quinta-feira, 28 de julho de 2016

HOJE, 80 ANOS ATRÁS


A quinta-feira 16 de julho de 1936 foi um dia de calor típico do verão marroquino. Apareci neste mundo, por cesariana, após louca corrida automobilística de 250 quilômetros de Tanger a Rabat, às 17:15 na clínica Dubois-Roquebert. Por razões que explicarei outro dia, minha mãe receava que nascesse em território internacional.
No dia seguinte começava a guerra civil espanhola. Passei boa parte da Segunda Guerra Mundial numa casa sem eletricidade, perdida no campo entre um avô paterno russo, sorridente e doente, e uma avó inglesa presbiteriana, mandona, fofoqueira, mas sempre de Bíblia na mão. Muitas vezes saíamos da mesa ainda com fome.
Aos trancos e barrancos, mal e displicentemente, aprendi a ler e escrever. Cresci. Fui morar em Londres, em Paris, Madri, Lisboa e Argel. Conheci Igor Stravinsky, Juscelino Kubitschek, Amália Rodrigues, Dorival Caymmi, Jorge Amado, Umberto de Itália, Antenor Patiño, Giovana da Bulgária, Juanito antes de ser Juan Carlos o Matador de elefantes, as últimas sultanas otomanas, um rosário de altezas reais e sereníssimas, Catherine Deneuve e cem meias estrelas, sem que, nunca-jamais isso me subisse à cabeça. Foi sempre como se visitasse um imenso e colorido jardim zoológico. Mergulhei, aqui, nos Alagados, durante nove anos, no projeto social Bagunçaço. Organizei as últimas exposições individuais de Hansen-Bahia e de Juarez Paraíso. Levei o Dendê e Dengo a Casablanca e o Zambiapunga a Rabat.
Visitei apaixonadamente partes de quatro continentes e por aqui me encontro, nesta terra brasilis, soteropolitano impenitente do centro histórico por mais da metade de minha vida. Tentei ser útil à sociedade por mim escolhida, consciente de que poderia/deveria ter feito muito mais, mas sabem como é... cada dia traz seu pingo de cansaço, de preguiça, de dúvida, de egocentrismo. Poderia ter vivido mais intensamente, deveria ter feito grandes feitos. Poderia.... Deveria...



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