Os que os algoritmos do Facebook permitem me acompanhar com frequência, sabem que minhas práticas de consumo de cultura são cotidianas, sou habitualmente predisposto tanto pelo fato de ser um profissional do campo (já fui ator, produtor e gestor, hoje sou professor, consultor e pesquisador) quanto por gosto e estilo de vida.
Assim como há pessoas que gostam de carros, roupas, sapatos ou perfumes, eu gosto (um pouco também dessas coisas) muito de teatro, cinema, museus e livros. A fruição estética, o consumo de subjetividades, a contemplação do belo são partes vitais da minha existência no mundo. Viajar é outro grande prazer.
Recentemente estive de férias em Washington DC, que conta com um dos mais imponentes acervos museológicos urbanos do mundo, em sua maioria concentrados no belo parque que eles chamam de Mall, um lindo jardim entre o Capitólio e o Obelisco, ladeado por uma dezena de grandes museus, cada um dedicado a uma determinada coleção.
Em dez dias naquela cidade pude visitar o Museu de História Natural, o Museu do Índio Americano, o Museu Aeroespacial, a gigantesca Galeria Nacional que tive que desdobrar em 3 dias de visita, tamanho o acervo, o Museu da Notícia e das Comunicações (Newseum) e o Memorial do Holocausto, além de diversos monumentos e sítios culturais ao ar livre. Não consegui visitar o belíssimo Museu Afro-americano por estar com lotação esgotada todos os dias, mas arriscando um acesso de última hora, pude ver o sucesso do espaço construído e inaugurado pelo Governo Obama, com quilométricas filas de brancos, negros e mestiços, entusiasmados em visitar o museu mais hype de DC na atualidade (média de 3,5 milhões de visitantes).
Exceto o Newseum, todos os demais são gratuitos, administrados pelo Smithsonian Institut, uma fundação criada exatamente para gerir esse parque museológica, ela própria sede de um belo museu (o Castelo) que também não consegui visitar.
Em todos eles, encarei filas, algumas menores, outras maiores, mas o que importa é assinalar que, em pleno verão escolar americano, muitas famílias lá estavam fazendo da visita aos museus e monumentos de DC o programa de férias. Isso na terra dos incontáveis parques temáticos e resorts.
Essa educação estética é um dos fundamentos que faz dos EUA um dos maiores mercados culturais do mundo. Em todos os museus, ainda que contem com generosas doações e patrocínios em sua maioria privados, haviam caixas de coleta de doação que estavam quase sempre cheias de notas de 2, 5, 10, 20, 50 dólares além de moedas. Em todos os museus existem inúmeras placas e outros elementos distintivos identificando doadores, mantenedores e patrocinadores.
Na base do sistema o entendimento de que o acervo cultural é um bem e uma responsabilidade coletiva. Eis aí a diferença, a enorme diferença, que nos separa da realidade norte-americana e que mostra porque no Brasil a cultura da gambiarra e do armengue é o que estrutura e sustenta nosso campo cultural. Somos um arremedo, um improviso, marcados pelo salve-se quem puder...
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