terça-feira, 4 de abril de 2023

FRANZ POST POR TOM PAVESI

 

Frans Post no Louvre e no Brasil

Frans Post no Louvre e no Brasil

Frans Post no Louvre e no Brasil a memória retratada do primeiro paisagista das Américas e o primeiro pintor das paisagens do nordeste brasileiro no século XVII.

Frans Post (ca.1612-1680).
“Retrato de Frans Post” (ca; 1655), por Frans Hals (1582/1583-1666). Worcester Art Museum (EUA).
Foto: Wikimedia Commons.

Frans Post (ca.1612-1680) pintor holandês que, após sete anos no Brasil (1637-1644), impressionado com a luz e a beleza da natureza tropical, trouxe para Europa as primeiras paisagens pintadas “in situ” do continente Americano (18 óleos), e uma grande parte pintada em seu ateliê em Haarlem (Holanda), após seu retorno em 1644. Totalizando aproximadamente 150 obras.

Reproduziu a vida cotidiana dos habitantes (relação colonos e escravos), vilas indígenas, engenhos, animais, portos, fortificações, planos geográficos e costumes da época.

Principe João Maurício de Nassau-Siegen (1604-1679).
“Retrato de João Maurício de Nassau-Siegen” (ca.1670), por Jan de Baen (1633-1702). Museu Mauritshuis (Holanda). Foto: Wikimedia Commons.

Dotado de uma formação clássica da pintura holandesa, Frans Post partiu em 1637, aos 25 anos, para a descoberta do “Novo Mundo” (nordeste do Brasil) como diziam na época, a convite do Principe João Maurício de Nassau-Siegen (1604-1679), primo de vários reis europeus, nomeado em 1636, governador-geral dos territórios holandeses do Brasil, pela poderosa Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, permanecendo no país até ocupação portuguesa, em 1644.

Frans Post pintou aproximadamente 150 obras entre pinturas e desenhos, 32 são assinados e datados, 40 apenas assinados. Poucas são conhecidas antes da sua parte partida da Holanda ao Brasil.

Da totalidade dos quadros pintados por Post, o príncipe João Maurício de Nassau-Siegen ofertou 27 obras ao rei Luís XIV (1643-1715) em 1679, e outras 7 adicionadas mais tarde. Nos reinados seguintes muitas desapareceram e outras foram vendidas.

Das 34 pinturas da coleção de Luís XIV, 18 foram pintadas no próprio local (in situ) em regiões diferentes do Brasil, sendo que 8 estão atualmente no Louvre (4 delas são em grandes formatos), uma está no museu Mauritshuis, em Haia (Holanda), uma outra na coleção Cisneros em Nova York e uma no Instituto Ricardo Brennand, em Recife (Brasil). Aliás, importante museu brasileiro que guarda uma importante coleção de 15 óleos (10%) da totalidade das obras de Frans Post e uma série do seu conterrâneo e pintor holandês, Albert Eckhout (1610-1666), que o acompanhou nessa aventura pelo Brasil.

Pintura holandesa no século XVII.

O século XVII é considerado o período de ouro da arte holandesa, com o surgimento dos grandes pintores barrocos que possuem obras por todo o continente europeu. Artistas como: Rembrandt (606-1669), Frans Hals (1582-1666), Johannes Vermeer (1632-1675), Carel Fabricius (1622-1654), Pieter De Hooch (1629-1684), Jacob Vans Ruysdael (1628-1682), Gillis van Coninxloo (1544-1607), Gerard Dou (1613-1675) e outros.

Mais de cinco milhões de pinturas foram produzidas na Holanda. Os mecenas que encomendavam e que alimentavam essa arte, vinham não apenas da classe dominante, mas também da classe média ou mesmo de um rico camponês.

Podemos ligar a idade de ouro da pintura holandesa ao barroco por causa do seu realismo, rompendo com as figuras alegóricas idealizadas dos períodos anteriores, é essencial dotá-la de uma forte especificidade.

“La Cuisinière hollandaise” (164), de Gerard Dou (1613-1675). Museu do Louvre. Foto: Tonny Qerrec.

A religião protestante mantém esta pintura afastada da propaganda religiosa preconizada pelo Concílio de Trento (1545-1563). Não está, portanto, sujeito à pesada supervisão ideológica da Igreja Católica a que estão sujeitos os países do sul da Europa e a Flandres. Em troca, o calvinismo impõe seu estreito rigor à população e não se encontrará entre os holandeses a nudez provocadora d italiano Caravaggio (1571-1610) ou do belga, Rubens (1577-1640).

Impressionado com a natureza brasileira, seguindo os passos da escola holandesa e dos seus contemporâneos, Frans Post, procurou sempre destacar com suas rigorosas composições a vida dos trabalhadores escravos, dos indígenas das regiões, a natureza do local com seus infinitos coqueiros, mamoeiros, flores e plantas exóticas, bichos estranhos, árvores de vários tamanhos e espécies.

Todo um arsenal de sensações e novidades que excitaram a sua curiosidade na composição dos temas, fornecendo um caráter curiosamente moderno para época desse Brasil Colonial.

1 – “Un Moulin à sucre tourné par l’eau avec les fours où on cuit le liquide de la canne dont on fait le sucre”, au Brésil.

Frans Post no Louvre e no Brasil
“Un Moulin à sucre tourné par l’eau avec les fours où on cuit le liquide de la canne dont on fait le sucre”, au Brésil.
Realizado entre 1650 e 1669, por Frans Post. Museu do Louvre. Foto: René-Gabriel Ojéda.

Dimensões: Altura: 1,17 m (altura com acessórios: 1,26 m) x Largura: 1,67 m (largura com acessórios: 1,75 m).

Material e Técnica: Óleo sobre tela.

Antiga coleção de Luís XIV (1643-1715).

Tradução livre em português: Engenho movido a água com os fornos onde se coze o líquido da cana de onde se faz o açúcar”, no Brasil.

Este quadro, cujo tema central é o engenho de açúcar, foi pintado por Frans Post entre 1650-1655, senão, segundo Pedro Corrêa do Lago, foi pintado mais tarde por volta de 1661-1669.

Os detalhes são mais precisos do que na maioria das obras deste período, apesar das grandes dimensões da pintura: a estrutura do moinho, a construção de navios à beira de um rio, a senzala dos escravos, a casa do proprietário, etc.

A visão panorâmica é acentuada pela perspectiva atmosférica: marrom em primeiro plano, depois verde e azul ao longe. E os elementos do primeiro plano se limitam a um pouco de vegetação dos dois lados e animais exóticos.

2 – “La demeure d’un labrador” (planteur de canne à sucre), dit auparavant Le Village de Serinhaem (en Pernambouc).

Frans Post no Louvre e no Brasil
“La demeure d’un labrador” (planteur de canne à sucre), dit auparavant Le Village de Serinhaem (en Pernambouc)
Realizado entre 1650 e 1669, por Frans Post. Museu do Louvre. Foto: René-Gabriel Ojéda.

Tradução livre em português: “Casa de labrador” (plantador de cana-de-açúcar), antigamente conhecida como Aldeia de Serinhaem (em Pernambuco).

Dimensões: Altura: 1,12 m (altura com acessórios: 1,21 m) x Largura: 1,46 m (largura com acessórios: 1,54 m).

Material e Técnica: Óleo sobre tela.

Antiga coleção de Luís XIV (1643-1715).

Quadro pintado na Holanda por volta de 1650-1655, senão, segundo Pedro Corrêa do Lago foi pintado mais tarde por volta de 1661-1669.

Podemos reconhecer aqui, além da casa de um labrador, uma aldeia portuguesa e uma capela. Sousa Leão, que desconhecia o titulo original, acreditou poder identificar com a pintura numerada da lista de João Maurício de Nassau-Siegen e, de forma gratuita, intitulou-a de Serinhaem.

3 – Un Cloître des Pères Capucins (et) La Maison d’un Portugais noble.

Frans Post no Louvre e no Brasil
“Un Cloître des Pères Capucins [et] La Maison d’un Portugais noble”. Realizado entre 1650 e 1669, por Frans Post.
Museu do Louvre. Foto: René-Gabriel Ojéda.

Tradução livre em português: “Um Claustro dos Padres Capuchinhos (e) A Casa de um Fidalgo Português”.

Dimensões: Altura: 1,01 m (altura com acessórios: 1,105 m) x Largura: 1,365 m (largura com acessórios: 1,457 m).

Material e Técnica: Óleo sobre tela.

Antiga coleção de Luís XIV (1643-1715).

Quadro pintado na Holanda por volta de 1650-1655, senão, segundo Pedro Corrêa do Lago, foi pintado mais tarde por volta de 1661-1669.

À direita, a casa do fidalgo português cuja importância na pintura é sublinhada pelo antigo título da obra. À esquerda no alto, a Capela e convento (claustro). No centro, a casa dos escravos lavradores, em primeiro plano esquerdo árvores, plantas e frutas da flora brasileira.

4 – “Trois diverses Maisons, ou Habitations de Labradores qui plantent le sucre” près de la rivière Paraíba.

Frans Post no Louvre e no Brasil
“Trois diverses Maisons, ou Habitations de Labradores qui plantent le sucre” près de la rivière Paraíba.
Realizado entre 1650 à 1669, por Frans Post. Museu do Louvre. Foto: René-Gabriel Ojéda

Tradução livre em português: “Três Casas diversas, ou Moradas de Labradores que Plantam Cana de Açúcar”, próximo ao Rio Paraíba”.

Dimensões: Altura: 1,01 m (altura com acessórios: 1,105 m) x Largura: 1,365 m (largura com acessórios: 1,457 m).

Material e Técnica: Óleo sobre tela.

Antiga coleção de Luís XIV (1643-1715).

Quadro pintado na Holanda por volta de 1650-1655, senão, segundo Pedro Corrêa do Lago, foi pintado mais tarde por volta de 1661-1669.

A lista de João Maurício de Nassau-Siegen dava o nome do rio que define a região da Paraíba, ao norte de Recife e especifica que vemos no quadro é o Forte Margaretha, na orla do rio (ao fundo, e no centro da pintura) e, na parte alta do monte, à esquerda, uma torre branca serve de sinal para entrada do rio.

5 – “Le Rio San Francisco et le fort Maurice, avec un “capivara” (gros rongeur) au premier plan, au Brésil.

Frans Post no Louvre e no Brasil
“Le Rio San Francisco et le fort Maurice, avec un “capivara” (gros rongeur) au premier plan, au Brésil”.
Realizado entre 1625 e 1650, por Frans Post. Museu do Louvre. Foto: René-Gabriel Ojéda.

Tradução livre em português: “O Rio São Francisco e o Fort Maurício, com uma “capivara” (grande roedor) em primeiro plano, no Brasil”.

Dimensões: Altura: 0,62 m (altura com acessórios: 0,725 m) x Largura: 0,95 m (largura com acessórios: 1,045 m).

Material e Técnica: Óleo sobre tela.

Antiga coleção de Luís XIV (1643-1715).

Forte Maurício localizado em Alagoas, região ao sul de Pernambuco (ou Recife), construído em 1637, é visível ao fundo, dominando a margem norte do rio São Francisco, um dos maiores do Brasil, na fronteira sul do então Brasil Holandês (que se estenderá um pouco mais nos anos seguintes).

Observe o cativante detalhe da capivara, o maior roedor existente, pouco conhecido dos europeus no século XVII, e a presença de um cacto. Local autenticado por uma gravura de 1647, publicada na obra de Gaspar Barléu (1584-1648), relembrando o episódio da fuga dos portugueses ante o exército de João Maurício de Nassau-Siegen, em 1638.

6 – Le Char à bœuf. Paysage brésilien.

Frans Post no Louvre e no Brasil
Le Char à bœuf. Paysage brésilien (1638), por Frans Post. Museu do Louvre. Foto: René-Gabriel Ojéda.

Tradução livre em português: “O Carro de Boi. Paisagem brasileira”.

Dimensões: Altura: 0,62 m (altura com acessórios: 0,725 m) x Largura: 0,95 m (largura com acessórios: 1,045 m).

Material e Técnica: Óleo sobre tela.

Antiga coleção de Luís XIV (1643-1715).

Obra datada e assinada no carro de boi: F. Post 1638. 8/15. Deve ser lida como: Frans Post, 15 de agosto de 1638.

Ao fundo, na outra margem, um engenho de açúcar e mais acima, a respectiva capela. Segundo o historiador Pedro Corrêa do Lago é uma alusão a uma colheita excepcional de cana-de-açúcar em agosto de 1638, mas que é discutida, porque nada nesta cena enfatiza particularmente as atividades açucareiras.

A própria data refere-se sem dúvida a algum desenho feito no local para a preparação da pintura. O oceano pode ser adivinhado no fundo, na extrema direita. Sítio a situar-se talvez nas proximidades de Serinhaem ou Olinda, na província de Pernambuco.

7 – L’Ancien Fort portugais des Trois-Rois-Mages ou Fort Ceulen, à l’embouchure du Rio Grande, au Brésil.

Frans Post no Louvre e no Brasil
L’Ancien Fort portugais des Trois-Rois-Mages ou Fort Ceulen, à l’embouchure du Rio Grande, au Brésil (1638), por Frans Post. Museu do Louvre. Foto: René-Gabriel Ojéda.

Tradução livre em português: “O Antigo Forte Português dos Três Reis Magos ou Forte Ceulen, na foz do Rio Grande, Brasil”.

Material e Técnica: Óleo sobre tela.

Antiga coleção de Luís XIV (1643-1715).

Obra datada e assinada: F. Post 1638.8/28Deve ser lida como: Frans Post 28 de agosto de 1638.

O mar fica à esquerda, o rio (Rio Grande) à direita. A fortaleza portuguesa localizada na atual cidade de Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte, à 250 km ao norte da cidade do Recife, foi conquistada em 1633 pelo almirante holandês Matthias van Ceulen.

Local autenticado pela gravura de 1647 na obra quase idêntica de Gaspar Barléu (1584-1648), exceto os índios Tapuya, em primeiro plano, mais afastados e numerosos na gravura.

A data de 1638 pode aludir ao encontro de João Maurício de Nassau-Siegen, no Forte Ceulen, com uma delegação de índios ou pode também referir-se à data de um desenho preparatório ou o da conclusão da pintura.

8 – Paysage aux alentours de Porto Calvo au Brésil, avec un figuier au premier plan.

Frans Post no Louvre e no Brasil
Paysage aux alentours de Porto Calvo au Brésil, avec un figuier au premier plan. Realizado entre 1625 e 1650, por Frans Post. Museu do Louvre. Foto: René-Gabriel Ojéda.

Tradução livre em português: “Paisagem ao redor de Porto Calvo no Brasil, com uma figueira em primeiro plano”.

Dimensões: Altura: 0,62 m (altura com acessórios: 0,725 m) x Largura: 0,95 m (largura com acessórios: 1,045 m).

Material e Técnica: Óleo sobre tela.

Antiga coleção de Luís XIV (1643-1715).

Obra datada e assinada: F Coreo 1639. 6/4 (jogo de palavras com a tradução da palavra Post para o português = Correio). Deve ser lida como: Frans Post 4 de junho de 1639.

Local autenticado por uma gravura de 1647, publicada na obra de Gaspar Barléu (1584-1648), que evoca o cerco à fortaleza portuguesa de Poroção, visível ao fundo, perto de Porto Calvo, antiga vila e atual cidade do Estado de Alagoas (tomada pelos holandeses em 1637).

Detalhe: No centro, vemos um grupo de índios sendo conduzidos por soldados holandeses. Enquanto outros descansam sob uma árvore.

Localização das obras de Frans Post no Louvre:

Departamento de Pinturas : Escola da Holanda também chamada Holanda.

Ala Richelieu, 2° nível , sala 838.

Obras de Frans Post no Louvre. Ala Richelieu, 2° nível, sala 838.

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