terça-feira, 19 de março de 2019

UMA PONTE QUE SEPARA


Franklin Maxado*


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 A ponte Salvador-Itaparica  tornará praticamente  a cidade numa capital do Recôncavo e do litoral, afastando-a mais do  interior e dos  sertanejos baianos. Talvez, por isto mesmo, o Governador Rui Costa anunciou restabelecer a linha de trem para Feira de Santana contrabalançando um pouco o tráfego que será desviado  da Via BR-116.  Muito  do atual movimento rodoviário preferirá a BR-101, a chamada Rio-Bahia litorânea, a  qual será beneficiada com a ponte Salvador-Ilha de Itaparica;
 Essa linha de trem deveria  ser a extensão  do Metrô até Feira mesmo passando por Santo Amaro ou São Francisco  do Conde. Ou ainda, Conceição do Jacuipe e Amélia Rodrigues ajudando a diminuir o tráfego de veículos do interior para a capital,  favorecendo o livre trânsito  e  combatendo a poluição.
É bom lembrar que Metrô é abreviatura de trem metropolitano.
Essa  ponte, além de isolar a maior parte do território baiano de sua capital, ela vai ocasionar muitos mais engarrafamentos com carros na chamada "Cidade Baixa" devido ao movimento de caminhões e cargas para o seu porto.
O fato leva o urbanista Paulo Ormindo Azevedo, entre outros,  a condená-la achando que o ideal seria uma rede de estradas de rodagem circundando a Baía de Todos os Santos, interligando os seus Municípios e favorecendo o Turismo.
Como está planejada, vai marginalizar mais  essas localidades.
Quanto à Feira de Santana, cidade que desenvolveu o comércio  com o movimento de veículos, se não houver uma compensação, ela  e seus vizinhos devem se tornar a "Baixada Baiana" numa versão da  conhecida "Baixada Fluminense",  sujeita a mais crimes, tráfico de drogas e armas, desemprego, doenças, miséria, marginalizações, 
A ponte assim, ao invés de integrar, desune, separando  seu litoral e dando as costas para todo o interior do Estado, desviando muito movimento.
 Parece que há vontade política em fazê-la e conta com a simpatia dos chineses. Para eles, é relativamente fácil pois só são 15 quilometrozinhos . A sua tecnologia  já fez recentemente uma ponte de 50 km. ligando Hong Kong a Macau pela Baía de Xangai. 
Afinal, temos uma capital à beira-mar para se comunicar mais com a Europa, já que os portugueses  colonizadores foram os seus fundadores. O sonho de interiorizar a capital , esvaiu-se e , com a ponte para Itaparica agora, acentua mais esta distância  para o caboclo mestiço e para o sertanejo interiorano. Feira deixa de ser o "Portal do Sertão" para ser a periferia. Sem ao menos ter um aeroporto efetivo como alternativa  ao da capital.

*Franklin Maxado é jornalista, poeta e cordelista, diretor da Academia Feirense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana.

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