UMA MULTINACIONAL DE R$ 5 BI
uma multinacional de rs 5 bi
No 3º capítulo da série, o Metrópoles mostra como o Primeiro Comando da Capital (PCC) controlou a rota da cocaína e chegou a 23 países
Munido de armamento de guerra e apoiado por um exército de 100 sicários – matadores de aluguel sul-americanos –, o PCC deu um recado com a morte de Jorge Rafaat Toumani: a partir daquele dia, a fronteira entre Brasil e Paraguai pertencia a outro “rei”. Esse é o episódio que marca a entrada do PCC no grande tráfico internacional de cocaína. Hoje, a facção opera em 24 países e fatura R$ 5 bilhões por ano, segundo as estimativas das autoridades.
A metralhadora que matou Rafaat foi instalada dentro de uma caminhonete brancaO assassinato do concorrente, executado em junho de 2016, garantiu ao PCC o domínio sobre a rota completa da cocaína, desde as plantações em países andinos, principalmente a Bolívia, até os portos brasileiros, como o de Santos (SP), de onde a droga é embarcada para o exterior. Também permitiu acesso à maconha produzida em larga escala no Paraguai.
Dinheiro encontrado em operações da PF contra membros do PCCO levantamento mais recente do Ministério Público de São Paulo (MPSP), datado de novembro de 2021, mostra que o PCC arrecada mais de U$ 1 bilhão por ano (cerca de R$ 5 bilhões), sem considerar os negócios particulares de lideranças. Em 2005, quando ainda estava engatinhando no tráfico, o grupo movimentava cerca de R$ 5 milhões por ano.
O Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) acredita que o PCC arrecada U$ 1 bilhão por anoNa condição de maior fornecedora de cocaína para a Europa, a multinacional do crime já expandiu sua operação para 23 países, além da matriz brasileira. Em 2012, o PCC só atuava pontualmente na Bolívia e no Paraguai.
Atualmente, há 1.545 membros batizados do PCC que operam fora das fronteiras brasileiras, os “irmãos”, a maior parte na América do Sul. Há integrantes mapeados nos Estados Unidos, no México, na Inglaterra, na Holanda, na França, na Suíça e no Líbano, onde o quilo da cocaína tem o seu maior valor de mercado.
O assassinato de Rafaat marcou também o acirramento dos conflitos com o Comando Vermelho (CV) e com a Família do Norte (FDN), com os quais a facção paulista chegou a fazer planos de grandes alianças e agora são inimigos mortais.
A hegemonia dos paulistas na fronteira obriga as outras facções criminosas, que resistem à ideia de ter o PCC como único fornecedor, a buscar alternativas menos rentáveis para a operação do tráfico.
A FDN, por exemplo, vai buscar cocaína no Peru. Sem poder atravessar o Paraguai, a facção usa a chamada “rota do Solimões” para ter acesso à droga pelo Amazonas, escoá-la até o Nordeste e só então mandá-la para o Rio de Janeiro – dando uma “volta” no mapa que representa mais riscos e mais custos.
rota do tráfico internacional
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Após conquistar a hegemonia no tráfico de drogas em São Paulo e de ganhar influência em todos os estados brasileiros, o PCC expandiu os seus negócios em outros países, tornando-se o principal fornecedor de cocaína para a Europa.
Principal especialista em PCC e “decretado” por combater a facção, o promotor Lincoln Gakiya, do MPSP, avalia que o sucesso do PCC no narcotráfico está inicialmente ligado à figura de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, convocado por Marcola para compor a sua cúpula em 2002. “Teve uma importância fundamental em direcionar o PCC para o campo das drogas”, diz.
Réu em mais de uma dezena de processos por homicídio, tráfico de drogas e formação de quadrilha, Gegê do Mangue saiu pela porta da frente da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior paulista, em fevereiro de 2017. Sob a bênção de Marcola, o bandido recebeu a missão de ser o número 1 do PCC nas ruas.
Gegê recebeu alvará de soltura às vésperas de julgamento no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), com a promessa de comparecer à audiência. Era mentira. O criminoso foi condenado à revelia, mas nunca mais pisou na cadeia.
Gegê recebeu a missão de ser o número um do PCC nas ruas e direcionou a facção para o tráfico de drogasInvestigadores acreditam que Gegê fugiu pelo Paraguai e foi em seguida para a Bolívia, onde fechou parcerias com cocaleiros. Àquela altura, o PCC já havia matado Rafaat e dominado a fronteira seca, o principal corredor da droga, mas queria aumentar as remessas até o Porto de Santos, de onde parte a maioria das cargas com destino à Europa.
Por meio de Gegê, o PCC se tornou a única organização criminosa do Brasil que compra e revende cocaína da Bolívia, onde cada família tem aval da legislação para cultivar até 1,6 mil m² da planta de coca. Estudo da Polícia Federal mostra que o país é responsável por produzir 54% da droga que entra no Brasil. Outros 38% vêm do Peru.






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