Historicamente, eis uma estatal que, desde os anos 90, se considera acima do bem e do mal. Já na gestão do coronel ACM, ignorou - com total apoio do patrão e subserviente conivência do IPAC - os protestos do Iphan ao restaurar o Pelourinho a toque de caixa, três equipes se revezando por 24 horas. Quem poderia sonhar em qualidade com tamanha pressa? Portas e janelas padronizadas, supressão de peculiaridades. E mesmo assim, restauração incompleta.
Expulsos, os
velhos moradores das ruínas foram agonizar debaixo das marquises da Baixa dos
Sapateiros. Sendo expressamente proibido morar na Disney tupiniquim, esta parte
do centro histórico seria transformado em cenário para agências de receptivo e
turismo de massa.
Três décadas
passaram. Mudou a ideologia oficial, mas a Conder em nada modificou seu
comportamento. Mesma arrogância, mesma leviandade ao tratar agora da
reabilitação do bairro de Santo Antônio. Aliás, do bairro, não. Só e unicamente
da Rua Direita. O resto do bairro continua competindo com Massaranduba e
Pela-Porco. Terceirizou a obra para uma empresa que contratou a baixo custo
jovens arquitetos sem a mínima qualificação e até um engenheiro que acabou nas
páginas policiais da imprensa nacional.
Durante três
anos, moradores e comerciantes conviveram com poeira, lama, barulhos e
desmandos mil. Sem direito a qualquer informação. Minha casa teve a tubulação
de água quebrada quinze vezes. E ainda fui obrigado a me deslocar até o Procon
do Shopping Salvador para protestar contra uma conta da Embasa de 5 mil reais!
As fachadas
foram violentadas com cores acrílicas para pisos e quadras, a anos-luz das
pigmentações naturais como qualquer historiador ou arquiteto gabaritado
recomendaria. Poderiam ter embutido os canos de pvc das águas de chuva. Não o
fizeram.
Quanto à iluminação, os famigerados postes e
suas macarronadas foram – após anos de reclamação da comunidade - substituídos
por lampiões espalhados ao Deus dará. Áreas muito iluminadas, com apoio de
incôngruos refletores, outras deixadas na escuridão. Os ditos lampiões
continuam enfeitados com estranhas fiações, resultado da omissão do
indispensável pente fino.
Para
finalizar, um belo dia uma bizarra colocação apressada de tapumes à volta da
escada da igreja do Boqueirão chamou a atenção da vizinhança. Antes mesmo de
fechar o espaço, meia dúzia de trabalhadores começaram a quebrar os
tricentenários degraus de pedra lioz portuguesa. Um jovem “restaurador”,
afirmando ser por razão de segurança e com autorização do Iphan. Diante de
nossos veementes protestos, documentados por fotos e vídeos, a destruição foi
interditada.
Já se
passaram dezanove meses e até a data desta publicação, a estatal não mais deu o
ar de sua desgraça.
Dimitri Ganzelevitch
A Tarde, sábado 30 de setembro 2023
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