segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

VÁ EM PAZ, POETA!

Stella Caymmi



Desde que comecei a ir aos shows da minha mãe Nana, ainda criança, me lembro do Ferreira Gullar e Thereza Aragão sempre no camarim após a apresentação fazendo a maior festa. Os três eram grandes amigos. 

Passaram-se os anos, acompanhei como jornalista o poeta Bruno Tolentino que iria entrevistar Gullar e Niemeyer para a revista Bravo!. Foi um papo sensacional. Ao final, conversamos sobre a fé. Voltamos os três, Gullar, Bruno e eu, de táxi para casa. 

Passando pelo Cemitério São João Batista, em Botafogo, Gullar vira-se e diz para dois católicos surpresos: "tantos amigos enterrados aqui, gostaria de ter fé" . 

Mais anos se passaram. Estávamos em 2014, ano do centenário do meu avô Dorival, quando tive a felicidade de participar do mesmo evento cultural produzido pelo meu amigo Nelson Freitas, da Água Grande, na cidade de Petrópolis. Assisti à sua brilhante palestra sobre crítica da arte. 

Gullar tinha dado uma guinada, incompreendida por muitos, na sua reflexão sobre os rumos das artes plásticas no mundo contemporâneo. Uma lucidez extraordinária, além de uma verve afiada e muita coragem para nadar contra a maré! 
Fiquei muito impressionada com o que disse a Claudia, sua segunda mulher, antes de morrer: "se você me ama, me deixa ir em paz". 

Vá em paz poeta! Que Deus te surpreenda!

Nenhum comentário:

Postar um comentário