sexta-feira, 1 de setembro de 2023

SALVANDO LARANJEIRAS

 

Iphan dá início ao Canteiro Modelo de Conservação em Laranjeiras (SE)

Lançado no dia 23/8, projeto vai investir R$ 3,5 milhões até 2026 na conservação do centro histórico da cidade.

Como deve agir um órgão de preservação do Patrimônio Cultural a respeito de uma cidade de mais de 190 anos, em cujo centro histórico de casas e prédios tombados reside uma população majoritariamente pobre, sem condições de cuidar desses bens de forma adequada? Uma possibilidade seria exercer a autoridade fiscalizatória com rigor, demandando dos moradores ações de conservação para as quais poucos teriam verba ou conhecimento especializado suficientes. Uma segunda abordagem, bem mais eficaz, seria aproximar-se do poder público local para um diálogo positivo, firmando parcerias para proporcionar os recursos e a assistência técnica de que a cidade precisa para se manter de pé, conservando o patrimônio que, por direito, é de cada um de seus habitantes – mas também de todo o povo brasileiro. 

É o que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) vai fazer em Laranjeiras, Sergipe, com o projeto Canteiro Modelo de Conservação, lançado na última quarta-feira (23/8). Trata-se de um mecanismo que o Iphan vem implementando em 17 cidades históricas do País e que consiste na oferta de assistência técnica pública e gratuita para o desenvolvimento e a qualificação de intervenções de conservação de bens tombados – sobretudo daqueles de propriedade privada em situação de hipossuficiência financeira e/ou em situação emergencial de segurança. E Laranjeiras, onde 90% dos moradores de domicílios em área tombada têm rendimento mensal familiar de até três salários-mínimos, é a cidade brasileira que melhor se enquadra nesse objetivo. 

Com um investimento previsto de R$ 500 mil, em 2023, e de R$ 3,5 milhões até 2026, o Iphan articulou parcerias com a Prefeitura de Laranjeiras para a execução de mais de 20 obras de restauração em seu centro histórico. Outro parceiro estratégico do projeto é a Universidade Federal de Sergipe (UFS), cujo campus local vai abrigar programas de extensão universitária, estágios supervisionados, residências acadêmicas e projetos de pesquisa voltados para a conservação preventiva do patrimônio da cidade.


 
À esq., a "Casa dos Morcegos", imóvel cedido pela Câmara dos Vereadores
para sediar o escritório do Canteiro Modelo num primeiro momento;
à dir., a antiga Oficina Escola de Laranjeiras, que será a sede definitiva. (Fotos: Breno Franco)

Instrumento de cidadania 

Estiveram presentes na cerimônia de lançamento do Canteiro Modelo de Laranjeiras representantes do Iphan, a começar pelo presidente, Leandro Grass; a superintendente do Iphan em Sergipe, Maíra Campos; e o diretor do Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização (DEPAM), Andrey Schlee; além de autoridades políticas locais, reitor e professores da UFS e representantes do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Sergipe (CAU/SE). 

Após serem recepcionados pela equipe do prefeito José de Araújo Leite Neto, na sede da Prefeitura, a comitiva do Iphan seguiu até a Câmara dos Vereadores, entidade que cedeu o imóvel onde funcionará a primeira sede do escritório do Canteiro Modelo da cidade, conhecido como Casa dos Morcegos. Posteriormente, a sede definitiva irá funcionar na antiga Oficina Escola de Laranjeiras. A programação contou ainda com uma caminhada pelas ruas do centro histórico, onde se deu a demonstração de um grupo folclórico de cacumbi, e a apresentação geral do projeto para moradores de Laranjeiras, no auditório do campus da UFS. 


  
(Fotos: Alexandre Figueira)

Segundo o professor Márcio da Costa Pereira, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo do campus Laranjeiras, o projeto Canteiro Modelo traz um novo olhar de preservação do patrimônio arquitetônico de cidades históricas que vai além do cuidado com igrejas e casarões célebres. “O patrimônio também inclui moradias populares que precisam ser consideradas e, em Laranjeiras, temos cerca de 500 dessas moradias onde vivem aproximadamente 2.500 pessoas, que precisam dessa assessoria”, disse o professor. 

 Já para José de Araújo Leite Neto, os efeitos do projeto se estendem para todo o município, e não só para seu centro histórico, devido ao potencial como gerador de renda. “O caminho de Laranjeiras crescer é o turismo, e o caminho do turismo é o Canteiro Modelo, que nada mais é que o escritório de uma equipe de extrema competência, para nos ajudar a preservar nossa cidade”, disse o prefeito. 

Para Leandro Grass, o Canteiro Modelo é “uma política pública que simboliza o sonho de que o Patrimônio Cultural se torne instrumento de cidadania, em torno do qual se firma um grande pacto de toda a sociedade. Com esse projeto, esperamos dar respostas às reais necessidades da população que vive em centros históricos tombados, já que, muitas vezes, existem conflitos a respeito das construções e preservações dos monumentos e hoje a gente reverte esse quadro por meio de uma parceria com a Prefeitura, a UFS, o Iphan e com todos os moradores”, disse o presidente do Iphan. 

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