Uma nota sobre o documentário PORTO DE ORIGEM, em cartaz até quarta (11/12) no Cinesystem Frei Caneca (SP) e em dois cinemas de Salvador:
Embora não tenha perdido nada do sotaque, o francês Bernard Attal mora em Salvador há 19 anos. Lá possui laços familiares e já havia dirigido vários filmes ambientados na Bahia, entre os quais "A Coleção Invisível" e "Sem Descanso". Revirando o baú de sua avó, ele encontrou um título de investimento na construção do porto da Bahia datado de 1910. O achado o motivou a realizar um documentário sobre a região central de Salvador, próxima ao porto e conhecida como “Comércio”.
Quem olha a paisagem desde a Cidade Alta vê aquele vasto conjunto de edifícios de várias épocas abaixo do Elevador Lacerda, em sua maioria marcados pelo tempo e pelo abandono. Poucos, porém, se aventuram a percorrer suas ruas e saber a vida que existe ali. É o que faz PORTO DE ORIGEM de maneira mais ou menos semelhante ao que Murilo Salles fez com o entorno da Baía de Guanabara em "Uma Baía".
A abordagem de Attal é mais didática e menos poética que a de Salles, mas tem seu charme. Dividindo o filme em blocos temáticos e recorrendo a especialistas, ele aborda as transformações arquitetônicas da região, assim como os muitos ofícios praticados por quem ainda tem seus negócios numa área outrora pujante. O porto de Salvador já foi o único do Brasil, por onde escoava a rota das Índias. A época era marcada pelas atividades dos grandes trapiches (armazéns), por um comércio vibrante que abrangia a prostituição e por obras de arte no interior de prédios que ainda hoje se conservam.
Na atualidade, pequenos comerciantes, costureiras, restaurantes populares e trabalhadores de rua sobrevivem entre as paredes descascadas dos prédios. Attal mantém ótimas conversas com um velho engraxate e um consertador de bolas, figuras típicas de uma era em extinção. Através de curtos perfis de gentes e ofícios, o cineasta procura captar o espírito do lugar enquanto fornece uma visão diversificada dos espaços do bairro. Uma sequência inicial em computação 3D ilustra a evolução urbanística do Comércio entre os séculos XVI e XIX. Na conclusão, um apanhado de iniciativas recentes de revitalização com equipamentos culturais e de empreendedorismo.
Passado, presente e possível futuro da primeira zona comercial do Brasil se entrelaçam nesse carinhoso olhar estrangeiro e baiano ao mesmo tempo.
Carlos Albereto Mattos
O trailer: https://www.youtube.com/watch?v=AAsgbTGtkY0
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