Com Cais do Valongo, no Rio, Brasil ganha seu 21º patrimônio histórico reconhecido pela Unesco
Porto de chegada de quase um milhão de escravos africanos, o Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, foi declarado Patrimônio Mundial da Unesco, a agência cultural da ONU.
Esse é o 21º patrimônio histórico reconhecido pela ONU no país, em uma lista que inclui centros históricos, parques nacionais e áreas preservadas em várias regiões.
O Brasil foi o principal destino de escravos africanos nas Américas, e o Cais do Valongo se tornou o maior porto de entrada deles no país até meados do século 19. Ele ficou por décadas aterrado e sua riqueza começou a ser redescoberta durante o trabalho de revitalização da zona portuária do Rio para as Olimpíadas de 2016.
"É o mais importante vestígio físico da chegada dos escravos africanos ao continente americano", disse, em nota, a Unesco.
A presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Kátia Bogea, disse que, "o Valongo merece estar junto de lugares como Hiroshima e Auschwitz para nos fazer lembrar das partes da história da humanidade que não podemos esquecer".
Segundo o Iphan, o desembarque de escravos no Rio foi integralmente concentrado na região da Praia do Valongo a partir de 1774, e ali "se instalou o mercado de escravos que, além das casas de comércio, incluía um cemitério e um lazareto".
Com as obras do Porto Maravilha, foram encontrados milhares de objetos pessoais mas também pratos e talheres da época
O calçamento de pedra que constitui o Sítio Arqueológico do Cais do Valongo foi parte das obras de infraestrutura realizadas em 1811, "com o incremento do tráfico e o fluxo de outras mercadorias".
Após a declaração da República no Brasil, em 1889, o cais do Valongo foi aterrado. Com as obras do Porto Maravilha, foram encontrados milhares de objetos pessoais na região, como partes de calçados, botões feitos com ossos, colares, amuletos, anéis e pulseiras em piaçava.
Sepultura coletiva
Após uma longa jornada pelo Atlântico, africanos esquálidos eram mantidos na região portuária em chamadas casas de engorda para se recuperarem. Depois, eram vendidos e levados a trabalhar em plantações de várias regiões, além de serem empregados em atividades domésticas e construções do Rio.
Muitos, no entanto, não sobreviviam. A poucos quarteirões do cais está um cemitério onde, entre 1770 e 1830, milhares de escravos foram enterrados. Restos desse local foram encontrados por acaso em 2011, quando um casal reformava sua casa na área e se deparou com ossos e crânios.
Muitos ex-escravos se estabeleceram na área e formaram o que se conhece como Pequena África
O tráfico de escravos estrangeiros foi banido em 1831, mas continuou ilegalmente até a escravidão ser abolida no país, em 1888.
Cerca de quatro milhões de escravos chegaram ao Brasil entre os séculos 17 ao 19, o que representa quase 40% dos escravos que desembarcaram nas Américas.
A partir de 2012, o Cais do Valongo passou a fazer parte de um circuito histórico de celebração da herança africana no Rio.
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