Nunca preso
a uma fórmula, irrequieto, pouco sensível aos modismos, sempre pesquisando
novos materiais e novas expressões, Mário Cravo Jr é sem dúvida o mais
impactante artista que a Bahia teve nestes últimos cem anos.
Assim que a
homenagem no Museu de Arte Moderna era mais do que merecida. Mas, sejamos honestos,
esperava outra abordagem desta mostra, o espaço inteiro do Solar do União sendo
ainda pouco para reverenciar nosso maior modernista.
O que foi
apresentado na sala nobre é forte, sem falha, equilibrado. Mas com evidente
gosto a pouco. Poucas esculturas – cadê o Antônio Conselheiro? - nenhuma gravura, aquarela ou desenho, nenhuma
documentação sobre a trajetória, nem contextualização. Onde estão as fotos dele
com a família, a infância em Alagoinhas, estudante no António Vieira, sua
vontade de ser astrônomo, as viagens pelo Nordeste, a passagem pelo próprio MAM
como diretor, as relações com o poder, as personalidades de seu tempo e com os
mitos afro-brasileiros? Não existem vídeos mostrando o Parque das Esculturas, o
artista no seu atelier, trabalhando, conversando com Jorge Amado ou Lina Bô
Bardi? Fotos das obras dispersas pela Bahia – a Fonte da Rampa do Mercado, o
monumento a Clériston de Andrade, a Cruz Caída do belvedere da Sé, o Cristo
Crucificado de Vitória da Conquista e tantas outras – correspondência com outros
artistas, lista das exposições pelo mundo afora?
Um trabalho
sério de pesquisa com os familiares e amigos, em bibliotecas, galerias, museus
- São Paulo, Nova Iorque, São Petersburgo, Berlim, Jerusalém etc - para editar um catálogo consequente senão
exaustivo, daqueles que se guardam com cuidado, era o mínimo que se podia
esperar de uma exposição celebrando o centenário de Mário Cravo.
Nem as duas
obras deslocadas da sede dos Correios na Pituba mereceram o devido pedestal e
iluminação especial. Jazem no chão irregular do pátio, debaixo de um flamboyant
com direito a acompanhamento de lixeira, sem qualquer notícia explicativa.
A Bahia
continua fazendo cultura como uma velha solteirona faz tricô, sentada junto a
janela, olhando a vida passar. Não me convenceu adaptar o Palacete das Artes em
Museu de Arte Contemporânea. Complexo de vira-lata. Os grafiteiros convidados
dão saudade de Bansky e dos Gémeos. Quanto à instalação de uma pista de
skate... Misericórdia! Já que estamos na apelação, porque não colocar um
paredão para nos deliciar com sofrência? “Ninguém é de ferro” de Wesley Safadão
na mansão do Comendador Bernardo Martins Catharino era só o que faltava. E o
que estão fazendo com o Museu de Arte da Bahia? Todo o passado da Bahia na
reserva técnica. Coitada da Silvia Athayde!...
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