Conheça a história do antigo casarão
Imóvel de 1904, situado na orla da Ribeira, está sendo leiloado para pagar dívida trabalhista; herdeiros tentam impedir venda
Saulo Miguez e Hilza Cordeiro ()
Quem passa pela Avenida Porto dos Tainheiros, na Ribeira, se depara com o esfacelamento de um centenário da arquitetura baiana. O imponente Solar Amado Bahia, construído em 1904 pelo comerciante de carne Francisco Amado Bahia e tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan) desde 1981, carrega em cada detalhe traços do descuido com o patrimônio artístico de Salvador.
Avaliado em R$ 3,7 milhões pelo Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (TRT5), o imóvel que já recebeu presidente e governador irá a leilão amanhã, às 8h30, pelo lance inicial de R$ 1,8 milhão, para quitar uma dívida trabalhista. De acordo com o diretor da Coordenadoria de Execução do TRT5, Rogério Fagundes, o débito é resultado de um equívoco administrativo entre a Associação de Empregados do Comércio da Bahia e um funcionário. O casarão foi doado à associação em 1949.
Em 1993, o funcionário acionou a associação na Justiça após sofrer uma série de reduções salariais indevidas. “Ele chegou a ser vice-diretor de uma escola que funcionou no casarão, mas teve alguns problemas em relação a pagamentos de horas extras e outras questões trabalhistas. Hoje, a dívida está avaliada em R$ 1,7 milhão”, descreve.
Segundo Frederico Leitão, tataraneto de Francisco Amado Bahia, o Solar foi doado à associação para cumprir uma função social. “A ideia é que a casa fosse transformada em um hospital que atenderia justamente os funcionários do comércio. No entanto, essa contrapartida nunca foi realizada”, explica.
Quando a família soube do imbróglio com a Justiça, contactou os advogados para tentar reverter a situação. “Eu, particularmente, não acredito que essa venda se concretizará. Primeiro, por conta do alto valor do lance inicial, mas principalmente pela necessidade de reforma”, afirmou.
O CORREIO tentou contato por telefone com a Associação de Empregados do Comércio da Bahia, sem sucesso até o fechamento desta edição.
Ouvindo as paredes
Apaixonada por edificações de ferro montado, a arquiteta Karine Queiroz estudou a fundo a história do Solar e relembra com emoção a primeira vez que atravessou as portas do casarão. “Comecei a conversar com a casa prestando atenção aos significados dela. Fiquei encantada”, disse.
Apaixonada por edificações de ferro montado, a arquiteta Karine Queiroz estudou a fundo a história do Solar e relembra com emoção a primeira vez que atravessou as portas do casarão. “Comecei a conversar com a casa prestando atenção aos significados dela. Fiquei encantada”, disse.
Ela não esconde a decepção que sentiu quando soube do leilão. “Eu chorei quando soube que o casarão seria leiloado. Eu só espero que quem o compre seja uma pessoa apaixonada por essa casa, que dê um destino e preserve a sua arquitetura por dentro e por fora”.
“Completam dois anos que visitei o casarão pela primeira vez no dia 2 de agosto. Naquela época, a casa já precisa de reparos. Sabemos que nada que não tenha manutenção permanece de pé”, afirma.
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