sábado, 3 de dezembro de 2016

DECADÊNCIA

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL A TARDE
                                                                                                    DESTE SÁBADO 3 DE DEZEMBRO



Além da privatização do Banco do Brasil, outra notícia desanimou todos aqueles que apostaram no centro histórico de Salvador após a restauração na década de 90: o fechamento da agência do BB no Cruzeiro de São Francisco. No princípio do ano, a agência dos correios fechou e até hoje não tem outro ocupante, apesar de localização privilegiada. É assim que se resolvem os problemas do turismo? E os contribuintes, como ficam? Hoje, comerciantes e moradores assistem, inconformados, ao arruinamento de um patrimônio tombado pela Unesco a pedido do ACM, então governador. Existe uma política séria para o centro histórico de Salvador? Acreditamos que não.
A reabilitação executada por 3 equipes revezando-se pelas 24 horas, incluiu a limpeza sócio-étnica do Pelourinho. O cenário para novela mexicana, absurdamente artificial, desprovido de vida, foi entregue a um bando de oportunistas que acabou abandonando os espaços sem pagar nem aluguel nem empréstimo do BNDS. Durante os vinte anos seguintes fecharam-se centenas de lojas e restaurantes, teatros e cinemas, vítimas de impostos extorsivos e leviandades administrativas. As empresas de transporte colocam cada vez menos ônibus para a Barroquinha e a Praça da Sé, os planos inclinados e o elevador Lacerda fecham sem aviso prévio, abrem por algumas semanas, fecham de novo. Obras começam e são abandonadas sem explicação. 


A segurança é deficiente e a limpeza vergonhosamente precária. Prefeito: cadê a campanha de conscientização? Os monumentos gritam por manutenção, como no escabroso caso do pátio do convento de São Francisco.
Estamos cansados de projetos, promessas e obstáculos cada vez que um particular pede ao IPHAN e SUCOM para adequar sua modesta moradia para às necessidades da vida moderna, enquanto basta ser atriz global ou empresa poderosa para conseguir toda e qualquer modificação.
O esvaziamento do centro histórico é reversível, sim. Mas para isto, é imprescindível que as autoridades envolvidas condescendam em sentar à volta de uma mesa com os interessados, sem prepotência, para ouvir, ouvir mesmo, os pedidos de quem sustenta o centro histórico, muito mais que os bacanas que só saem do carro quando este para na porta de alguma secretaria e nunca jamais andam pelas ruas, fazem compras, almoçam ou jantam no bairro do qual tiram seu salário.



Vinte anos se passaram. O cenário continua artificial, cada dia mais decadente. Vão abrir hotéis de luxo? Maravilha! Ainda tem quem acredite, se bem que nenhum empreendedor baiano. Mineiro, gringo, paulista, sim. Mas baiano, não. Baiano não gosta do centro histórico. Tem até vergonha. Prefere shopping centers, espigões e viadutos. Agora, quando vierem os turistas VIP para os belos 5 estrelas, vão fazer o quê, neste bairro sujo e deprimente?

Nenhum comentário:

Postar um comentário