... DE AMÉRICO CHAGAS
PARA ENTENDER DE ONDE VEM A BAHIA SER O ESTADO MAIS VIOLENTO DO BRASIL
Horácio de Matos era filho de Quintiliano Pereira de Matos e Herminia Gómez Queiroz e sobrinho de Clementino de Matos, que liderou a família Matos na Chapada Diamantina.
Moraes (1997) relata que Horácio de Matos, ainda rapazola, passou a morar em Morro do Chapéu, onde com parcos recursos resolve estabelecer-se com uma loja de tecidos e miudezas além de um comércio modesto de diamantes e carbonados. Ele possuía uma loja com seu nome, no antigo povoado de Campinas, que distava 4km do Ventura.
Ainda segundo esse autor ele aproximou-se do coronel Dias Coelho, chefe político local de largo prestigio e comandante de uma das brigadas da Guarda Nacional, conseguindo a sua estima e, de tal feito, que algum tempo depois se vê presenteado com o título de Tenente-Coronel dessa corporação.
Segundo relato de Flamarion Modesto, certa vez, ao voltar do garimpo do Ferro-Doido, no final da tarde, Horácio foi avisado pela sua companheira, de que sua pistola havia sumido. Saiu procurando pela arma, ate que alguém, disse: quem roubou foi um mateiro que mora na rua do cemitério. Horácio, juntamente com seu irmão Vitor, foi em procura do bruaqueiro . Bateu na porta do barraco e disse: eu vim buscar minha pistola que você roubou.
-Seu Horácio, que conversa é essa?
-Roubou sim, retrucou Horácio, ao tempo em que Vitor foi logo agarrando e puxando o cara, que sem condição de continuar negando falou:
-Escondi a pistola do senhor em cima da serra. Vamos lá para buscar.
Na realidade o garimpeiro tentava ganhar tempo e conseguir um local onde conseguisse correr para se esconder. Procura daqui, procura dali e nada de se encontrar a arma, até que o garimpeiro tenta fugir e é morto. Horácio dizia que o sujeito puxou uma faca e que no apertado da hora ele teve que matar.
Carlos Navarro Sampaio também relata esse episodio, no qual o mateiro teria sido preso em no povoado de Campinas, face ao furto da pistola. Como nesse local não existia cadeia,o preso teve que ser levado para o povoado do Ventura, sendo a escolta formada pelo próprio Horacio e por seu irmão Vitor. Durante o trajeto o individuo teria tentado fugir e durante a luta, no apertado da hora, terminou sendo morto. O local onde aconteceu esse fato ficou conhecido como Apertado da Hora.
Delmar Alvin também relata esse caso, atribuindo-o, entretanto, ao roubo de um diamante.
Em seu leito de morte, em 1912, Clementino confiou os destinos do clã a Horácio de Matos, então com 31 anos de idade. Horácio de Matos tornou-se o mais festejado senhor da guerra no sertão brasileiro. A época e as circunstâncias o impeliram a pegar em armas contra os clãs rivais e contra o governo estadual (Maculay 1977).
Segundo Brandão & Cardoso (1993), tendo triunfado a revolução de 1930, Horácio de Matos atende ao apelo do comandante das forças revolucionárias na Bahia, tenente Juracy Magalhães, de desarmamento do Sertão. Por sua ordem, são entregues ao governador quase 30.000 armas. Uma vez desarmado, Horácio de Matos é preso no dia 30.12.1930, e a exemplo do que acontece com outros coronéis, é enviado para Salvador. Sob os protestos do clero, da magistratura e do comércio, ele é libertado em 13 de maio de 1931 e assassinado dias depois.
Antônio José Dourado Rocha
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