quinta-feira, 28 de setembro de 2023

PIERRE ET GILLES

 

04/05/2010

O universo da fotografia pode ser muito mais amplo do que simplesmente fotografar. A fotografia pode ser interagida com outras técnicas e linguagens. É o que faz a dupla de artistas franceses Pierre et Gilles que mistura fotografia e pintura. Extrapolar os limites da fotografia, pensar na produção fotográfica muito além do registro da realidade é um dos objetivos da Escola de Fotografia Áurea Fotográfica. Nós também nos preocupamos com a formação artística de nossos alunos, por isso, dedicamos esse post a essa dupla maravilhosa que revolucionou a linguagem fotográfica contemporânea. Esperamos que gostem! Para mais informações de nossos cursos, acesse o site da escola: www.aureafotografica.com.br

Pierre et Gilles é como se denomina a dupla de artistas franceses formada por Pierre Commoy e Gilles Blanchard. Os artistas, que são casados, trabalham em conjunto unindo pintura e fotografia em obras de complexa composição pictórica e conceitual.

Nós amamos idealizar, mas falamos também da morte, do mistério e do absurdo da vida. Há tanto de doçura quanto de violência em nossas imagens.” (Pierre et Gilles)

Pierre Commoy, o fotógrafo, nasceu em 1959 em La Roche sur Yon, e Gilles Blanchard, o pintor, nasceu em 1953 em Le Havre.

No começo dos anos 70 Gilles se graduou na École des Beaux-Arts em sua cidade, enquanto Pierre estudou fotografia em Geneva.

Em 1974, Gilles se mudou para Paris para pintar e fazer ilustrações para revistas e publicidade. Pierre começou trabalhando como fotógrafo para as revistas Rock & FolkDépèche Mode e Interview 

Em outono de 1976, Pierre e Gilles se conheceram na inauguração da boutique Kenzo em Paris e passaram a viver juntos na Rue des Blancs-Manteaux, em um apartamento que eles também usavam como estúdio. No ano seguinte eles começarama trabalhar juntos da maneira como fazem até hoje: Gilles pintando sobre as fotos feitas por Pierre. Seus trabalhos tornaram-se populares a partir das imagens feitas para a revista Façade, com retratos de Andy Warhol, Mick Jagger e Iggy Pop.

Em 1979 os artistas se mudaram para Bastille, fizeram seus primeiros trabalhos para Thierry Mugler, produziram capas de discos para artistas amigos e fotos fashion para publicidade e retratos para revistas. Eles também fizeram sua primeira viagem para a Índia, país que tem inspirado muito o trabalho da dupla.

Em 1983 Pierre e Gilles fizeram sua primeira exposição individual na Galeria Texbraun em Paris.

Em 1984 eles trabalharam extensivamente para artistas musicais, como Sandii, Etienne Daho, Sheila, Krootchey e Mikado, para quem a dupla dirigiu seu primeiro video clipe.

Em 1987 os artistas viajaram uma vez mais para a Índia e começaram a trabalhar com temas religiosos e mitológicos.

Em 1989 eles se tornaram amigos de Marc Almond, com quem trabalharam por muitos anos.

Em1993 foi dado à dupla, pela cidade de Paris, o Grande Prêmio de Fotografia. Além disso, eles produziram um trabalho para a Absolut Vodka.

A primeira exposição retrospectiva dos artista aconteceu em 1996 no Maison Européenne de la Photographie, em Paris.

A dupla é um dos principais nomes da arte na Europa e tem por característica misturar elementos da cultura pop com ícones religiosos, mitológiocos, do mundo da publicidade e da cultura gay, construindo uma estética kitsch carregada de simbolismo.

Ainda que Pierre et Gilles estejam diretamente ligados à cultura pop, eles têm sido excluídos de muitas discussões sobre arte contemporânea. Isso porque a atitude explícita da dupla quanto à importância da beleza na experiência da arte tornou difícil para os críticos contextualizarem o trabalho deles em termos das tendências dominantes na produção artística dos dez úlimos anos. Mesmo assim, os artistas vêm desenvolvendo trabalhos de grande projeção internacional a ponto de definir novos padrões para a estética homoerótica.

Infelizmente, somente a partir de reproduções em livros e na internet, fica difícil entender a complexidade que envolve o processo de produção de cada imagem. As obras exigem precisão, planejamento e uma produção meticulosa. Começando com croquis, eles se envolvem em um complexo estudo para a elaboração da cena antes de chegar à cenografia desejada. A partir desses desenhos, o trabalho prossegue com a seleção de modelos, o desenvolvimento do figurino, maquiagem, sistema de iluminação, além da construção de cenários e adereços, para os quais a dupla de artistas reune elementos decorativos, tais como: tecidos diáfanos, luzes de Natal, quadros de papel-machê, guirlandas de flores artificiais, miniaturas da Torre Eiffel, bichos de porcelana e gnomos de borracha.

Estando tudo montado, Pierre fotografa a cena usando uma câmera de grande formato. Em seguida, uma única imagem é selecionada dentre as muitas feitas durante a sesssão fotográfica. Gilles, então, pinta meticulosamente sobre a foto para, afinar as cinturas, suavizar as rugas faciais, acentuar os cílios e adicionar destaque para os dentes que brilham mais branco do que o branco. O resultado é a obtenção de uma obra única com cores vivas, olhos luminescentes, glitter brilhante e uma decoração deslumbrante, algo entre uma ópera barroca e uma discoteca de mau gosto.

Em suas fotos, Pierre e Gilles pagam tributo ao “culto da personalidade”, retratando de uma maneira glamurosa ou devotada ícones do cinema, astros do rock e ídolos pop, que são, na vida contemporânea, tão adorados quanto santos cotólicos, mártires e deuses hindus. Através da confecção dos cenários e do jogo de iluminação, os artistas constroem o conceito de ideal, que baseado na artificialidade, ultrapassa o “falso absoluto” para atingir o grau de hiper-realidade.


Na celebração descarada da cultura pop, estas fotografias pintadas abraçam uma estética da moda contemporânea com base no exagero, na sedução e na estilização. Elegante e audaz, esse olhar sugere a teatralidade punk chic de Gaultier e a sensualidade dos ternos de Thierry Mugler, bem como a sensibilidade gay, que Susan Sontag definiu como “Ser-como- Interpretação de um papel … um prolongamento do conceito da “metáfora da vida como teatro”.

Em alguns de seus trabalhos recentes, o teatro é injetado com elementos do porno-kitsch e católico-kitsch como, por exemplo, as imagens dos meninos com o pênis ereto, retratados como santos em altares envoltos por uma aoreola de luz e guirlandas de flores de plástico. Nessas obras de sexualidade e sensualidade, os autores promovem um esmaecimento entre a agonia de um mártir e o ecstasy e se utilizam dos conceitos religiosos para retratar o culto ao corpo e à beleza como uma doutrina pregada pela cultura de massa tão vigente na atualidade.

Pierre et Gilles, com o uso dos seus elementos kitsch, são subversivos e inocentes. Suas imagens de pênis eretos brincam de modo perverso e original com o romance inocente e a recriação perpétua de clichês piegas. Estranhamente, o que é tão perturbador sobre este trabalho é a sua total falta de ironia. Enquanto a réplica gigantesca em porcelana de “Michael Jackson and Bubbles” feita por Jeff Koons soa arrogante, Pierre e Gilles continuam idealistas. Menos focada em paródias e personas de uma visão sentimental, eles nos mostram o paraíso em uma visão simples: homens crescidos usando seus nomes de menino.

As primeiras obras em exibição da dupla francesa são uma série de retratos de amigos e celebridades do final dos anos 70 e início dos 80. Dentre os retratados temos desde superstars, como Iggy Pop e Yves Saint-Laurent, à figuras menos conhecidas como Arja e Krootchey. Este trabalho inicial é distinguido pela falta de detalhes pictótiocos a fim de concentrar sua importancia na pessoa retratada. Uma exceção é o trabalho mais elaborado “Le Cow-boy – Victor” de 1978. Nesta obra, há uma espiral em branco, azul e vermelho com estrelas azuis por trás do personagem título, cuja pose de apontar uma arma é compensada pela presença de luvas rosa e um lenço amarelo. Também a obra de 1981, “Adam et Eve – Eva Ionesco e Kevin Luzac”, é ornamentada por um fundo de flores e árvores sugerindo o Jardim do Éden.

A partir de 1983, Pierre et Gilles passam a usar configurações mais elaboradas para os seus temas, atingindo, muitas vezes, um resultado cômico. Como exemplo, pode-se citar a obra “La Panne – Patrick Sarfati e Ruth Gallardo” que mostra um momento pós-coito. Neste caso a construção da cena não depende só da decoração do quarto, mas também no cabelo estilizado e da composição dos corpos dos dois modelos.

Em 1985, Pierre et Gilles embarcaram na primeira das diversas séries pictóricas “Les Pleureuses”, que mostra um conjunto de sujeitos arquetípicos (o marinheiro, o faraó) no ato de chorar. Embora ressaltando o interesse dos artistas nas dimensões cultural de seus personagens, “Les Pleureuses” resumem o compromisso com uma sensibilidade inconfundível gay. A mesma temática homoerótica aparece na série seguinte “Santos e Mártires”, que apresenta modelos caracterizados de santos católicos com faces de pinup e físicos másculos.

Anúncios
DENUNCIAR ESTE ANÚNCIO

Ao final dos anos 80, Pierre et Gilles passaram a trabalhar com figuras mitológicas não-cristãs, como Netuno, Sarasvati, e Medusa. Este interesse em assuntos religiosos foi associado com um fascínio crescente com as ideologias seculares. Ainda, momentos históricos e questões políticas também permearam as obras dos artistas. “Le Petit Communiste – Christophe” de 1990, por exemplo, mostra um soldado Soviético uniformizado com a familiar lágrima escorrendo sobre seu rosto. O trabalho foi criado um ano depois da queda do Muro de Berlim. “Le Petit Chinois – Tomah” de 1991, em que um homem asiático de camisa branca confronta o espectador com uma faca ensangüentada na mão, pode ser lido como a imagem de uma China desafiadora.

Nos anos 90, a gama de assuntos e modos de produzir dos artistas estão ainda mais amadurecidos. Apesar de Pierre et Gilles continuarem a fotografar celebridades, como nos retratos surpreendentes de Catherine Deneuve (1991), Nina Hagen (1993), Sylvie Vartan (1994) e Juliette Greco (1999), eles são capazes de produzir imagens tanto bem-humoradas, como o exagerado “Eu te amo – Dominique Blanc” (1992), quanto melodramática, como “Le Papillon Noir – Polly” (1995). Algumas das imagens mais recentes introduziram um tom melancólico que é novo para o trabalho da dupla, evidenciado pelo olhar distante de seus modelos favoritos: “Tentation – Jiro Sakamoto” (1999) ou nos capacetes aparentemente vazios em “Autoportraits sans Visage” (1999). Mas sua série mais elaborada dos anos 1990, “Les Plaisir de la Forêt”, que compreendem cenas eróticas numa floresta norturna, destaca a combinação de tensão erótica, cenários executados de forma elaforada e atenção ao mínimo detalhe que caracteriza a obra supreendentemente diversa de Pierre et Gilles.

Em novembro de 2009, a dupla inaugurou, pela primeira vez no Brasil, a exposição “A apoteose do sublime” no espaço Oi Futuro na cidade do Rio de Janeiro, como parte das comemorações do Ano da França no Brasil. Marcus de Lontra, curador da exposição, aproxima Pierre et Gilles do Brasil, especialmente da capital carioca, pois os artistas carregam essa vertente do deboche, do sensual, do Kitsch: “O trabalho de Pierre et Gilles, cheio de vitalidade, é próximo do espírito brasileiro. Tendo em vista sua exuberância, intensidade cromática, sensualidade e mistura tipicamente Kitsch, nos fazendo remeter às alegorias e fantasias dos desfiles de escolas de samba brasileiras.”

Anúncios
DENUNCIAR ESTE ANÚNCIO

Ainda, segundo o curador, outra semelhança das obras da dupla com o Brasil são as muitas referências aos santos. Uma delas, que tem como modelo o brasileiro Jaime de Oliveira, e foi realizada especialmente para a exposição no Rio, representa São Sebastião, o padroeiro da cidade.

Em estrevista aos jornais locais, os artistas destacaram a dimensão internacional do seu trabalho: “No Japão, alguns se identificaram com a mistura de violência e doçura das nossas telas. Na Rússia, com a referência aos ícones de santos ortodoxos. Aqui, podemos notar, além das imagens religiosas, a sensualidade e a leveza, mas também esse lado triste da saudade, que fazem parte do nosso universo”, observou Gilles Blanchard.

Ainda, aproveitando a visita ao Brasil para a abertura da exposição, a dupla buscou em nosso país inspiração para futuras obras. “Estamos muito interessados na figura de Iemanjá e nos sincretismos afro-brasileiros”, disse Pierre Commoy.

Para concluir: a obra de Pierre et Gilles “é deliberadamente fundida com a cultura popular no tempo presente. Os artistas, criaram um mundo visual em que o artifício e realidade são inseparáveis. Empregando adereços, maquiagem, figurino e iluminação que acentuam a qualidade progressiva de seus conjuntos fotográficos, Pierre et Gilles perseguem um ideal de beleza em suas extravagantes fotografias pintadas à mão que destroem sistematicamente qualquer distinção entre kitsch e a expressão do sublime. Ambos, os artistas e seus temas, parecem insistir na completa credibilidade de seus personagens alegóricos, ao mesmo tempo em que se deleitam na evidência de que tudo em suas fotos é uma ilusão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário