sexta-feira, 29 de setembro de 2023

A ESCADA DA IGREJA DO BOQUEIRÃO


Historicamente, eis uma estatal que, desde os anos 90, se considera acima do bem e do mal. Já na gestão do coronel ACM, ignorou - com total apoio do patrão e subserviente conivência do IPAC - os protestos do Iphan ao restaurar o Pelourinho a toque de caixa, três equipes se revezando por 24 horas. Quem poderia sonhar em qualidade com tamanha pressa? Portas e janelas padronizadas, supressão de peculiaridades. E mesmo assim, restauração incompleta.

Expulsos, os velhos moradores das ruínas foram agonizar debaixo das marquises da Baixa dos Sapateiros. Sendo expressamente proibido morar na Disney tupiniquim, esta parte do centro histórico seria transformado em cenário para agências de receptivo e turismo de massa.

Três décadas passaram. Mudou a ideologia oficial, mas a Conder em nada modificou seu comportamento. Mesma arrogância, mesma leviandade ao tratar agora da reabilitação do bairro de Santo Antônio. Aliás, do bairro, não. Só e unicamente da Rua Direita. O resto do bairro continua competindo com Massaranduba e Pela-Porco. Terceirizou a obra para uma empresa que contratou a baixo custo jovens arquitetos sem a mínima qualificação e até um engenheiro que acabou nas páginas policiais da imprensa nacional.

Durante três anos, moradores e comerciantes conviveram com poeira, lama, barulhos e desmandos mil. Sem direito a qualquer informação. Minha casa teve a tubulação de água quebrada quinze vezes. E ainda fui obrigado a me deslocar até o Procon do Shopping Salvador para protestar contra uma conta da Embasa de 5 mil reais!

As fachadas foram violentadas com cores acrílicas para pisos e quadras, a anos-luz das pigmentações naturais como qualquer historiador ou arquiteto gabaritado recomendaria. Poderiam ter embutido os canos de pvc das águas de chuva. Não o fizeram.

 Quanto à iluminação, os famigerados postes e suas macarronadas foram – após anos de reclamação da comunidade - substituídos por lampiões espalhados ao Deus dará. Áreas muito iluminadas, com apoio de incôngruos refletores, outras deixadas na escuridão. Os ditos lampiões continuam enfeitados com estranhas fiações, resultado da omissão do indispensável pente fino.

Para finalizar, um belo dia uma bizarra colocação apressada de tapumes à volta da escada da igreja do Boqueirão chamou a atenção da vizinhança. Antes mesmo de fechar o espaço, meia dúzia de trabalhadores começaram a quebrar os tricentenários degraus de pedra lioz portuguesa. Um jovem “restaurador”, afirmando ser por razão de segurança e com autorização do Iphan. Diante de nossos veementes protestos, documentados por fotos e vídeos, a destruição foi interditada.

Já se passaram dezanove meses e até a data desta publicação, a estatal não mais deu o ar de sua desgraça. 

Dimitri Ganzelevitch

A Tarde, sábado 30 de setembro 2023

 

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