terça-feira, 21 de novembro de 2023

QUEM FUNDOU O PRADO?

 D. Isabel de Bragança, Infanta de Portugal, Rainha de Espanha e fundadora do Museu do Prado


Maria Isabel De Bragança é considerada a fundadora do Museu do Prado. Na sala 75 do Museu descobre-se um episódio histórico bem conhecido pelos espanhóis, mas desconhecido para a maioria dos portugueses. Ao fundo, a legenda do retrato da rainha Maria Isabel de Bragança apresenta-a como fundadora do Real Museu de Pintura e Escultura do Prado. Na imagem, a infanta , casada com o rei Fernando VII de Espanha, aponta com a mão direita para a conhecida pinacoteca, visível através de uma janela. Na mão esquerda, segura os planos arquitectónicos. O quadro terá sido pintado onze anos depois da sua morte por Bernardo López Piquer, um retratista castelhano.
Maria Isabel Francisca de Assis Antónia Carlota Joana Josefa Xavier de Paula Micaela Rafaela Isabel Gonzaga de Bragança nasceu no dia 19 de maio de 1797, no Palácio de Queluz. Era filha de D. João VI e de D. Carlota Joaquina. Sensível à arte, generosa, tranquila, dócil, romântica, de modos suaves, não falha as lições de pintura de mestre Domingos António de Sequeira.
Em 1807, durante a primeira invasão francesa, a família real muda-se para o Brasil, para impedir a perda da coroa e da independência. O bilhete de regresso à Europa só chega em 1814. O irmão de Carlota Joaquina, Fernando VII, restaura a dinastia Borbón e escreve-lhe secretamente para lhe pedir a mão da filha. Na missiva, solicita ainda a mão de Maria Francisca, irmã de Maria Isabel, para o seu irmão Carlos Isidro. As negociações arrastam-se, mas as infantas embarcam em direcção a Cádis em 22 de março de 1816. A viagem é atribulada, devido ao estado do mar, pelo que só cinco meses depois chegam ao destino. Dali, ainda têm de rumar a Madrid, onde conhecerão os esposos: já casaram com eles por procuração, através dos seus representantes legais.
Reza a história que Maria Isabel de Bragança teve uma recepção estranha na capital. Marsilio Cassotti confirma no livro Infantas de Portugal, Rainhas em Espanha que as duas raparigas são aceites sem dote. Não é de estranhar. Num continente em guerra com França para impedir o sonho imperial de Napoleão, nenhuma casa real tem dinheiro. Na mesma obra, Maria Isabel é descrita como “roliça, descorada, de olhos esbugalhados, nariz proeminente, boca pequena e aspecto pouco inteligente”. Verdade seja dita: Fernando VII também não é encantador. “Tem baixa estatura, forte compleição, o nariz monumental e o gesto antipático”, escreve Cassotti, além de “modos camponeses”. Apesar de uma primeira impressão negativa, a portuguesa conquista a população quando manda desmarcar os festejos em honra do seu casamento. Tudo para não aumentar o sacrifício do povo, muito massacrado pelas dificuldades trazidas pela Guerra da Independência.
Nem tudo lhe corre de feição, até porque o marido não é um homem apaixonado. Após o nascimento da primeira filha, Maria Isabel de Bragança surpreende a corte espanhola com a decisão de amamentá-la. Não é o costume da aristocracia, muito menos da família real. A estada no Brasil pode ter influenciado o arrojo, pois as brasileiras crioulas preferem dar peito aos filhos, para evitar que sejam nutridos por mulheres de raças misturadas. A bebé não sobrevive.
A segunda gravidez não tarda. O parto é difícil e prolongado. O esforço e o cansaço provocam convulsões que paralisam o corpo da rainha. Parece morta. Maria Isabel sofre de epilepsia, mas os cirurgiões que a acompanham desconhecem esse facto. Por isso, solicitam ao rei uma cesariana de emergência para salvar o feto. Apesar dos apelos da irmã Maria Francisca, que revela a doença aos especialistas e os adverte sobre a possibilidade de a soberana estar viva, a cirurgia avança. Quando lhe cortam o ventre, Maria Isabel grita de dor, mas a operação continua e dá origem a uma grande hemorragia. A paciente não resiste. Nas ruas, começa a circular o boato de que a rainha morreu duas vezes.
A criança acaba por falecer minutos depois. Estamos em 26 de dezembro de 1818. Nesse dia, já se encontravam depositados no Museu do Prado, a mando da rainha, 850 quadros. A pinacoteca abre ao público em Novembro do ano seguinte, sem a presença da sua fundadora. Na inauguração, apenas estavam expostas 311 obras, provenientes de coleções reais e da nobreza, seleccionadas pelo marquês de Santa Cruz e pelo pintor da corte, Vicente López. Hoje em dia, o acervo do Museu do Prado engloba cerca de 8600 pinturas, mais de cinco mil desenhos, duas mil gravuras, setecentas esculturas e fragmentos escultóricos, cerca de mil moedas e medalhas e quase duas mil peças de artes decorativas.

Fontes: Museu Calouste Gulbenkian

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