sábado, 30 de setembro de 2023

ALIENAÇÃO PATRIMONIAL E PARENTAL

Uma casa em São Luís


Uma amiga, ex-aluna, visitou recentemente o Maranhão, o Ceará e o Piauí e ficou encantada com a atenção que a cultura recebe de seus governantes, não necessariamente para o turismo, senão para a preservação de sua identidade. O CH de São Luiz está habitado e as duas linhas de ferry boats para Alcântara funcionam. Fortaleza, que já nos passou, tem sua orla bem cuidada e possui uma Pinacoteca, um Passeio Público e um Museu da Imagem do Som, que não possuímos. Salvador, tão rica de iconografia, desde o século XVII, não possui um museu da cidade.
E não é só nas capitais. No interior do Ceará, Sobral tem seu CH bem preservado, o Museu do Eclipse, onde se provou em 1919 a teoria da Relatividade, a Casa de Cultura do SESC e a Escola de Belas Artes na velha Estação de Trem. No vale do Cariri, o CESC criou em pequenas cidades, como Crato, Nova Olinda e Juazeiro do Norte, os Museus Orgânicos onde se reproduz os saberes de Tesouros Humanos, mestres de artes em extinção como do couro, do pífano e das máscaras.
O nosso Centro Antigo está despovoado e em ruína, é apenas um cenário para turistas fazerem fotos. O Sr. Juvenal Evangelista, cansado de protestar contra o abandono do Liceu de Artes e Ofícios, que bem poderia ser um Museu Orgânico, ou um Centro Cultural do BB ou da CEF, me pede para que eu pressione o estado a conservá-lo. Não sei se vai funcionar. O colega Luiz Mott fez apelo semelhante para salvar a igreja do Coração de Jesus, vizinha ao MPE, e nada foi feito.
O Liceu vai a leilão, sem lance mínimo, mas espero que não seja alienado para se transformar em mais um hotel cinco estrelas, como o Palácio Rio Branco, o Ed. A Tarde, Palace Hotel, o Palácio dos Esportes e o Abrigo Pedro II em que os hóspedes saltam dos táxis e correm para seu interior com medo de serem assaltados. Turistas novos-ricos que se trancam nesses hotéis e mandam selfies para os amigos no salão de jantar e perdem o que a Bahia oferece de melhor, sua rica cultura popular e sociabilidade. Enquanto isso, o povo criador dessa cultura é impedido de visitar os monumentos que ele próprio construiu. Como Manuel Bandeira apelo: meus amigos e meus inimigos, salvemos o Solar Saldanha!
Não falta dinheiro para obras faraónicas, ociosas e impactantes como o BRT e a Ponte para Itaparica, cuja ligação terrestre poderá ser reduzida à metade com trilhos para um metrô-trem e pista para carros envolvendo a BTS que incrementariam seus centros industriais e históricos e atenderia a 19 terminais marítimos e de esportes náuticos. A ponte com seis faixas subutilizadas, pois tem apenas duas de acesso no Funil, vai nos custar anualmente dez vezes mais do que a PPP da Fonte Nova. Quanto vale a história da Bahia e a marinha que lhe deu o nome?
SSA: A Tarde, 17/09/2023

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