sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

EMMA VALLE

De repente, 24 anos depois de sua morte, todo mundo procurando alguma obra desta excepcional artista.

Tem 47 anos que coleciono sua obra...



EMMA VALLE (1933-2000)

Antes de falar desta artista, devemos nos lembrar de outro artista, o argentino Reinaldo Eckenberger que chegou a Bahia em 1965 para estudar canto lírico na então famosa escola de Música da Ufba e, depois de alguns meses no hotel Colonial – hoje Aliança Francesa – foi morar na pensão o “Cartola Internacional” da ladeira de Santa Tereza.  Em espaço limitado por algumas folhas de compensado, o jovem Reinaldo, descobrindo que desafinava, abandou sem demora os estudos musicais. Começou a brincar com diversos materiais, criando peças pouco académicas que muito intrigaram a dona da pensão. Estamos falando de Emma Valle. Assim, de uma coabitação eventual, dois artistas iniciaram um voo tão esplêndido quanto solitário.


O mundo de Emma Valle começa e termina em Salvador, ou melhor dito, no reduzidíssimo espaço do Cartola Internacional, a poucos metros do Museu de Arte Sacra. São orixás, navegadores, casebres e velhas igrejas, baianas de acarajé, ônibus, barcos, fiação elétrica, negros, brancos, mestiços e rastafáris. Tudo devidamente identificado nas costas da obra, assinado e datado mais de uma vez.



“Todo meu trabalho tem uma história. Um deles, por exemplo, conta a história d um burguês que vai pescar num fim-de-semana. Ele pega um peixe muito grande e quase cai na água. Consegue controla-lo e leva para a esposa. ”



Os suportes? Vários e quaisquer. Prato de porcelana quebrado e mal colado, azulejos, tacos, pé de mesa, telas, papelão, tampa de fogão, figurinhas de gesso...



Numa entrevista para o Shopping News em 1976, ela declara: “(...) não me considero uma artista cara. Vendo barato, Só não vendo fiado ou a prazo. O preço que cobro condiz com a qualidade do trabalho. Eu só trabalho com material bom e por isso meus quadros duram séculos, como os de Miguel Ângelo, Leonardo da Vinci...”



Naïf, Emma? Nada disso. A ambição dos ingénuos é igualar os académicos e seu charme é de não conseguir. Dona Emma pertence a um núcleo mais profundo, mais atormentado. O mundo dos que vivem um delírio pessoal e trabalham a margem das convenções. Aquilo que o pintor francês Jean Dubuffet denominou de “Art brut” em 1945. Aquilo que a psiquiatra Nise da Silveira chamava de Imagens do Inconsciente. Aquilo que os anglo-saxónicos definem como “Outsiders”.


Emma Valle talvez seja a maior artista da Bahia.

Dimitri Ganzelevitch

Salvador 30 de julho de 2019.

 

 


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