Preciso avisar aos amigos e conhecidos que, a partir dessa quinta-feira, 1 de dezembro, vou sair de cena. Encerro por ora, o papel de repórter de jornal diário que vinha exercendo há 30 anos lamentando não poder mais participar da convivência do dia a dia louco de uma redação. Infelizmente, não foi possível continuar no jornal À Tarde devido à situação pessoal surreal que se criou lá. Muitos devem lembrar da série de matérias e notas sobre crimes ambientais ocorridos em Salvador que eu e outros sete colegas produzimos entre 2011 e 2012.
Pois bem, devido a essas matérias um grupo de empresários acusados pela PF e Ministério Público de cometer os tais crimes resolveu processar os repórteres que assinaram as matérias por calúnia e difamação. Não o jornal. Foram em cima dos repórteres. Não pediram direito de resposta, se recusaram a falar quando procurados. Preferiram buscar o já conhecido meio de intimidação que está se tornando uma regra no Brasil, que é a “censura judicial”.
O caso dos repórteres de A Tarde é semelhante ao que ocorreu com o jornal Gazeta do Povo do Paraná, quando os companheiros de lá foram acionados por juízes por escrever matérias sobre os salários dos magistrados daquele estado. Isso tudo, faz parte do jogo. É preciso enfrentar. Mas, às vezes, o destino nos apronta algumas “falcetas”, como se dizia no passado. Deu-se que após esse tempo todo, com os processos correndo na justiça, o mesmo grupo de empresários resolveu investir no A Tarde, criando a tal situação surreal a que me referi acima.
Os novos gestores do jornal tentaram um acordo com os empresários para que os processos fossem retirados e chegou a haver um aceno positivo da parte deles, mas como isso não ocorreu, o divisor de águas para mim foi a recente segunda condenação, em primeira instância, de Aguirre, meu filho e um dos integrantes do grupo dos processados. Dessa forma não há como continuar no jornal.
Nós, os oito processados, que poderiam ser chamados também de os oito odiados, (hehehe), conversamos muito sobre essa guerra e sempre achamos que o saldo continua sendo positivo. Graças às matérias que versavam, principalmente, sobre a destruição dos remanescentes de mata atlântica da Avenida Paralela, o que é fácil de se constatar sem muito esforço, além das ligações de empresários do ramo imobiliário com a prefeitura, conseguimos duas vitórias importantes para a cidade: a repercussão foi tanta que o Tribunal de Justiça da Bahia acabou anulando o PDDU aprovado na calada da madrugada pela Câmara Municipal a pedido do ex-prefeito João Henrique, que abriu brechas para a destruição ambiental de Salvador.
Em segundo lugar, ao colocar em foco a administração do ex-prefeito o Tribunal de Contas dos Municípios rejeitou as contas dos quatro anos do seu segundo mandato. Isso tudo não é pouco.
E nos dá paciência para esperar quep as condenações em primeiro grau sejam revistas em instâncias superiores em nome da liberdade de imprensa.
Num filme dos Irmãos Marx, Groucho que fazia o papel de um acadêmico, me vem com essa: “Minha grande contribuição para a Academia será minha aposentadoria”. Ainda não chegou minha vez de pendurar as chuteiras na profissão. Mas isso é uma conversa pra janeiro.
Então, parodiando Pernalonga, “por enquanto é só pessoal”.
Biaggio Talento
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