não desvaloriza nem trivializa o modernismo por si, nem as artes decorativas ou o design, apenas o enquadra no seu devido lugar. A civilização japonesa construiu toda a sua cultura visual em torno das artes decorativas, cultura de milénios, com raízes na surpreendente filosofia Wabi-Sabi. Isso poderia ser alternativa à AC: arte decorativa com fundamento na filosofia das imagens, e não no simples formalismo. Não é por acaso que a arte japonesa teve influência seminal em muitos dos artistas modernos. A dúvida quanto ao valor de muitos destes artistas, reside em apenas se limitarem ao mimetismo formal, sem entenderem o pensamento que dá origem a essas morfologias. Desse modo foram apenas decorativos, no sentido superficial da palavra, ou pior, transformaram formas que não entenderam em condimento paliativo da industrialização.

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No século XIX, quando a arte ainda dependia da mestria do desenho, qualquer pessoa, com mérito pessoal, de qualquer classe social, podia apresentar a sua obra e ser reconhecido por outros artistas. O reconhecimento fazia-se, em grande medida, entre artistas.

Durante e depois do advento das vanguardas, raros são os “grandes talentos” que surgem fora da burguesia, e o reconhecimento passou para as mãos dos literatos. O reconhecimento é feito pela classe social dentro da classe social. Agora muitos chegam a chamar a isto democratização da cultura.

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A razão porque a arte do século XX é secundária em relação à arte do século XIX, assenta em dois aspectos, dois abortos criados pela incompreensão do modelo clássico antigo: o decorativismo - o modernismo como exemplo típico daquilo a que no classicismo se chamavam artes decorativas, artes cujo o horizonte não ultrapassava o mero jogo das formas sensíveis. Condição que caracteriza grande parte da primeira metade do século XX (mas já presente nos ismos do século XIX) e o conceptualismo - arte cujo o horizonte é a linguagem verbal, filosofia analítica postiça, a maior parte das vezes flatus vocis, e, nos seus piores momentos, mal adjuvada pela sociologia ou antropologia instantânea de pacote, misto de estetização da política, ao sabor da propaganda idealista de um Mao, Hitler ou Staline. Condição que caracteriza a segunda metade do século XX.

São exactamente estes dois âmbitos que o modelo clássico se propõe ultrapassar há milénios: o verbal e o sensível – forçados a colidir até que se dissolvam mutuamente e se cristalizem noutra dimensão - o sentido - que hoje escapa ao mundo da arte, e aos seus analíticos, pois só poucos consegue dominar esses dois aspectos de forma a os transcender na síntese. Por isso o anartista tem que ser bastante hábil para não se ver restringido pela técnica, e suficientemente inteligente para não se ver limitado pela lógica.

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Em todo o mundo viceja, como erva daninha, a casta decisória (curadores, júris, críticos e alguns artistas transformados em curadores), estirpe que ainda pensa que o juízo de gosto é coisa objectiva, diria mesmo científica, e que se pode aplicar sem dúvida e com toda a naturalidade à distribuição de subsídios, prémios, cargos e comendas. Estamos, em termos de pensamento, fossilizados algures no século XVIII.

Esses burocratas administram as “manifestações de liberdade” alienando-as, e utilizando-as como verniz de prestígio do sistema de mercado. Para esses burocratas o que conta é que exista procura para aquilo que determinam serem génios aptos a vender, que não critiquem nem obstaculizem o sistema de comercialização, a única mensagem sagrada deste sistema, ou melhor, o sistema de comercialização é a mensagem. O melhor artista contemporâneo é aquele que introduz na sua obra os jogos da alta finança e os métodos industriais.

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Alguma palavra captura melhor o Zeitgeist da AC do que artwashing?

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“l’Etat est incompétent en matière d’art” - Courbet

O Anartista advoga a rigorosa separação entre o Estado e a AC, tal como existe a separação entre o Estado e a Igreja. Ao papel do estado não compete financiar cultos.

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Quem estuda o fenómeno AC pouca ou nenhuma importância pode dar hoje ao Artista, porque não é este que faz essa dita Arte, quem a faz são as instituições ou os coleccionadores. O Artista é apenas alguém convencido de que é artista, o idiota útil do momento, descartável assim que começa a incomodar o sermão.

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Autistas Conceptuais

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Na AC os artistas tentam desesperadamente agarrar alguma coisa "séria" para não ir ao fundo, normalmente os mais ignorantes agarram-se à filosofia, pois desconhecem que, também ela, se tornou noutro Titanic que naufragou no oceano dos exercícios de futilidade, ou seja, que também ela está cada vez mais parecida com a AC. Aliás, podem fazer exercício bastante caricato de Arte conceptual: substituir niilismo, em qualquer texto que fale de niilismo, por AC – é cómico verificar como faz igualmente sentido e até saem textos bem melhores do que os de qualquer curador. Os artistas mais "espertos" agarram-se à sociologia, pseudo-ciência que se resume a métodos de disciplinar colectivos com figuras de retórica. Prevejo futuro mais que brilhante para estes últimos, diria futuro messiânico, providencial e evangelista. Em tempos de abandono e peste os profetas da terra prometida vencem sempre.

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Ninguém gosta realmente de AC. Entre as pessoas que não gostam há aquelas que são completamente sinceras e mostram o seu desagrado, depois há os outros que gostam mas apenas através de exercícios de racionalização, mas estes também não estão a gostar, substituíram o gosto pela dianoia, e nesse sentido era preferível que fossem ler qualquer tratado de Wittgenstein.

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Ainda a missa cantada por Guaranis

Um dos problemas mais escandalosos da agenda multicultural das grandes instituições da AC consiste em recriar o simulacro de outras culturas dentro dos moldes e ditames da cultura ocidental. Assim os grandes curadores destas instituições não procuram propriamente outras culturas, das quais pouco ou nada sabem, mas ecos da nossa própria cultura noutros países, sucedâneos de AC mais ou menos exóticos, para animar o grande centro comercial artístico com "novidades" em perspectiva dita "pós-colonial". Quando entramos numa destas instituições apenas nos é servido a frio o vazio que edifica a culto único de mercado, que dizimou todas as outras culturas, e agora lhes exige um travesti de si mesmas, bem arregimentado, para turista ver, e obediente aos protocolos culturais europeus. Confunde, por isso, a perspectiva pós-colonial com neo-colonial.

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Exercício para aprender anarte em dois passos:

1 - Imagine o artista contemporâneo, nas suas práticas, postura, circuitos sociais, linguagem. Imagine os seus protocolos, os seus espaços de excepção.

2 - Contrarie o mais que conseguir essa imagem e crie se possível a inversão completa.

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A filosofia sempre foi disciplina difícil, que requer capacidades intelectuais absolutamente extraordinárias, e pouco acessível à maioria da população. Outra tendência patética da AC pressupõe o mimetismo da filosofia, estamos de novo no palco da representação espampanante para atordoar os incautos. Esta "filosofia" de farsa, aparente, na antiguidade tinha outro nome, chamava-se sofística, ou seja, conversa vazia e rebuscada, mas com todas os mecanismos da oratória, mais ou menos demagógica ou abstrusa: a “arte de ter sempre razão”. A filosofia de salão também se tornou epidemia, e a variante viral é de origem francesa (com genes de Heidegger no seu pior), discurso que turva muito as águas para que aparentem ser profundas, e nesse sentido sim, idêntico à obscuridade da AC. A AC recorre a todos os truques de ilusionismo, mas de filosofia a sério tem muito pouco, diria mesmo que configura o que de mais afastado há da filosofia. O espectáculo triste destes artistas da pretensão, a arrogarem-se ares de filósofos, não passa de imitação tardia e sonsa do Dr. Faustroll. Por que razão existe esta tendência? A razão é simples, trata-se de outro sintoma da sobrevalorização da importância dos discursos acima das práticas, o mundo da AC ergue o último reduto para criaturas com pretensões literárias, ou filosóficas, mas que nunca tiveram grande sucesso nas exigências da disciplina. Estamos perante clube de amadores, diletantes no mau sentido, sempre caridosos para com o povo, que nadam bem nos corredores vazios da cultura de estado, dominada por estruturas que se assemelham ao velho sistema de castas medieval, de que conhecem as manhas e de quem são, na calada, os mais fiéis defensores.

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"Artista" é um título, e nós sabemos bem como a classe dos merceeiros saliva, acima de tudo, por títulos.

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Igreja Universal do ready-made

Procurar na internet: David Hammons - "A Bíblia Sagrada, Antigo Testamento", em que redefine uma cópia do livro The Complete Works of Marcel Duchamp, de Arturo Schwarz, encadernada para se assemelhar a Bíblia.

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O Duchamp no fim da vida foi domado pelo conventículo imperialista cultural americano de criação da ACTM, que consiste na eliminação de toda a liberdade, transformada em forma de cultura popular totalitária, colectivista e urbana, que se conforma, ao mesmo tempo, às exigências do capitalismo de casino. Foi apanhado em pleno no novo totalitarismo, diríamos que foi elevado ao papel de messias fundador. Duchamp percebeu isso e criticou fortemente a Pop Art, mas essa parte do discurso depois foi rapidamente esquecida.

Procurar na internet: Vivre et laisser mourir ou la Fin tragique de Marcel Duchamp - Gilles Aillaud, Eduardo Arroyo et Antonio Recalcat (crítica ao envolvimento de Duchamp nas guerras culturais americanas).

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Cartier TM apresenta: "inspirei-me na minha mãe" - Cherry Blossoms de Damien Hirst

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Onde se lê AC também se pode ler Arte Conceptual.

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Onde se lê MC leia-se Ministério do Weltanshauung mercantil.

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Exercícios estéreis de raciocínio primário a redução da arte ao cálculo.

Se algum curador ou crítico consegue entender, ou ler, aquilo que são as tuas intenções conceptuais, ou se tu mesmo as entendes e explicas, isso é o sinal claro de que não tens necessidade nenhuma de fazer seja o que for, nem criaste anarte nenhuma, acabaste sim de fazer a redacção da vaquinha.

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Ethical Shopping Made Easy

Existe sempre na natureza de certos artistas medíocres esse carácter moralizador dogmático, capaz de fazer corar qualquer fundamentalista religioso. Confundem arte com ética iluminada e iluminista, didática sempre que possível, e catequética como os missionários coloniais. Forjam discursos que, para colmatar toda a falta de real interesse e relevância da obra, se apegam a noções de responsabilidade, respeito, luta pela estética da simetria social e outras falácias tão pomposas quanto vazias, mas com efeito curioso, bastante galvanizador da manada, à semelhança da prédica de certos políticos populistas. Normalmente estes artistas não usam a retórica de forma inocente, mas para operar a destruição dos seus rivais de mercado, em processo em tudo semelhante a certas práticas repressivas tribais. Não podiam estar mais longe de ser anartistas, são polícias políticos disfarçados.

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Prémios, premiados, júris, juízes, pódios, concursos, concorrentes e merdalhas são a forma do sistema oprimir e se promover, enquanto vigia e pune.

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Para mim performance, nos dias que correm, só se for incendiar bancos, fora isso prefiro grandes êxitos tocados em flauta de pã.

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Design de entretenimento

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No Reich do preconceito duchampiano.

Aquele que hoje pensa estar a fazer arte conceptual, só a faz no preconceito.

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O Impressionismo nunca me impressionou.

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Muitos artistas contemporâneos falam de grau maior de liberdade, mas poucos têm, por exemplo, a liberdade de saber desenhar. É liberdade estranha essa, a que se fundamenta na incapacidade, liberdade plena para se ser muito limitado e apologista da limitação. Tão extraordinário quanto afirmar que o analfabetismo é a maior conquista das democracias. Se observarmos os mais variados discursos, o desenho é aquilo que se ataca por todos os meios na AC, ao ponto de ser considerado coisa a excluir, até no ensino. Também se passa o mesmo na literatura, a decadência das competências na escrita, mas pelo menos sabem um mínimo, não são totalmente analfabetos. Por isso considero o desenho também como ousadia anartística. Qualquer pessoa pode aprender a desenhar, à semelhança de aprender a escrever, não é nenhum poder sobrenatural. Como é óbvio nem todos serão geniais no desenho. Como noutras áreas, aprender a desenhar dá trabalho, à semelhança de aprender qualquer arte no sentido clássico, e deveria fazer parte da cultura geral. A mestria no desenho pode demorar vários anos, assim como a linguagem visual pessoal pode demorar a vida toda a depurar. Chegar ao cúmulo de excluir o desenho das artes visuais e do seu ensino, assemelha-se a ter literatura que exclui a escrita e a gramática, é a apologia da deficiência, do analfabetismo visual, do fatalismo, sendo o desenho sacrificado no altar da ironia de uns senhores de letras imprestáveis, que não servem liberdade alguma, só servem a liberdade de nos apresentar essa técnica, sempre idêntica, de transformar qualquer coisa em criptomoeda para oligarcas.

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Inceptual art instead of conceptual art

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Tendências das artes comerciais decorativas ditas contemporâneas 1 – ainda mais parangonas em néon.

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A suposta ausência de critérios para avaliar a AC deixa caminho aberto para o único critério que subsiste: o mercado.

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Tendências das artes decorativas a que chamam AC

2 - “A ignorância do desenho levou-me obrigatoriamente a optar pelos trabalhos manuais da minha avó”–

ALGUMA BIBLIOGRAFIA FUNDAMENTAL: Todos os livros de lavoures hippies e artesanato urbano que encontrar.

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Tendências das artes decorativas a que chamam AC - A Vista Alegre Conceptual

3 – Quadros decorativos COM FIOS (muito retro é certo, há mais de 40 anos que não se via esta técnica nostálgica da arte OP. Aprendam o modo de usar para decorar qualquer galeria ou museu, ou outro espaço culturalmente vazio, os curadores já desesperam por qualquer coisa que alegre a vista).

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Eis a grande questão actual "Como fazer arte anti-contemporânea?"

[*] por Elagabal Aurelius Keiser Anartista.

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