domingo, 3 de setembro de 2023

A MULTINACIONAL DO CRIME

 

UMA MULTINACIONAL DE R$ 5 BI

uma multinacional de rs 5 bi

No 3º capítulo da série, o Metrópoles mostra como o Primeiro Comando da Capital (PCC) controlou a rota da cocaína e chegou a 23 países

Alfredo Henrique e Felipe Resk01/09/2023 02:30

Munido de armamento de guerra e apoiado por um exército de 100 sicários – matadores de aluguel sul-americanos –, o PCC deu um recado com a morte de Jorge Rafaat Toumani: a partir daquele dia, a fronteira entre Brasil e Paraguai pertencia a outro “rei”. Esse é o episódio que marca a entrada do PCC no grande tráfico internacional de cocaína. Hoje, a facção opera em 24 países e fatura R$ 5 bilhões por ano, segundo as estimativas das autoridades.

Crédito: ReproduçãoA metralhadora que matou Rafaat foi instalada dentro de uma caminhonete branca

O assassinato do concorrente, executado em junho de 2016, garantiu ao PCC o domínio sobre a rota completa da cocaína, desde as plantações em países andinos, principalmente a Bolívia, até os portos brasileiros, como o de Santos (SP), de onde a droga é embarcada para o exterior. Também permitiu acesso à maconha produzida em larga escala no Paraguai.

Dinheiro encontrado em operações da PF contra membros do PCC

O levantamento mais recente do Ministério Público de São Paulo (MPSP), datado de novembro de 2021, mostra que o PCC arrecada mais de U$ 1 bilhão por ano (cerca de R$ 5 bilhões), sem considerar os negócios particulares de lideranças. Em 2005, quando ainda estava engatinhando no tráfico, o grupo movimentava cerca de R$ 5 milhões por ano.

Fábio Vieira/MetrópolesO Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) acredita que o PCC arrecada U$ 1 bilhão por ano

Na condição de maior fornecedora de cocaína para a Europa, a multinacional do crime já expandiu sua operação para 23 países, além da matriz brasileira. Em 2012, o PCC só atuava pontualmente na Bolívia e no Paraguai.

Atualmente, há 1.545 membros batizados do PCC que operam fora das fronteiras brasileiras, os “irmãos”, a maior parte na América do Sul. Há integrantes mapeados nos Estados Unidos, no México, na Inglaterra, na Holanda, na França, na Suíça e no Líbano, onde o quilo da cocaína tem o seu maior valor de mercado.

O assassinato de Rafaat marcou também o acirramento dos conflitos com o Comando Vermelho (CV) e com a Família do Norte (FDN), com os quais a facção paulista chegou a fazer planos de grandes alianças e agora são inimigos mortais.

A hegemonia dos paulistas na fronteira obriga as outras facções criminosas, que resistem à ideia de ter o PCC como único fornecedor, a buscar alternativas menos rentáveis para a operação do tráfico.

A FDN, por exemplo, vai buscar cocaína no Peru. Sem poder atravessar o Paraguai, a facção usa a chamada “rota do Solimões” para ter acesso à droga pelo Amazonas, escoá-la até o Nordeste e só então mandá-la para o Rio de Janeiro – dando uma “volta” no mapa que representa mais riscos e mais custos.

rota do tráfico internacional

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Após conquistar a hegemonia no tráfico de drogas em São Paulo e de ganhar influência em todos os estados brasileiros, o PCC expandiu os seus negócios em outros países, tornando-se o principal fornecedor de cocaína para a Europa.

Principal especialista em PCC e “decretado” por combater a facção, o promotor Lincoln Gakiya, do MPSP, avalia que o sucesso do PCC no narcotráfico está inicialmente ligado à figura de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, convocado por Marcola para compor a sua cúpula em 2002. “Teve uma importância fundamental em direcionar o PCC para o campo das drogas”, diz.

Réu em mais de uma dezena de processos por homicídio, tráfico de drogas e formação de quadrilha, Gegê do Mangue saiu pela porta da frente da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior paulista, em fevereiro de 2017. Sob a bênção de Marcola, o bandido recebeu a missão de ser o número 1 do PCC nas ruas.

Gegê recebeu alvará de soltura às vésperas de julgamento no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), com a promessa de comparecer à audiência. Era mentira. O criminoso foi condenado à revelia, mas nunca mais pisou na cadeia.

ReproduçãoGegê recebeu a missão de ser o número um do PCC nas ruas e direcionou a facção para o tráfico de drogas

Investigadores acreditam que Gegê fugiu pelo Paraguai e foi em seguida para a Bolívia, onde fechou parcerias com cocaleiros. Àquela altura, o PCC já havia matado Rafaat e dominado a fronteira seca, o principal corredor da droga, mas queria aumentar as remessas até o Porto de Santos, de onde parte a maioria das cargas com destino à Europa.

Por meio de Gegê, o PCC se tornou a única organização criminosa do Brasil que compra e revende cocaína da Bolívia, onde cada família tem aval da legislação para cultivar até 1,6 mil m² da planta de coca. Estudo da Polícia Federal mostra que o país é responsável por produzir 54% da droga que entra no Brasil. Outros 38% vêm do Peru.

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