ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL A TARDE
DESTE SÁBADO 3 DE DEZEMBRO
Além da
privatização do Banco do Brasil, outra notícia desanimou todos aqueles que
apostaram no centro histórico de Salvador após a restauração na década de 90: o
fechamento da agência do BB no Cruzeiro de São Francisco. No princípio do ano,
a agência dos correios fechou e até hoje não tem outro ocupante, apesar de
localização privilegiada. É assim que se resolvem os problemas do turismo? E os
contribuintes, como ficam? Hoje, comerciantes e moradores assistem, inconformados,
ao arruinamento de um patrimônio tombado pela Unesco a pedido do ACM, então
governador. Existe uma política séria para o centro histórico de Salvador?
Acreditamos que não.
A
reabilitação executada por 3 equipes revezando-se pelas 24 horas, incluiu a limpeza
sócio-étnica do Pelourinho. O cenário para novela mexicana, absurdamente
artificial, desprovido de vida, foi entregue a um bando de oportunistas que
acabou abandonando os espaços sem pagar nem aluguel nem empréstimo do BNDS.
Durante os vinte anos seguintes fecharam-se centenas de lojas e restaurantes,
teatros e cinemas, vítimas de impostos extorsivos e leviandades
administrativas. As empresas de transporte colocam cada vez menos ônibus para a
Barroquinha e a Praça da Sé, os planos inclinados e o elevador Lacerda fecham
sem aviso prévio, abrem por algumas semanas, fecham de novo. Obras começam e
são abandonadas sem explicação.
A segurança é deficiente e a limpeza vergonhosamente
precária. Prefeito: cadê a campanha de conscientização? Os monumentos gritam
por manutenção, como no escabroso caso do pátio do convento de São Francisco.
Estamos
cansados de projetos, promessas e obstáculos cada vez que um particular pede ao
IPHAN e SUCOM para adequar sua modesta moradia para às necessidades da vida
moderna, enquanto basta ser atriz global ou empresa poderosa para conseguir
toda e qualquer modificação.
O
esvaziamento do centro histórico é reversível, sim. Mas para isto, é
imprescindível que as autoridades envolvidas condescendam em sentar à volta de
uma mesa com os interessados, sem prepotência, para ouvir, ouvir mesmo, os
pedidos de quem sustenta o centro histórico, muito mais que os bacanas que só
saem do carro quando este para na porta de alguma secretaria e nunca jamais
andam pelas ruas, fazem compras, almoçam ou jantam no bairro do qual tiram seu
salário.
Vinte anos se
passaram. O cenário continua artificial, cada dia mais decadente. Vão abrir
hotéis de luxo? Maravilha! Ainda tem quem acredite, se bem que nenhum
empreendedor baiano. Mineiro, gringo, paulista, sim. Mas baiano, não. Baiano
não gosta do centro histórico. Tem até vergonha. Prefere shopping centers,
espigões e viadutos. Agora, quando vierem os turistas VIP para os belos 5
estrelas, vão fazer o quê, neste bairro sujo e deprimente?
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