Na incontornável coluna do Levi Vasconcelos (26/02/2019), um
título me deixou de queixo caído: “Neto vai desmontar prefeitura para limpar a Praça Municipal”.
Esta decisão apoia-se na pretensa decisão judicial “com base
no argumento de que o prédio foi construído sem a autorização do IPHAN”.
Ora, ora! E esse órgão, dirigido por leigos e movido a
incompetência, pelo menos na Bahia, tem crédito algum para palpitar sobre
qualquer assunto ligado ao patrimônio? Posicionou-se no caso do vandalismo ao
sacrário da catedral? Nos inúmeros puxadinhos do centro histórico? No
arruinamento dos três barrocos conventos franciscanos? Nas esquadrilhas de
alumínio e contadores da Coelba no Santo Antônio? No excesso de decibéis
agredindo um bairro tombado pela UNESCO? Abriu o bico quando da “novelização” e
higienização do Pelourinho sob a batuta do ACM e acólitos? Na demolição pela
prefeitura de seis casarões na Ladeira da Misericórdia? Então, por favor,
fiquem lá bem caladinhos no seu adormecido solar e não se metam.
Mais irritado fiquei quando o prefeito equiparou o turismo em
Salvador e em Marrakesh, cidade que conheço quase tão bem como nossa maltratada
capital. A antiga cidade imperial, logo no princípio da colonização francesa, recebeu
um conjunto de medidas visando preservar monumentos e paisagens urbanas. Nenhum
imóvel podia ultrapassar a cimeira das palmeiras, os vários tons avermelhados
eram os únicos autorizados para pintar os imóveis e nenhuma árvore podia ser
cortada. Recuperando a independência, os novos governos tiveram a sabedoria não
somente de manter as regras estabelecidas, mas de multiplicar parques e
jardins. Quem esteve lá com certeza se deslumbrou com o Jardin Majorelle – que
pertenceu, em parte, ao Yves Saint-Laurent - e deve ter ido até a reserva da Menara
andar de camelo. Todas as novas avenidas receberam árvores, em especial
jacarandás, para sombrear e embelezar a cidade inteiramente tombada pela
UNESCO. Antigos palácios foram transformados em charmosos restaurantes e não existe
hotel de luxo que não tenha seu suntuoso jardim, com fontes azulejadas. Os
“souks” rivalizam com o bazar de Istambul ou o Khan Khalili do Cairo. Não é por
acaso que “em um dia tem mais turistas que em um ano em Salvador”.
Em nome de que critério estético se pretende derrubar o
imóvel do internacionalmente respeitado arquiteto João Filgueiras Lima para
ampliar o belvedere, se durante seis anos a parte térrea da prefeitura esteve
proibida ao público?!
Não existe a mínima unidade estilística na Praça Municipal e vão
demolir uma obra única que ousa pertencer a seu tempo? Comecem por retirar as enormes
e ridículas letras que mediocrizam o dito espaço!
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