As raríssimas e poucas imagens de índios baianos no século XIX
A Marc Ferrez devemos as únicas imagens existentes de índios baianos no século XIX, meia duzia de fotografias, a maioria produzidas em estúdio e pelo menos uma no seu habitat, em aldeia indígena do sul da Bahia. Não sabemos a que etnia pertencem; a da moça com a criança aqui reproduzida foi catalogada como Botocudos da Bahia, nome genêrico que naquele tempo se dava a diversas tribos Aymorés e cuja denominação tinha como referência o uso do batoque nos lábios, que não é o caso das fotografias em questão.
Ferrez fotografou os índios da Bahia em 1875, então fazendo um levantamento fotográfico por encomenda da Comissão Geográfica e Geológica do Império, sob a coordenação do geólogo franco-canadense Charles Frederick Hartt. Já se fotografavam índios no Brasil desde 1860 quando o italiano Bartolomeu Bossi fez uma incursão pelo Mato Grosso e mais tarde, entre 1865 e 1867, Albert Fritz, em incursões pelo Amazonas fotografou os Ticunas, Umauás e Miranhas e em 1873 o português Felipe Augusto Fidança fez belas fotos dos índios à margem do Rio Negro.
Na iconografia indígena brasileira do século XIX a prioridade dos fotógrafos, todos estrangeiros, foi registrar tribos do Amazonas e do Mato Grosso. Daí, a importância das fotos de Ferrez, embora a maioria tenham sido feitas em estúdio. A foto que ilustra este post feita no habitat provavelmente foi feita com placas secas (albume) já que seria muito complicado entrar na selva com o pesadíssimo equipamento para revelação de placas úmidas. Os índios ficavam imóveis, posando, senão o resultado da fotografia seria um borrão.
Praticamente todas as fotos produzidas no século XIX por Ferrez, Fidança, Fritz, Stradelli, Hermann Meyer, e muitas dos índios Carajás, de autor desconhecido, feitas em 1888; fotos no habitat dos indígenas, apresentam a mesma característica de pose para a câmara, ou, simulação. Simulavam-se o ato de caçar, de fazer fogo, de remar nas canoas, de portar as bardanas, danças rituais… os índios eram ótimos atores de modo que os fotógrafos conseguiram um gestual muito próximo da realidade. No primeiro decênio do século XX não foi diferente, assim nos revelam as fotos de Vicenzo Pastore (1905), Walter Garbe (1909) e mais tarde (segunda década do século) as imagens de Luiz Thomas Reis, fotógrafo e cineasta oficial da expedição do Marechal Rondon, o criador do Serviço de Proteção aos Índios.
Marc Ferrez ganhou um bom dinheiro com os seus registros de índios, incluindo a série dos baianos, vendia copias para estrangeiros e nacionais interessados, simpatizantes do índio enquanto uma referência exótica de nossas raízes, mais um modismo de época do que uma curiosidade antropológica. (Nelson Cadena)
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